“A desvalorização da moeda brasileira, que contribui para o aumento dos preços, decorre mais da falta de credibilidade da política do governo do que por problemas de ordem econômica.”

Nesta semana o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a afirmar, como já fez em outras oportunidades, que o Brasil pode virar uma Venezuela rapidamente. “Para virar a Argentina, seis meses; para virar Venezuela, um ano e meio. Se fizer errado, vai rápido. Agora, quer virar Alemanha, Estados Unidos? [São necessários] dez, 15 anos na outra direção.”
Ontem, os dados da economia brasileira foram divulgados e mostram contração recorde de 4,1%, resultado do impacto econômico gerado pela pandemia do coronavírus, segundo dados do PIB (Produto Interno Bruto). É o maior recuo da série histórica com a metodologia atual, que começa em 1996, superando a retração de 3,5% registrada em 2015.
O Jornal de Beltrão entrou em contato com o economista José Maria Ramos, docente da Unioeste de Francisco Beltrão, segundo o qual, o ministro da Economia ao dizer que “o Brasil pode virar Venezuela” caso ocorram erros na condução das políticas econômicas, demonstra um decompasso das realidades econômicas e políticas da análise entre os dois países.
“Portanto, de acordo com a lógica do ministro, está havendo erros na condução da política econômica. E acrescentaria que a falta de confiança no governo deteriora ainda mais o poder de compra da moeda brasileira”, pontua.
Zé Maria salienta que uma das principais preocupações do ministro Paulo Guedes é reduzir o tamanho da dívida pública e melhorar o equilíbrio fiscal do País, mas para isso a principal proposta do ministro é a PEC 186/2019, conhecida como “PEC Emergencial”, que objetiva descaracterizar o serviço público, além de outros prejuízos em setores como educação e saúde.
“Por outro lado, medidas de desoneração fiscal, que privilegiam parcela da economia e a reforma tributária não são conduzidas na seriedade necessária e também não avançam. Por sua vez, o aumento da dívida pública não significa que o Brasil vai virar Venezuela; as principais economias do mundo promoveram e ainda estão promovendo políticas de estímulos ao fortalecimento do ambiente econômico, além de ampliaram gastos públicos no enfrentamento da pandemia, ou seja, a expansão monetária e o aumento da dívida pública não têm elevado as taxas de juros, bem como não tem comprometido os índices de preços.”
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Sem comparação
Ele lembra que o problema da inflação que afeta duramente a Venezuela não encontra paralelo com a economia brasileira em uma análise de curto prazo. “Os aumentos de preços havidos nos últimos meses, principalmente nos combustíveis e alimentos no Brasil limitam a capacidade de compra e ampliam as desigualdades econômicas e sociais, contudo esses aumentos decorreram de problemas conjunturais, que podem ser ajustados por meio de políticas econômicas, ou seja, o governo precisa agir.”
O economista reforça que a desvalorização da moeda brasileira, que contribui para o aumento dos preços, decorre mais da falta de credibilidade da política do governo do que por problemas de ordem econômica. “As ações do governo precisam ser objetivas e coordenadas no combate à pandemia e promover estímulos que promovam a capacidade de geração de emprego e renda, mas de forma transparente e confiável para resgatar a credibilidade e confiança nos investimentos privados.”