Geral
Vejo, da minha janela, no terreno do vizinho, um pé velho e desfolhado de laranja amarela. Lá no alto está a última fruta cítrica da época; porque ninguém conseguiu alcançá-la.
Olho-a com pena por ser a derradeira e com vontade, porém, também com satisfação porque há um sabiá fazendo a sua refeição. Mas, ah… de tanto bicar a laranja desprendeu-se e foi parar no chão.
Pena do sabiá!
Eu posso esperar o tempo passar. Depois do inverno virá a primavera e com ela as folhas novas e as flores belas. Daí, então, na outra estação terei muitas laranjas próximas da minha janela, mas não ao alcance das mãos.
A pandemia tem me tirado parte da alegria, todavia, quando ouço a juriti e vejo a passarada naquela algaravia anunciando o fim do dia, entro em sintonia. Logo tudo silencia, o sol desaparece e o céu escurece. Recolho-me e, sozinho, falo com Deus sobre a inevitável curva do azar ou da sorte: a morte.
Hoje, a última laranja morreu; já o sabiá e eu…
