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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

João Batista de Arruda, um bancário paulista que veio pra ficar

Chegou como bancário em 1970, elegeu-se prefeito por duas gestões e deputado também por duas gestões. Obras históricas no município são de sua administração e, na região, é uma pessoa muito lembrada por sua atuação como parlamentar. Uma grande e bela história de um filho de família humilde e trabalhadora.

João Batista de Arruda no campo do Complexo Arrudão (11-11-2021).

Paulista de Pirapozinho (nasceu em 16-3-1938), é o último dos sete filhos de Ana Tomazi da Silva e o agricultor João Cardoso de Arruda (hoje é nome de rua, no Bairro Miniguaçu).

Quando começou estudar, a família de João Batista de Arruda tinha mudado para o Norte do Paraná (Mandaguari), atraído pela cultura do café. Todos trabalhavam. “Eu fui tudo, sempre trabalhei, sempre estudei na escola pública, só no finalzinho eu estudei no colégio das irmãs. Mas eu fui engraxate…”

Aos 12 anos, começou a trabalhar numa gráfica. Depois no tabelião. Aos 14, já com o Primário completo, iniciou, como contínuo, longa carreira de bancário. No Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco. O registro em carteira é de 1º de agosto de 1952.

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Como gerente de banco, residiu em muitas cidades do Paraná: Paranavaí, Monte Castelo, Cambira, Apucarana, São João do Ivaí, Barão de Luciana, Jesuítas (já no Banestado), Cascavel, Laranjeiras do Sul, Toledo e, finalmente, Francisco Beltrão, em 1970. Em 1975, chegou a ser transferido para Cascavel outra vez, mas um movimento político o manteve em Francisco Beltrão para ser o candidato a prefeito. Ele não queria, a esposa era contra. Mas acabou aceitando o desafio, venceu a eleição e começou sua carreira política.

Quando trabalhava em Monte Castelo, casou, dia 7 de outubro de 1961, com a professora Maria de Lourdes Villar Arruda (de Mandaguari), a mãe de seus cinco filhos. Ana Magda, Ana Marieli, Júnior, Ana Magali e Ana Magdalena

Esta história toda, com muitos detalhes, foi contada por seu João ao Hélio Alves, que o entrevistou para o programa Papo na Varanda da Rádio Ampere, dia 23 de outubro passado, em sua residência, na Rua Curitiba, Bairro Presidente Kenedy. Segue a entrevista, com respostas completas.

– O senhor foi candidato a prefeito de Beltrão em 1976.
– O governo tinha interesse na eleição, e esse grupo tinha muita gente, eu não era afiliado nem nada. “Eu não quero, não, vô pra Cascavel já até matriculei as crianças.” Aí eles foram falar pro governador, que era o Jayme Canet Jr, e o Afonso Camargo que era o presidente do Banco e o secretário da Fazenda. Aí começaram a me pressionar através da diretoria pra que eu ficasse aqui e fosse candidato a prefeito. Falei: “Ah, não, eu posso ficar, tudo bem, mas só que candidato eu não sou, nunca fui.” Aí fui, naquela conversa, naquela pressão, até que um dia eu falei: “Eu só vou se o vice for uma pessoa que nunca foi político também, que daí duas pessoas entram junto, né. Só aceito se for o Jorge Camilotti.” Sabia que o velho (Angelo Camilotti, pai do Jorge) não ia deixar, né, aí, no fim da história, cara, eu fui candidato. Eu falei: “Só uma coisa, eu vou perder a eleição, porque nunca fui político, mas eu quero ficar mais dois anos aqui na agência pra não dizer que eu perdi a eleição e fui embora”. “Não, tudo bem e tal, você fica o tempo que quiser.” Aí fui candidato, ganhei a eleição.

– Ganhou do Severino Sartori. Era chapa forte?
– Era fera, né, o Severino foi vereador (69-72 e 73-76) e era o contador da Prefeitura. Aí eu falei outra coisa: “Eu não posso perder o salário, quero continuar como funcionário do banco”. “Não, tudo bem, você continua recebendo seu salário como gerente.” Aí continuei recebendo salário do banco, não recebi nada da Prefeitura.

– Ah, não ganhava nada da Prefeitura?
– Não, ganhava eu acho que a verba de representante, era um pouquinho. E fui bem, graças a Deus, prorrogaram por mais dois anos (até 1982), fui dois anos no governo do Canet, que foi um governo que me ajudou muito.

– Muito, trouxe muita coisa, né?
– Quase toda semana ele tava aí de helicóptero e a gente ia pro interior, aqueles políticos iam comigo. Juntou um grupo de pessoas que eram lideranças que nunca tinham participado de política e eles me ajudaram assim. Saíram comigo, eu nunca ia sozinho pra fazer campanha, eu não conhecia nada, não conhecia estrada. Aí pro interior, pra ir em uma festa, eu chegava lá de helicóptero e era uma festa. Foi assim que eu tive meu primeiro mandato de prefeito e durante seis anos eu pude trabalhar.

