Em julho, dono do mercado pagava R$ 4,50 o quilo; em outubro, R$ 6,50 (+44,5%).

Carnes consideradas de segunda e terceira tiveram aumento de procura nos últimos meses no Brasil. Dorso e pé de galinha, que foram símbolos de um período difícil da economia brasileira, de descontrole inflacionário, estão voltando às gondolas dos açougues e supermercados.
O dono do mercado de um bairro de periferia de Francisco Beltrão disse que vende em média uma caixa de pé de galinha por semana, em torno de 70 quilos por mês. “Quem compra diz que é pra fazer sopa, mas a gente não sabe como consomem.” O que é pior é que o pé de galinha também teve um aumento considerável preço.
Em julho, ele (dono do mercado) pagava o quilo de pé de galinha R$ 4,50, em outubro chegou a custar R$ 6,50 (+44,5%). No início desta semana o preço retraiu para R$ 5 o quilo. “Os preços continuam aumentando, está muito preocupante.” O quilo do pé de galinha ao consumidor final pode chegar perto de R$ 10.
Denilso Baldo, executivo da Rede Forte de Supermercados, diz que a escalada de preços dos alimentos está associada a uma série de fatores. Entre eles, resquícios da pandemia de Covid-19, que retraiu a economia mundial; crise climática, que elevou o custo da energia elétrica; dólar em alta; baixa produção, que reduz a oferta e eleva preços; combustíveis subindo a todo momento; e a alta demanda da China, que além da soja está comprando em grande quantidade a carne brasileira.
Tudo isso, somado ao baixo poder aquisitivo da população de baixa renda afetou a demanda por carne, especialmente a bovina.
Existem alternativas à carne bovina, pontua Denilso Baldo
Denilso acrescenta que “nos últimos meses ainda sem o auxílio do Governo Federal, que caiu pela metade, isso também afetou o consumo das famílias e o pessoal tá passando dificuldade”. Na opinião dele, o Brasil ainda tem muitas outras alternativas à carne bovina. “Ainda é barato, ainda é acessível, no meu ponto de vista, o frango e o suíno, são proteínas animais muito boas, que substituem a carne vermelha.”
O diretor da Rede Forte acredita que o que está impedindo o povo de comer melhor é justamente o preço do botijão de gás, que quase dobrou de valor nos últimos meses, a energia elétrica e os combustíveis. “Esses três itens são os que mais estão consumindo os recursos das famílias brasileiras de baixa renda. Quem está na necessidade de pé de galinha e o osso é porque está na extrema pobreza”, salienta.
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Perda de poder aquisitivo pela inflação do país
O economista e professor da Unioeste/Francisco Beltrão, José Maria Ramos, lamenta a situação do Brasil. “Feliz deste que consegue comprar frango e bife. Porque tem muita gente que está é no pé de galinha e em osso raspado. A situação não representa um país que é um grande exportador de alimentos.”
Segundo ele, parte disso é reflexo da perda de poder aquisitivo das famílias, que veem sua renda sendo corroída pela inflação e com isso precisam buscar alternativas de proteína animal mais baratas. Em 12 meses, o preço da carne bovina de primeira aumentou em média 27% em Dois Vizinhos, 26,5% em Francisco Beltrão, 26% em Pato Branco