9.2 C
Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Tendência não é sentença

Por Júlia Helena Rathier – Não raramente em meu consultório, recebo pessoas que falam de angústias antigas e enraizadas.

Júlia Helena Rathier/ CRP 08/31830.

Elas falam de suas dores queixando-se também do tempo que levaram para aceitar que precisavam de ajuda e que essa ajuda poderia vir da própria fala. Da análise/da terapia.

- Publicidade -

É muito comum que no momento em que percebem que aquilo pode ser mudado, digam: “Achei que isso era um traço de personalidade meu, que eu era assim e que não tinha saída…aprendi isso com meus pais e não percebia que me fazia tão mal não mexer nisso”.

E eu, aviso: possivelmente irá doer pra mexer, também. Mas falar é o que se deve fazer diante de algo que requer mudança.

As histórias da vida humana são recheadas de referências. A gente mal-e-mal nasce e já tem “a quem puxar”, um estilo de vida ao qual somos submetidos no entorno de pessoas que exercem a função do nosso cuidado. E aí vem a socialização, vem a escola, os contatos com “o diferente” que vão nos apresentando outros contornos possíveis. E a gente, é claro, reproduz alguns (muitos) dos contornos com os quais tem contato.

Mas, felizmente, a gente não é planta. Nós temos, mas não somos raízes.

Quando aproximam-se de seus sintomas de forma mais profunda (entendem um pouco das questões que causam o desconforto que as fez buscar por ajuda) as pessoas assustam-se com o conhecimento que já detinham sobre aquilo.  Tudo estava dentro : a terra precisava ser arada.

Alguém  na condição de analista, recebe a autorização p/ fazer parte do processo de recolhimento desses saberes que estão lá, nas profundezas.

Esperando que a pessoa em sofrimento descolonize-os. Retire as folhas mortas. Negocie com o clima para deixar viver o desejo.

Afinal, nem sempre são as flores os nossos saberes.

Quem procura por análise, de alguma forma já aceitou que as coisas não têm de ser como são. Que a gente pode sim, não querer algo com que viveu a vida toda: seja isso um pensamento, um relacionamento, um sonho.

Da mesma forma funciona para preconceitos.

Nós não somos os nossos pais;

Nós não somos os nossos amigos;

Nós não somos os nossos cônjuges.

Nós somos uma coleção de coisas que escolhemos nos tornar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques