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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

“Dou muito baile em outros que tão aí”

Geral

Jaqueline Cavarzan tem 36 anos e acredita que foi uma das primeiras motogirls do município de Francisco Beltrão.

Jaqueline Cavarzan, de 36 anos, acredita que foi uma das primeiras motogirls do município de Beltrão. Ela trabalhava como segurança, quando começou a fazer entregas para uma outra empresa. De repente, ela estava ligada ao ramo de peças automotivas para motos e, ao lado do marido, resolveu empreender e criar a própria empresa de entregas.

A Beltrão Express, nascida em 2019, também foi impactada com a chegada da pandemia, mas de uma forma diferente que as empresas que fecharam as portas. Dos três funcionários que atuaram por anos, a equipe aumentou para 23, com tabela própria e valorização do trabalho dos entregadores. E ainda que seja responsável pelo local, Jaqueline não deixou de fazer entregas.

“É meio complicado. Eu ainda consigo fazer entregas e cuidar do celular, meu esposo não consegue. Ele até me deu um intercomunicador, porque eu levei uma multa dos guardinhas por causa do celular. Agora, não. Automaticamente ligo o bluetooth e encosto aqui [na orelha, colado ao capacete]. Às vezes, quando tá muito corrido, mando áudio mesmo pra eles, pergunto quem tá na vez e vai”.

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O intercomunicador acoplado no seu capacete fica ligado ao celular, por meio do bluetooth. Assim ela pode atender a chamadas das empresas que solicitam a entrega e notificar ao motoboy ou motogirl que está disponível. Isso garante a agilidade no serviço.

Dar conta das multitarefas pode parecer desafiador, mas para Jaqueline é uma paixão. Não à toa, além de entregas para Beltrão, ela atende clientes em outras cidades, não só do Paraná, mas até do Rio Grande do Sul, fazendo longas viagens em cima de sua moto. Por isso, sem falsa modéstia, quando perguntada sobre a presença feminina dentro de um setor historicamente masculinizado, ela diz: “Tem muitos que ‘ah, é mulher, será?’. Particularmente, eu dou muito baile em outros que tão aí que querem ser os tal.”

O plano de Jaqueline, ainda vai além: Transformar a Beltrão Express em uma transportadora. Enquanto trabalha nesse sonho, fortalece o ramo e também possibilita que outras mulheres, assim como ela, integrem a equipe e se tornem entregadoras.

Intercomunicador acoplado no capacete de Jaqueline permite que ela organize as entregas e ainda continue trabalhando as ruas.

“Pretendo continuar na profissão”
Jéssica Sibila de Souza Cella, de 29 anos, foi convidada pelo marido de Jaqueline para ingressar na Beltrão Express. O convite veio ao acaso, enquanto fazia uma entrega para o restaurante da cunhada. Era outubro do ano passado. Após ficar desempregada ao sair de uma loja, onde trabalhava como vendedora, ela se ofereceu para a cunhada para fazer as entregas de marmitas. Por ser em um horário curto, ela também poderia dedicar mais tempo ao filho, que devido à pandemia teve as aulas presenciais canceladas.

Foram 15 dias de trabalho para que o marido de Jaqueline a notasse na rua e a convidasse para somar na equipe. “Sempre fui apaixonada por moto, porém nunca tinha pensado em trabalhar com entrega, mas estou adorando”.

Por ser mãe, Jéssica também pode adaptar os horários para permanecer mais tempo com o filho, o que garante a ela autonomia no serviço. Hoje, ela trabalha das 11 às 13h, para um restaurante, e das 18h à meia-noite, para a Beltrão Express.

Jéssica não pensa em mudar de ofício. Embora nunca tenha sonhado, o gosto pela moto e o apreço pela liberdade lhe motivam a seguir na área. Hoje ela é conhecida por andar com tranças coladas ao capacete. E vê barreiras que já dividiram os homens e mulheres sendo rompidas com a ascensão das gurias no setor.

“Os clientes várias vezes falam: ‘Nossa, que legal, uma mulher’. Ou: ‘Nunca tinha vindo uma mulher entregar aqui’. A maioria dos clientes comenta sobre meu capacete também pelo fato de ter tranças. Teve um cliente que falou pra mim: ‘Agora sim, era só o que faltava mesmo, até essa profissão vocês vão roubar dos homens, lascou pra nós’”, e ri ao lembrar.

Pandemia impulsiona setor
Motogirl há pouco mais de um ano, Bruna Gonçalves dos Santos, de 27 anos, deixou o trabalho em uma autopeças para se dedicar às entregas em uma transportadora com o marido. “Hoje em dia eu não troco essa profissão pra trabalhar em um lugar fechado. Super me adaptei. Gosto bastante, prefiro estar na rua, fazendo meus horários”, aponta.

Na pandemia, o casal que atua com e-commerce, levando os pedidos feitos pela internet até os clientes, viu o serviço dobrar, o que fez Bruna se fixar ainda mais no setor e projetar a ascensão das mulheres na atividade.

Foto: Isadora Stentzler/Gente do Sul

“Dobrou o volume de entregas diárias. Queria achar uma mulher que fizesse entregas e que não estivesse trabalhando. A maioria que eu encontrei já estava trabalhando fixo em algum lugar, mas acredito que a pandemia ajudou muitas mulheres a se envolver nessa área”, aponta.

Todos os dias, as entregas chegam entre 16h e 18h e o casal mais uma equipe fazem a separação dos produtos e traçam a estratégia das rotas de entrega, que serão feitas a partir da manhã do dia seguinte. À noite, ela faz entregas para restaurantes. Embora nunca tenha sonhado com esse serviço, assim como as demais motogirls ouvidas pela reportagem, foi onde encontrou sua autonomia e liberdade e de onde não pretende sair.

“Pretendo seguir na profissão. É uma coisa que gosto, que me identifiquei muito. Temos uma microempresa de motofrete que a gente presta serviço em alguns lugares, fora o nosso serviço do dia. E eu pretendo ter uma segunda opção em mente, caso venha acontecer alguma coisa e eu tenha que parar com a profissão. Mas a princípio é o que eu quero, é o que gosto. Pretendo continuar nessa profissão, sim.”
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