19.1 C
Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Nanda, que sofreu acidente no Dia de Finados e teve perna amputada, jogava futebol três vezes por semana

Geral

Nanda recebeu a reportagem do Jornal de Beltrão ontem em sua casa.

Fernanda da Silva Terêncio, 20 anos, deu alta no sábado, 13, do Hospital Regional de Francisco Beltrão onde esteve internada por 11 dias. Ela sofreu grave acidente de trânsito no feriado de Finados, dia 2 de novembro, na rodovia PR 180, bem no trevo de acesso a Verê, quando se deslocava com sua moto Biz para Eneas Marques. Um motorista cortou sua preferencial e fugiu sem prestar socorro. Quem chega na casa dela, percebe duas coisas: a primeira é que parte da perna direita foi amputada, mais ou menos na metade da tíbia (canela); e a segunda é o enorme sorriso com que Nanda recebe suas visitas. Sentada em uma cadeira de rodas, com a perna ferida apoiada em almofadas, passa os dias olhando as milhares de mensagens de apoio que está recebendo pelas redes sociais (não conseguiu responder todas, mas diz que vai), recebendo amigos e familiares e vez que outra fazendo afagos nos dois mascotes da casa, os gatinhos Alfredo e Baguera. Nanda diz que os médicos fizeram de tudo para tentar salvar sua perna, mas a pele estava necrosando rapidamente. Foram nove dias com o membro conectado apenas por hastes de ferro, então a equipe médica se reuniu com ela e explicou as opções: continuar com o pé, mas sem conseguir fazer nenhum movimento, pois os nervos e ligamentos foram destruídos ou fazer a amputação e passar a viver com uma prótese. “Ia ser um enfeite. Não ia conseguir andar direito. Eles me mostraram que a minha vida não seria mais fácil com um pé defeituoso do que com uma prótese. Então os médicos aconselharam e eu aceitei a fazer a amputação.”


O dia do acidente

No dia do acidente Fernanda estava indo jogar bola com suas amigas na Vista Alegre, em Eneas Marques. “Eu sou de lá e ainda tenho muitas amigas. Então toda terça e quinta a gente se reunia pra jogar futebol (suíço).” Como era feriado, final de tarde, o risco de ter motoristas alcoolizados nas estradas era maior e a moça estava receosa, por isso pilotava em baixa velocidade. “Geralmente as pessoas bebem no feriado, então eu já estava indo mais devagar do que o normal. Eu vi o carro no trevo e comecei a ficar preocupada, mas ele parou e eu me despreocupei e fui normalmente. A hora que estava passando na frente dele, ele acelerou.” Nanda foi jogada a alguns metros com o impacto. O para-choque do carro (incluindo a placa) ficou grudado na moto dela e o motorista fugiu sem prestar socorro. “Eu estava bem consciente. Sentei, sentia que estava sem ar. Tirei o capacete e tentei ir pra mais longe do asfalto, mas olhei e meu pé estava virado (ao contrário). Então eu deitei e várias pessoas começaram a chegar para ajudar.” A motociclista foi levada às pressas para o hospital, estava perdendo muito sangue, e chegou a ficar anêmica. “Eles foram rápidos (Samu), porque o paramédico já tinha dito que achava que não ia salvar minha perna.”


Os primeiros dias em casa

Nanda diz que se sente bem, que está com a “cabeça boa” e não quer se deprimir. Não quer pensar no que aconteceu e sim olhar para frente. Como já fazia terapia, entende que terá que continuar. “Tô tentando ser mais grata, abraçar mais minha mãe, dizer que amo meu namorado, dar carinho pros meus gatinhos e gritar pro mundo minha alegria de estar viva.” O que está sentindo bastante são as “dores fantasmas”, comum em amputados. “Sinto câimbra nos dedos do pé que já não tenho e dores no garrão.” A equipe de enfermagem da UBS do Cantelmo tem ido todos os dias na casa dela trocar os curativos.

- Publicidade -


Quem é Nanda

Fernanda é natural de Aparecida do Oeste, interior de Eneas Marques. Completou aniversário dia 5, três dias depois do acidente, em uma cama de hospital. Não teve bolo, mas uma enfermeira levou amoras. A família mudou para Francisco Beltrão há cerca de três anos e reside na Rua Pedro Bordun, Bairro Cantelmo. Nanda mora com o namorado, Lucas Morais, a mãe, Maria de Lourdes da Silva, e seus gatos. É acadêmica de Pedagogia, está no terceiro ano, e trabalha em uma loja de confecções. “Vou continuar Pedagogia, mas esses dias no hospital me fizeram ver com outros olhos a profissão de Serviço Social. Quem sabe no futuro.”
Ela trabalhava com sua moto fazendo entregas de condicionais para clientes. E, até então, nunca tinha sofrido acidente de trânsito. É fã incondicional de esporte, especialmente futebol. Jogava três vezes por semana. Uma vez no Arrudão (futsal) e duas vezes em Eneas Marques. Aprendeu a gostar com seu pai, Milton Terêncio (em memória), um grande fã do Palmeiras. “Por isso gosto de futebol. Ele me ensinava no gramado de casa.” O que mais preocupa Nanda é não poder mais praticar futebol. “Mas já sei que há uma equipe de handebol com cadeiras de rodas e vou me inscrever pra participar. Não quero perder esse vínculo com o esporte.”

[relacionadas]
Campanha de ajuda

Há uma campanha nas redes sociais para levantar fundos e ajudar a família de Fernanda. A mãe dela teve que se afastar do trabalho para cuidar dela o dia todo. “Não consigo fazer nada sozinha.” Além disso, a casa precisa de reformas e adaptações agora que ela usa cadeira de rodas. Mesmo o banheiro terá que receber nova estrutura adaptada para ela se apoiar. “Já recebi diversos Pix (transferências) e nesse momento o dinheiro será pra arrumar a casa, já que a primeira prótese eu consegui pelo SUS.” Quem quiser doar pode procurar diretamente a Nanda ou fazer depósito pelo Pix (46) 99916-4328.

Condutor vai ser indiciado pela Polícia Civil
O condutor do Renault Clio, carro que atingiu Fernanda, se apresentou na delegacia de polícia acompanhado de seu advogado. Confessou que era o motorista do automóvel envolvido no acidente, porém, reservou-se no direito ao silêncio. O suspeito responderá pelo crime de lesão corporal culposa (sem intenção) na direção de veículo automotor com aumento de pena em razão da omissão de socorro e da lesão corporal grave, assim como pelo delito de afastar-se do local do acidente para fugir à responsabilidade penal ou civil. O inquérito policial será concluído nos próximos dias, pois ainda aguarda o encaminhamento dos laudos periciais da polícia científica. O caso está sendo investigado pelo delegado Bruno Trento Hein que falou ontem que pela lesão culposa, a pena é de detenção de seis meses a dois anos e pelo crime de ter se afastado do local, detenção de seis meses a um ano ou multa.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques