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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Coisas de mulher e coisas da Cris

A coluna semanal de Cristiane Sabadin Tomasi no Jornal de Beltrão trazia temas que viravam assunto em rodas de conversa. A jornalista está preparando um livro com seus artigos.

A jornalista Cristiane Sabadin Tomasi.

Entre 2005 e 2015, a história da jornalista Cristiane Sabadin Tomasi, 42 anos, foi escrita juntamente com a do Jornal de Beltrão. Por dez anos, Cris foi repórter do JdeB e pioneira em muitas áreas, como as editorias de decoração e construção civil. Mas uma das que mais marcaram tanto a jornalista quanto os leitores foi sua coluna semanal, Coisas de Mulher, publicada a partir de 2007, às sextas-feiras.

Todos os assuntos eram bem-vindos ao olhar sensível e bem-humorado da Cris. Temas corriqueiros, como família, educação e a própria rotina da jornalista, juntavam-se a alguns mais desafiadores, como sexualidade, relacionamentos e religião, e, após a distribuição do jornal, tornavam-se pautas em rodas de conversa. Houve até leitor que mandou e-mail para a Redação por não concordar com um artigo.

Após outras experiências profissionais — em TV, rádio e assessoria — e pessoais, como o casamento com Marcello Tomasi e a criação dos filhos João Pedro, 18 anos, e Maria Alice, 8, em fases completamente diferentes, Cris conta que amadureceu e algumas de suas opiniões daquela época já não são as mesmas; mas a leveza com que trata dos temas, sim. Como tudo faz parte de sua história, ela está preparando um livro com algumas colunas publicadas no Jornal de Beltrão. Confira mais detalhes na entrevista.

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Como você iniciou no jornalismo?
Meu primeiro contato com o jornal diário, com jornalismo, foi no Jornal Opinião, eu estava fazendo faculdade nessa época, 2003, 2004, e aí comecei a trabalhar ali. Foi a primeira vez que trabalhei em jornal impresso, jornal semanal de Beltrão, a Jô Abdala que me deu a primeira oportunidade de trabalho. Aí eu tive que parar por causa do João Pedro e fiquei um tempo em casa. Foi quando eu tive a oportunidade de conversar com o Ivo, fiz uma entrevista de emprego e deu certo, aí eu comecei a trabalhar no Jornal de Beltrão. Foi minha primeira experiência em jornal diário, foi muito enriquecedora, foi a grande virada de chave na minha carreira. Se eu não me engano, foi em março de 2005 que eu entrei no jornal e eu ainda estava na faculdade nessa época, quase me formando.

Quando iniciou sua coluna semanal? Como era seu processo para escrever? Quais temas abordava?
Eu comecei a escrever como colunista no Jornal de Beltrão em 2007, eu assumi a coluna, na época, do Hermógenes (Lazier), ele, infelizmente, faleceu naquele ano e foi também o cinquentenário da Revolta de 57, foi bem marcante esse ano, e como ele acabou falecendo, surgiu essa oportunidade. Não tinha um nome pra entrar na hora, pra suprir aquele espaço, e aí o Badger falou ‘poxa, Cris, por que tu não começa a escrever?’, ele que teve esse estalo. E eu disse ‘mas o que eu escrevo?’ Ele disse ‘olha, deixa vir do coração, assuntos que você gosta de escrever, coisas particulares, comportamento’. Eu comecei a pensar e falei vou colocar na coluna coisas que eu vivo no meu dia a dia, minhas experiências com a minha família, com meu filho — eu era mãe há pouco tempo, o João nasceu em 2002 —, então a minha coluna se transformou num bate-papo de mulher. Eu lembro que o primeiro nome que ela teve foi “Ponto G” e depois a gente já colocou “Coisas de mulher”. Então era mais um bate-papo mesmo, com audiência a maioria feminina, mas muitos homens também acompanhavam a coluna, e eu escrevi de forma bem natural. Um assunto no momento, alguma coisa que tava acontecendo, eu captava aquela informação e jogava na coluna. Ou assuntos mesmo do meu dia a dia, coisas que aconteciam na minha casa, relacionamento amoroso, enfim, foi mais ou menos assim que começou e eu abordava os temas de forma bem tranquila, sem nenhum tabu.

