10.2 C
Francisco Beltrão
segunda-feira, 09 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Foram a cavalo, de Marmeleiro a Barracão, e não venderam nada

Outra vez levaram feijão, de cargueiro, até Palmas e também não conseguiram vender; trouxeram de volta, o feijão carunchou e se perdeu.

José Mariano da Silva com os filhos Antônio e Sérgio, na casa do Sérgio, em Marmeleiro. Foto: Ivo Pegoraro/JdeB.

Jovens de hoje se espantam quando ouvem dos mais antigos as histórias dos tempos que a região não tinha asfalto, que chegou somente nos anos de 1970. Uns esperavam a mercadoria e não chegava, porque o caminhão tinha atolado na estrada. Era normal demorar meio dia para ir de Marmeleiro a Pato Branco, em dia de barro, muitas vezes tendo que ajudar a empurrar o carro, ou o ônibus.

- Publicidade -

Mas teve tempos ainda mais difíceis, como relata seu José Mariano da Silva. Ele nasceu e sempre viveu em Marmeleiro em 1930! Está com 92 anos.

No seu tempo de garoto, famílias como a dele, estabelecidas no meio do matão, tinham que produzir praticamente tudo, porque os acessos às vilas que tinham vendas eram difíceis. E quando levavam mercadoria pra vender era sem certeza de negócio. Na falta total de comunicação, não sabiam se tinha quem comprasse.

Ao ser perguntado sobre sua lembrança mais antiga, seu José Mariano responde: “A lembrança mais antiga é que era muito difícil a vida, tinha que fazer compra de cavalo. E burro, fazer cargueiro, conhece? E tinha que ir em Clevelândia ou Barracão, pra comprar as coisas. Até 1940. Em 40 surgiu Pato Branco, daí melhorou um pouco, ficou metade da estrada. De lá pra cá foi melhorando devagarinho. Mas naquele tempo, meu avô entrou aqui em 1919 e tinha que ir daqui até em Clevelândia pra fazer compra.”

Estrada?
“Estrada ruim, ainda de carreiro, uma parte era carreirão embaixo de taquaral. E era quatro dia para ir e voltar.”
Pousava na estrada, tinha que armar um barraco pra dormir.

– E aí, seu José, o senhor falou que tinha uma história dessas pra nos contar?
José – “Uma história assim pra você, historinha que eu vou contar. Quando eu tinha 6 anos, o meu pai foi no Barracão, e eu ia, às vezes, fazer compra no Barracão também, então me levava porque eu, com 6 anos, o que que era? Era loucura, né, se o cara fica doente. Mas eu, graças a Deus, fui bem e voltei.”

– Ia na garupa?
– Não, eu andava bem a cavalo sozinho.

– Sozinho, só 6 anos e já com um cavalo. Cavalo manso?
– É, e eu era o madrinheiro. Daí quando pesava o sono às vezes querendo cochilar, o pai descia, tinha muita água na estrada, e passava água no meu rosto. Mas deixa eu contar a história. Chegaram em Barracão e não venderam nada das coisas. Inventaram de ir em Santo Antônio, mas em Santo Antônio não ia nada, eu nem fui lá, fiquei no barraco e deu oito dias de garoa. Ficamos oito dias lá acampados.

– Levaram o que pra vender?
– Levaram salame e charque que fizeram de porco e biruba e milho e não puderam vender porque não tinha comércio. Isso é história, né?

– E tiveram que trazer de volta?
– Trazer de volta. Ah, o salame eu comi quase metade na estrada (risos).
Fogão? Naquele tempo não tinha fogão como os de hoje. Era uma caixa com uma chapa de ferro colocada sobre tijolos “e cozinhava bem”. Que comida? “Tinha de tudo (o que produziam), carne de caça, arroz, feijão.”

– Produzia muito feijão?
– Feijão Deus o livre, produzia, nossa! Ia fora feijão.

– Não tinha pra quem vender?
– É, pois é. Uma vez, outra história, o meu avô e meu pai levaram uma carga de coisa pra vender, salame e coisarada, feijão também. Foram em Clevelândia não puderam vender nada, foram até Palmas e não venderam nada também, trouxeram de volta. Chegaram aqui despejaram o feijão, carunchou o resto, esquentou com o sol. Viu como que a vida era difícil?

– Levaram cargueiros de feijão até Clevelândia, depois até Palmas, e não puderam vender nada? Quantos cargueiros?
– Dava uns quatro, cinco cargueiros. Foi meu pai e meu avô, pai da minha mãe. Meu pai comprou umas coisinhas e meu avô que não tinha dinheiro foi e voltou sem comprar nada.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques