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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Em um setor predominantemente masculino, mulheres desafiam as ruas como motogirls

Geral

Jeniffer Daniela Paraná pretende criar uma empresa para entregas e dar espaço para mais mulheres seguirem no setor.

O anúncio no Facebook que pedia um motoboy com urgência mexeu com Jenifer Daniela Paraná, na época com 23 anos. Há dois meses desempregada e vivendo uma pandemia ao lado do esposo e dos dois filhos, as contas não fechavam. A casa era mantida com a renda de R$ 900 do marido, aposentado pelo exército. Mas isso não era suficiente. Com o celular do companheiro, se fez então passar por ele até conquistar a vaga oferecida. A surpresa para o patrão só veio naquele dia de março de 2020, quando a olhos altivos a questionou: “Mas você vai dar conta?” E desde então, são dez meses provando que lugar de mulher é onde ela quiser.

Só em Francisco Beltrão, a estimativa de quem trabalha no setor de entregas é de centenas de motoboys, e pelo menos dez mulheres trabalhando como motogirls, em uma profissão predominantemente masculina.

A chegada da pandemia também fortaleceu esse setor. Devido ao isolamento social, os deliverys foram a alternativa para que restaurantes se mantivessem ativos. Além dos motoboys, as motogirls encontraram ali uma oportunidade de carreira.

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“Se eu não tivesse me passado pelo meu marido não teria começado”

Jenifer é uma jovem miúda, de 1,53 de altura com pés que quase nem alcançam o chão quando está em cima da sua moto Honda. Mas a fala forte, a postura ereta e decidida a fizeram galgar espaço em um espaço onde a grande maioria continua sendo masculina.

“Acho que se eu não tivesse me passado pelo meu marido não teria começado”, enfatiza. “Na época não tinha muitas mulheres trabalhando com as entregas ainda. O medo deles [contratantes] é aquele que nem sempre falam: ‘mulher no volante, perigo constante’. Aquele preconceito que eles têm contra a gente. E até ele [empregador] falou pra mim: ‘Meu Deus, tem certeza que vai dar conta de entregar?’ E isso acabou sendo um desafio a mais, pra provar que eu iria dar conta sim, e ele me encorajou também.”

No início, segundo Jenifer, o maior desafio foi o desconhecimento da cidade. Isso porque motoboys mais antigos já conhecem os caminhos, bairros e os atalhos para chegar mais rápido aos destinos. Coisa que demorou para Jenifer conhecer. “Eu me perdia, eu tinha que voltar lá na loja, ele [patrão] que conhecia mais me explicava, porque até então ele estava fazendo as entregas porque estava sem motoboy. E depois disso que eu comecei a marcar os nomes das ruas. Hoje eu conheço melhor Beltrão que ele”, conta.

Mesmo com uma baixa estatura e mal alcançando o chão quando está em cima da moto, Jeniffer se desafia todos os dias e mantém viva a paixão pelas entregas.

Da empresa que lhe deu a oportunidade, Jenifer foi para outra, onde hoje está fixa. O valor das entregas também se tornou atrativos que a fizeram se manter no setor. Alguns dias, chegava a ganhar, bruto, R$ 200. Na ponta do lápis, em dez dias isso rende R$ 2 mil. “E nunca que você iria ganhar isso em uma empresa fichada”, diz Jenifer.

A renda permitiu que a família saísse do sufoco, pagasse um consórcio e adquirisse uma nova moto, a Honda com a qual Jenifer trabalha.

Ainda no ano passado, ela abriu uma MEI, para dar garantias ao seu trabalho. Hoje, ela já está em patamar de ME e pensa em empreender no setor. “Quero abrir uma empresa, ter um grupo pra trabalhar pra mim, ter um grupo fechado, pra que eu possa administrar a empresa e eles fazendo a entrega”. Ela ainda pensa em fazer um grupo só de mulheres, dando oportunidade para que outras, como ela, possam galgar espaço nessa área.
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