O comunicador Júlio Vendramini, da Rádio Educadora de Dois Vizinhos, é filho de caminhoneiro e transmite isso no Programa Recanto Sertanejo.

O comunicador Júlio Vendramini, da Rádio Educadora AM, de Dois Vizinhos, cresceu ouvindo histórias da estrada do seu pai: o caminhoneiro Nelson Didea. Isso fez com que ele sempre fosse apaixonado por caminhões. Aproveitando a semana do Colono e Motorista, no seu programa, o Recanto Sertanejo, ele está trazendo histórias da estrada para homenagear todos os motoristas. Um dos participantes do quadro especial foi justamente Nelson Didea, que lembrou uma situação difícil que passou quando estava começando a viajar. “Quando eu tinha uns 20 anos, logo depois que comecei a viajar, eu estava lá em Rondonópolis com um [caminhão] 141, V8, ano 1981. Carreguei com destino a Ponta Grossa. Chegando na Serra do Cadeado, perto de Ortigueira (PR), quebrou o eixo piloto. Era umas 16h. Eu fiquei no acostamento, na tal de bica d’água. Sem recurso, sem vizinho perto, sem telefone, era só orelhão até que anoiteceu. Fui na bica d’água, tomei um banho e já fiquei sem comer. No outro dia, acordei cedo e até onde tinha um telefone dava uns cinco quilômetros. Comecei a andar e uns dois mil metros, depois encontrei um morador e fui de carona com ele num cavalo. Depois, pedi o cavalo emprestado pro vivente. Cheguei na vila, achei um orelhão e pedi o socorro. Aproveitei para pegar uma marmita lá, devolvi o cavalo para o morador e voltei para o caminhão”, lembrou.
Continuou no local
Os mecânicos levaram a peça para arrumar em Ponta Grossa e o problema, para Nelson, continuou. “Eles tiraram a caixa e eu fiquei lá. Tomando banho na bica d’água, comi de meio-dia, fiquei de noite sem comer, no outro dia sem café, no outro almoço parou um caminhoneiro carregado de lenha, eu dei 15 cruzeiros para ele comprar uma marmita e mandar por alguém e até hoje não chegou nem a marmita, nem o dinheiro. À noite, eu com fome, peguei o facão que tinha no caminhão e fui cortar dois coqueirinho pra comer palmito. Fiquei até no outro dia só comendo palmito e tomando água na bica”, completou. Ser caminhoneiro, agora, com mais tecnologia, tem sido mais fácil. “Hoje tá tudo mais fácil, tem telefone celular. Os motoristas mais velhos sabem como era. Cada vez que passo lá, naquele lugar, eu lembro onde parei. Tem horas boas de motorista e horas ruins. Horas que se diverte e outras que passa até fome. A classe dos motoristas tem que ter bastante gosto para aguentar no mundão de Deus” disse.
Prova para fugir da recuperação e viajar para a Bahia…
Quem também contou sua história para Júlio Vendramini foi o caminhoneiro Michel Fioroni Vieira. Filho de caminhoneiro, ele cresceu sonhando em seguir a profissão. “Nascido e criado em cima de caminhão, desde criança, sempre quis pelear no ramo. Graças a Deus conseguimos, tentei fazer outras coisas, mas não deu certo. Tenho 15 anos de carteira assinada de motorista, fora o tempo de ‘caroneiro’. Eu lembro uma vez que eu estava na quinta série, peguei recuperação em inglês por causa de 1,2 pontos. A professora me deu a notícia na sexta de tarde e o pai com o caminhão carregado para Salvador (BA). Pense na correria. Era telefone pra cá, pra lá, atrás da professora até que a abençoada me deu uma aula na sexta à noite, fez uma prova e eu consegui os dois pontos que precisava para ir viajar com o pai faceiro. Ia eu, o pai, a mãe e a minha irmã. Era sofrido, mas divertido. A gente era feliz”, lembrou.
