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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Com faturamento de R$ 41 bi, mercado pet já vende mais que linha branca

Geral

O segmento dos gatos é o que mais vem crescendo. Na foto, Bartolomeu, seus tutores são Murilo e Sedinei Fabris.

Manuela, de 6 anos, ficou muito triste com a suspensão das aulas na escolinha, ano passado. Estudante do último ano da Educação Infantil, a menina tinha acabado se ser matriculada numa nova escola quando a pandemia começou. Filha única, sem o contato com os antigos colegas, e privada da convivência com os novos, começou a ficar nervosa e a chorar com facilidade.

Manu sempre foi apaixonada por cachorros, mas a mãe, Dalila de Souza Bonfim, 42 anos, relutou o quanto pode em trazer um animalzinho para casa. “Eu era complexada com cachorro desde pequena, tinha medo.” “Mas achei que seria egoísmo não atender a Manu neste momento tão difícil.”

A solução foi pagar R$ 2 mil por um cachorro da raça shih tzu, que solta pouco pelo e era o mais indicado para a menina, que tem rinite alérgica.

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Dalila estabeleceu uma série de regras para Floquinho, como não subir no sofá ou deitar na cama. Todas caíram por terra rapidamente. “Hoje nas videochamadas para ver a Manu e o meu marido, quando viajo a trabalho, também quero ver Floquinho, virou membro da família”, diz a professora, lembrando que a convivência com o cãozinho ajudou Manu a superar a perda da avó paterna, no início do ano.

O amor de famílias, como a Bonfim, por seus bichinhos de estimação ajudou o mercado pet a movimentar R$ 40,8 bilhões no ano passado, segundo o IPB (Instituto Pet Brasil), que acompanha os setores de criação, produtos e serviços para pets. O montante é maior do que fatura o setor de linha branca (fogões, geladeiras, freezers, máquinas de lavar, por exemplo), que movimentou R$ 29 bilhões em 2020, segundo a consultoria Euromonitor.

“As pessoas queriam uma companhia durante o isolamento, sejam para elas mesmas ou para os filhos, que ficaram sem ir à escola”, diz o presidente do conselho consultivo do IPB, Nelo Marraccini. Levantamento do IPB aponta que houve um aumento de 50% no número de animais adotados nas capitais do Sudeste durante a pandemia.

No mesmo período, segundo uma outra pesquisa, da consultoria Bain & Company, 18% dos consumidores brasileiros adotaram um pet. Hoje, a população de animais domésticos no Brasil soma 144,3 milhões, entre cães, gatos, peixes e aves ornamentais, répteis e pequenos mamíferos.

“O segmento dos gatos é o que mais vem crescendo.” “Possivelmente por ser um animal que se adapta bem a ambientes pequenos e é mais independente em relação ao cão, não precisa sair para passear, por exemplo.”

Ao tratar o pet como membro da família, o consumidor aumenta os gastos: este ano, segundo o IPB, o setor vai faturar R$ 46,5 bilhões, uma alta nominal de 14%, sem descontar a inflação.
Alimentação e saúde são os investimentos mais relevantes: só em clínicas e hospitais veterinários devem ser gastos R$ 8,3 bilhões este ano, segundo o IPB. E se, no passado, os tutores preparavam a comida para o cão com quirela, junto com as sobras do almoço ou da janta, agora existe uma preocupação com alimentação balanceada. “O dono vegano vai comprar ração vegana para o seu pet, porque acredita que isso é o melhor para ele.”

A BRF, gigante dos alimentos, dona de Perdigão e Sadia, sabe disso. A empresa entrou no mercado há quatro anos, com a marca Balance. Mas este ano a aposta mais do que dobrou: por meio da subsidiária BRF Pet, o grupo investiu R$ 1,35 bilhão na compra de duas fabricantes de rações, a Mogiana Alimentos e o Grupo Hercosul. As compras fizeram a BRF Pet atingir 10% de participação em volume no mercado de ração, que tem forte presença de multinacionais como Mars (dona das marcas Pedigree, Royal Canin e Whiskas) e Nestlé (Purina).

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A Nestlé Purina, por sinal, acaba de anunciar investimentos de R$ 1 bilhão em um novo parque industrial em Santa Catarina. Além de abastecer o mercado local, a nova planta vai exportar ração para Europa, Estados Unidos e outros países da América Latina. Em maio, a empresa já tinha anunciado um investimento de R$ 120 milhões para expandir em 30% a produção em Ribeirão Preto (SP).

“O mercado pet é uma das grandes oportunidades de crescimento da companhia para os próximos dez anos”, diz Marcel Sacco, vice-presidente de novos negócios da BRF. As rações são o maior segmento do mercado pet, respondendo sozinhas por vendas de R$ 24,5 bilhões, este ano, segundo o IPB.

Para a BRF, a produção de ração é vantajosa porque explora a verticalização da sua cadeia. A empresa conta com a BRF Ingredients, uma unidade de negócios que tem como principal cliente a própria companhia. Há um reaproveitamento dos resíduos industriais (coprodutos) de 32 fábricas, que são utilizados como matéria-prima em novos itens, como farinhas, gorduras animais e proteínas hidrolisadas para nutrição animal. “É uma maneira de alavancarmos a economia circular.” Com as duas aquisições, a BRF passa a trabalhar desde marcas de alto valor agregado até as básicas. Estão no seu portfólio nomes como Guabi Natural, Gran Plus, Faro, Herói e Cat Meal.

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