– Foi na época que veio a Sadia pra cá que o senhor ajudou a trazer?
– Foi no final que a gente queria trazer um frigorífico de suínos, vinha o ministro da Agricultura aqui, inaugurar uma estação de suíno e mais um monte de coisa, indústria de semente, aí veio o ministro, e aí veio o Canet. E aconteceu que o Canet sempre que quase foi um…

– Um pai pra Beltrão, né?
– General, né. Até esse tempo falei com o prefeito, foi mais ou menos nessa época que tamos agora, esse esforço que o Governo do Estado e o presidente da Câmara…
– Assembleia do Traiano.
– É, tão fazendo pra Beltrão. Aquele tempo não tinha nada, se falava de Beltrão, “ah, fica perto de Pato Branco”, achava triste. Então eu falei: “Eu não quero nada, só quero que o senhor me traga algo pra Pato Branco e dê pra Beltrão, nós somos mais ou menos iguais. Agora, se for instalar um poste em Beltrão, tem que ir o cara de Pato Branco lá instalar um poste em Beltrão, instalar uma água, quer dizer, não tinha nada, agricultura, não tem nada.
Aí ele chamou o cara da Casa Civil, era professor, e ele falou: “Olha, quando você falar em Pato Branco, tem que falar em Beltrão; quando levar uma coisa pra Pato Branco, tem que levar pra Beltrão, tá bom?”

Aí voltei. Até hoje, você vê uma placa em Pato Branco, em tudo que é lugar, e não tinha em Beltrão lugar nenhum. Foi uma história bonita mesmo.


– Bonita e de muito trabalho.

Convidamos todo o pessoal da Sadia, da Perdigão, na época, da Chapecó, o que tinha sido o prefeito da cidade, ele sempre estava comigo ajudando e tal. Bom, de todos que vieram aqui quando veio o ministro só o sobrinho atendeu nosso pedido. Aí começamos a conversar e tal, fui preparando pra fazer o frigorífico de suínos, aí tava tudo encaminhado. Um dia ele chegou, veio com o Sadi (de Marco): “Não vou conseguir fazer o frigorífico de suíno porque demora muito até você criar a estrutura de animais”. “Tudo bem, vamos fazer então o frigorífico de aves”, que tem os árabes lá, meu genro foi lá e estava na exportação de aves, que ele não tinha gente, tinha o filho que não queria nada e tinha um genro dele que era médico. Então tá, a Sadia topou assumir a administração do frigorífico de Chapecó e o que aconteceu depois que veio a Sadia, graças a Deus, né? Então voltei pra ser candidato, depois deputado.


– O senhor foi deputado por dois mandatos, foi 1º secretário da Assembleia, ajudou a criar os municípios de Pinhal de São Bento, Nova Esperança, Flor da Serra, Saudade do Iguaçu, entre outros que o senhor ajudou também. E o senhor fez uma votação, eu me lembro que, em Ampere, a família Parizotto, pessoal trabalhava pro senhor pra deputado estadual, quer dizer, o senhor fez uma amizade muito grande na região, né, seu João?

– É que, na época, quando era Estado, só existia Beltrão. E não existia esses lugares. Então essas lideranças vinham aqui em Beltrão e a gente ia lá e tal, através do Banco do Estado que eu fui fazer as bandeiras lá em Marmeleiro. Então tinha essa, né, em todos os municípios. Daí o banco foi abrindo Barracão, abriu lá em Planalto. Mas essas amizades eu sempre cultivei. Quando fui deputado, foi melhor ainda, que aí eu pude ajudar mais. Foi a região toda. Foi muito bom como experiência que eu pude ajudar. Até hoje os caras me cobram de eu ter deixado de ser deputado.


– O senhor deixou de ser deputado pra vir disputar a eleição de prefeito.

– É, eu era, terceiro cargo, eu era secretário. Primeiro secretário da assembleia que dava bem, tinha até condições de ser presidente pra ele terminar o mandato do Aníbal, como de fato o Aníbal foi pra ser o primeiro secretário depois presidente. Mas foi assim, o pessoal aqui sendo companheiro político, “você é político por muito tempo. Eu sei, eu te conheço”. Foi vereador, foi prefeito de Ampere, quer dizer, lutou pra ser prefeito, mas quantas eleições. Então, tem aquele grupo que às vezes a gente se sente grudado mesmo, sabe? Humanamente, porque o Nelson (Meurer) era o prefeito, aí o cara falou “olha, só tem você pra ganhar a eleição, se você não vem, nós vamos perder”, não sei o que e tal. Começou naquela época, e eu me acertava mais na área administrativa. Acabei aceitando e vencendo as eleições.