Alguns textos geravam polêmica, principalmente aqueles voltados à sexualidade.
Realmente, alguns textos davam polêmica porque eu tratava, geralmente, de assuntos relacionados à família, relacionamento amoroso, homens e mulheres e, claro, acontecia de ter o assunto sexualidade no meio. Mas eu sempre tentava tratar de uma forma muito respeitosa todos os textos, tinha muito cuidado com isso, apesar de o assunto ser polêmico, eu sempre tive esse cuidado de não agredir ninguém, de fazer um texto muito leve e gostoso de ler e eu acho que, na maioria das vezes, não gerava polêmica, gerava discussão, ascendia nas pessoas uma espécie de ‘opa, pera aí, eu me vejo nesse texto, acho que eu sou assim’ ou ‘não, pera aí, a Cris tá falando de uma pessoa que eu não enquadro’, sabe? Mas falando em polêmica, tem dois que marcaram a história, é um texto que eu falei, na época, do tamanho do pênis, do órgão genital masculino, que sempre foi visto como um tabu para os homens, e eu coloquei na coluna de forma muito clara que tamanho não importa, e até levei em tom de brincadeira para mostrar para os homens que não é só o tamanho que importa, as mulheres levam em consideração muitos outros aspectos na hora do relacionamento. E eu lembro que alguém não gostou, chegaram até a mandar um e-mail para o Ivo, dizendo que não era um assunto que se deveria tratar na página 2 do jornal, porque era uma página muito tradicional e importante no jornal, valorizada, que não merecia esse tipo de assunto, enfim. Mas, de certa forma, foi um marketing positivo, sinal que as pessoas estavam lendo. E outro texto que causou certa polêmica também foi do aborto. Na época eu escrevi colocando minha posição defendendo a vontade da mulher de fazer ou não, e muita gente também foi contrária, claro, muita gente também foi favorável, mas hoje esse é um dos textos que, não é que me arrependa, porque tudo faz parte da minha história, mas eu mudei de opinião, sou totalmente contra o aborto hoje. Até quero resgatar essa coluna para rebater tudo que eu escrevi. Mas a gente vai amadurecendo, todas as colunas, todos os artigos que escrevi fazem parte da minha história e isso me deixa muito feliz, muito orgulhosa.

Hoje, preparando um livro sobre esse material, suas opiniões mudaram? Como você encara sua evolução como mulher e profissional?
Desde 2015 eu tenho essa vontade de reunir a maioria dos artigos e lançar um livro, como se fosse uma memória de tudo que eu escrevi não só no Jornal de Beltrão, mas no Diário do Sudoeste, que quando eu fui pra lá em 2015, eu mantive um pouco as colunas lá também. Então eu gostaria de ter todos esses rascunhos transformados em um legado, que seria um livro. E sim, as minhas opiniões mudaram muito. Várias coisas que escrevi eu não penso da mesma forma, o aborto é um desses temas; relação também a muitas coisas que eu falava de homens e mulheres eu tive um amadurecimento, depois do casamento, a gente amadurece no processo de relacionamento, essa relação de parceria e tudo mais. Mas, como você disse, eu encaro como uma evolução como mulher e profissional, como ser humano, faz parte do amadurecimento. Algumas coisas que eu escrevi lá atrás eu dou risada hoje e falo ‘meu Deus, como que eu escrevi isso?!’, mas faz parte da minha vida. Não quero mudar os textos, minha ideia é publicar na íntegra, como eu escrevi lá atrás, justamente para mostrar que tudo faz parte do processo. A gente pode mudar de opinião, e deve mudar de opinião, ninguém precisa dizer que concorda com um assunto a vida inteira só para não aborrecer aquela parcela de pessoas que acha que você levanta aquela bandeira. São coisas bem pontuais que eu amadureci, mudei, mas a grande maioria eu continuo pensando daquela forma e sou muito feliz com o resultado de tudo que foi feito ao longo desses anos de trabalho.

Meios em que trabalhou
Jornal impresso: Jornal Opinião e Jornal de Beltrão (Francisco Beltrão) e Diário do Sudoeste (Pato Branco).
Revista: Gente do Sul (JdeB) e Vanilla (Diário do Sudoeste)
Televisão: programa Mercado e Construção na TV Beltrão, de 2010 a 2013.
Coordenadora de comunicação na Prefeitura de Balneário Camboriú (SC), de janeiro a junho de 2020).
Rádio: jornalista e locutora da Rádio Ativa FM em Pato Branco de março de 2017 a setembro de 2018. Retornou à bancada do Ativa News em fevereiro de 2021, trabalhando de forma remota (on-line).
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