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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

O Brasil e a Argentina de 2022

Atuando com consultoria em gestão empresarial há mais de dez anos me levou a ter inúmeras experiências no Brasil e fora dele. Esses aprendizados, quando transferidos para cada realidade, permitem resultados extraordinários, quando bem implementados.

Uma das empresas que atendo está na fronteira com os hermanos, e de tempos em tempos, como grande apreciador de vinhos e guloseimas, cruzo a fronteira, nem que seja para ouvir aqueles sotaques portenhos.

Claro que o argentino do norte do País nem de longe lembra o argentino de Buenos Aires, povo marrento e mal-educado. Assim como no Brasil, existem várias argentinas dentro dela. São as peculiaridades de cada região, mas como país, eu adoro.

Nessas visitinhas tipo bate-e-volta já pude perceber, inclusive, sem muito esforço, as diferenças daqui com lá. Em geral, muitos argentinos têm vindo trabalhar nas cidades brasileiras fronteiriças, inclusive pessoas de ótimos curriculuns (já me deparei com engenheiros, especialistas em finanças e até advogados) se sujeitando a serviços elementares em terras tupiniquins. Antes que me critiquem, o que estou relatando aqui ninguém me contou, eu presenciei, capicche?

Seguindo a linha de raciocínio, percebo nos municípios da fronteira os efeitos inflacionários, quase que descontrolados dos preços nos supermercados locais. Uma moeda que vale menos que nada, e os produtos quase que diariamente subindo. Em meados de junho deste ano, o peso argentino valendo R$ 0,03 centavos de real.

Hoje, 12 de agosto, valendo R$ 0,023 – uma desvalorização de 30% em pouco mais de 60 dias. Observei alguns produtos também nas gondolas do mercado. Um docinho clássico argentino, o tal do Alfajor que o brasileiro adora, uma caixa estava 500 pesos em junho. Esta semana que estive por lá já estava em 700 pesos. Um vinho Malbec, que adoro, saltou de 1.000 para 1.650 pesos. Recentemente mesmo saiu em algumas mídias os paraguaios vindo abastecer seus autos no Brasil.

Creio que isso nunca havia acontecido antes. As decisões econômicas de um país não são para satisfazer um grupo ou outro. Elas devem ser pensadas em âmbito macro — o que nem sempre nos agrada. Mas o preço vem, seja no curto, no médio, ou, no caso dos hermanos, veio no longo prazo.

A Argentina arrasta, assim, grandes problemas que não conseguiu resolver, entre eles o alto déficit nas contas públicas e os gastos com forte componente de assistência social. Sua população acostumou-se a ganhar do Estado e isso é um componente perigoso que fomenta a pobreza e a miséria.

A conta será paga algum dia, e esse dia chegou! Outra questão importante é justamente sua moeda, pois a informalidade só cresce e o emprego é sufocado. Outro elemento diz respeito à escassez de reservas e liquidez para fazer frente aos pagamentos da dívida. Para quem lembra, nos anos 1998, quando houve a moratória da dívida Argentina (o País quase entrou em guerra civil), o dólar por aqui começou a explodir naquela época.

Sem falar nas tarifas de energia subsidiadas no contexto do aumento dos preços do petróleo e do gás devido à guerra na Ucrânia. Quando há subsídio, você joga a dívida pra frente – e essa conta também chegará um dia.

Em resumo, infelizmente o problema da Argentina é diverso e amplo: é político, porque temos uma crise de legitimidade, mas também econômico, porque não cresce não é de hoje! Isso já vem de anos (inflação e desemprego, especialmente).

Receita para resolver isso: são várias, mas eu destacaria a revitalização do setor privado, privatizações, diminuição do Estado, renegociação das dívidas, e, infelizmente, alta da taxa básica de juros para conter a inflação. Isso de começo!

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