Minha vida é essa, sabe? Depois eu voltei pro banco antes do mandato. Eu voltei pro banco como gerente e tinha pouco de Maringá. Aí, a diretoria no banco, que aí ganhou a oposição; eu dizia pra mim: “Não, fica na agência, João, enquanto fica de regional, aí o Russo volta pra agência e fica de regional. Falei: “Seria meu sonho, cara, mas eles não vão me deixar aqui”. “Não, vai, tenho certeza, se vai sair daqui dia 15, a mudança dia 16, estou na rua já”. Aí eu falei: “O que é que você quer?” Eles iam inaugurar Campo Grande e Cuiabá, então deixei pra bem longe que daí não tem nenhum ramo e tal. Aí o presidente chegou lá antes de eu entregar o cargo, no começo do ano, e falou: “Nós não vamos conseguir inaugurar nem Cuiabá nem Campo Grande, então vamos dar uma agência pra você.”
Aí ele falou: “Maringá”, falei: “poxa vida, será?”, aí o outro dizia: “não, fica lá mesmo”, mas eu falei “não, eu não fico lá, bem que eu gostaria”. Aí fui pra Maringá, na agência do Brasil, agência boa, tinha duas agências; então, eu saí em fevereiro, e saí daqui já assumi lá.

Daí eu trabalhei pro candidato do governo. Eu não tinha como não trabalhar pra ele, se ele ganhasse eu tava no céu.

Quando chegou junho, que eu tava me preparando pra me mudar pra lá, que casou minha filha, eu não pude levar minha família, graças a Deus. Aí chegou uma cartinha transferindo um cara de Apucarana pra minha agência. Não tinha nada no meu nome e o cara tinha um compromisso dum político lá pra voltar pra Maringá. Aí os caras tavam doente e aí eu fui falar com o diretor, os caras tinham um compromisso e tal, eles falaram: “Vamos achar uma agência pra você, o pessoal acha que você tem muito envolvimento político na região lá, ele não deixa você ir pra Toledo”. E o presidente da época era um cara do PMDB e muito amigo aqui do pessoal. Bom, pra encurtar, me mandaram pra Apucarana, pra me mandar pra outro lugar que era a vontade deles.

Eu fui lá com a minha mulher se mudar, aí minha mulher não achava casa, não tinha almoço. E como eu tinha continuado como funcionário do banco, eu tinha tempo de me aposentar, já recebia aquele 20% do pé na cova que chamavam, do INSS. Eu fiquei seis meses, aí quando foi setembro eu vim pra casa e falei que não ia voltar mais lá, aí já me aposentei e continuei aqui.
Eu fui gerente do Banco Habitasul, sempre trabalhando. Trabalho sério e tal, aí depois fui candidato; então essa é a minha história.

– É uma história muito bonita e o senhor fez uma amizade muito grande. A prova é os títulos de cidadão honorário que o senhor recebeu, quer dizer, hoje falar no seu João nesses municípios todos, as pessoas não esquecem porque o senhor trabalhou muito pra emancipar esses municípios que nós falamos.
– Graças a Deus, eu nunca, nem se tivessem me deixado, eu nunca fiz diferença nenhuma de que houvesse entre mim e o outro partido. Mesmo quando eu cheguei aqui eu atendia mais o pessoal, tanto é que tem até uma história. Lá em Laranjeiras eu era rotariano e nós fundamos o Rotary. E quando eu cheguei aqui, eles me mandaram uma carta me apresentando pro Rotary daqui, mas, nesse tempo, eu fui convidado pra ir no Lions, que tinha um monte de lideranças aí: Marivone, Geraldo, o doutor Tramujas, o Clodoveu, enfim, gente daqui que eram meus clientes. Aí eu fui na reunião do Rotary. E me receberam bem. Era o Romeu Munaretto o presidente, então os caras falaram: “Você é do PMDB?”. Falei “não, por quê?” “Você vai entrar no Rotary?” “Eu sou um rotariano de Laranjeiras e me convidaram, é uma porta de entrada da sociedade”. Então, o pessoal lá, os rotarianos, eram tudo companheiro político. Tanto é que o Mario Vargas foi meu padrinho aqui, ele foi vice do Guiomar (em 1992). Pô, própria chapa, só que aí, eles tinham PMDB. E o PT tinha outro candidato, então dividiu a eleição e eu ganhei; se fosse os dois juntos, não sei se eu ganharia. Então foi assim.


– Uma vida de trabalho pra cidade, né, seu João?

– Eu estou aqui desde 70. Eu mudei o dia que eu deixei a agência, eu mudei pra casa. Nesse local que nós estamos aqui. Então eu moro aqui há 46 anos.


– E como é que tá o seu João hoje? A dona Lurdes? Estão por casa? E a saúde?

– Graças a Deus, fugimos do vírus, não saímos de casa faz um ano. Tem um cunhado que está apoiando a gente, ele vai na farmácia comprar remédios, às vezes a gente vai a Marmeleiro almoçar com a nossa filha, casada com o Paulo lá de cima. gente não sai mesmo, fica mais em casa, se chegar aqui, tô aqui.


– E nós viemos aqui bisbilhotar a vida do senhor um pouco mais a sua vida, para o senhor contar um pouco da sua história por que feliz é quem tem uma história, né seu João?!

– Realmente, né, tanto eu, quanto a Lurdes. A Lurdes foi 22 anos assistente social do município.

Fotos: Ivo Pegoraro/JdeB

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