Por Rodrigo Accorsi – Como era esperado pelos integrantes do setor agrícola, a forte estiagem entre o segundo semestre de 2021 e os primeiros meses de 2022 apresentou enormes prejuízos aos agricultores paranaenses que plantaram na chamada primeira safra de grãos e na região Sudoeste não foi diferente. Conforme dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), a estimativa era que fossem produzidas 21,1 milhões de toneladas de soja em todo o Estado. Entretanto, os números reais apresentaram uma quebra média de 45% com relação às estimativas iniciais e o total fechou em 11,6 milhões de toneladas da soja, que é a principal cultura produzida no Paraná.

Nos 27 municípios de abrangência do Deral de Francisco Beltrão, a quebra média na safra de soja foi de 73%. As estimativas iniciais apontavam para uma produção de 1.147.000 toneladas (produtividade de 3.900 quilos/ha), em uma área de 294.270 hectares, mas a colheita fechou em apenas 309 mil toneladas (produtividade de 1.050 quilos/ha). As perdas chegaram às 838.653 toneladas, ou R$ 2,65 bilhões (valor de R$ 190/saca no final de março).
Milho e feijão
Na mesma região, o milho de primeira safra, que tinha estimativas de produção de 172 mil toneladas em uma área de 17 mil hectares, teve quebra média de 66%. A produção total chegou apenas às 59 mil toneladas, ou seja, produtividade de 3.430 quilos por hectare. Perdas que chegaram às 113 mil toneladas do grão. Os prejuízos alcançaram a marca dos R$ 169,5 milhões (R$ 90/saca no final de março).
Na cultura do feijão não foi diferente. Das 3.700 toneladas estimadas, em uma área de 1.850 hectares, foram colhidas apenas 2.001 toneladas, o que representa uma quebra média de 46% na safra do grão, na região. A produtividade foi de 1.130 quilos/hectare, bem diferente dos 2 mil quilos estimados inicialmente. Em valores, as perdas no feijão foram de R$ 7,4 milhões (R$ 277/saca no final de março).
“No milho silagem tínhamos uma previsão de 1.530.000 toneladas, em 34 mil hectares, mas foram colhidas apenas 610.000 toneladas, uma quebra de 60% nessa safra também. O valor total das perdas em função da estiagem ocorrida entre novembro e janeiro é de R$ 3,5 bilhões somente aqui na região dos 27 municípios”, diz Antoninho Fontanella, chefe do Deral de Francisco Beltrão.
Pato Branco
Na região dos 15 municípios de abrangência do Núcleo da Seab de Pato Branco, os números são semelhantes. De acordo com Ivano Carniel, chefe do Deral, a soja apresentou quebra média de 32% na safra, ou, 399.370 toneladas, com prejuízo de R$ 1,2 bilhão (R$ 180/saca no final de março). Na cultura do milho a quebra média apresentada foi de 27%, ou 84.575 toneladas e prejuízo de R$ 115,5 milhões (R$ 82/saca no final de março). No feijão a quebra, da mesma forma que na região de Francisco Beltrão, foi de 46%, ou, 6.212 toneladas, o que representa um prejuízo de R$ 31 milhões (R$ 300/saca no final de março).
Prejuízo abaixo do previsto
De acordo com o levantamento do Deral, a soma dos prejuízos na região de Pato Branco chegou aos R$ 1,37 bilhão. “A princípio pensávamos que os prejuízos pudessem ser até maiores, porque a expectativa era de que a produtividade de soja em muitas localidades fosse ficar mais abaixo. Imaginávamos uma perda de até 45%, então não ficaram tão abaixo e, à medida em que avançou a colheita, as perdas ficaram em 32%, não tanto como o previsto inicialmente”, diz Ivano.
Segundo ele, o último Valor Bruto da Produção (VBP) apurado foi em 2020 e toda a produção primária dos 15 municípios à época gerou faturamento bruto de R$ 6,07 bilhões. No comparativo com o valor bruto da produção da primeira safra de grãos de 2022, as perdas chegam a 22,5%. “É um valor de perdas bem significativo, em função da estiagem. Mas isso comparado com o VBP lá de 2020”.
Conforme o secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, que participou do 9º Congresso Brasileiro de Soja, realizado entre 16 e 19 de maio em Foz do Iguaçu, os prejuízos em função da estiagem foram de R$ 35 bilhões em todo o estado.
Quebra de 80%
Jaimir Colognese é produtor e presidente do Sindicato Rural de Verê. Segundo ele, que planta soja em uma área de 200 hectares na comunidade de Linha Pitangueira, interior do município, a quebra na lavoura foi de 80%. “Plantei soja na primeira safra e, pro pessoal que plantou na primeira época, foi terrível. Em toda a minha lavoura tive 80% de quebra daquilo que imaginávamos colher. Sempre usamos muita tecnologia pra que, se ocorrer tudo dentro do normal, colher 80 sacas por hectare. Foram colhidas 12 sacas por hectare, mais ou menos, na média”, revela Jaimir. Ele diz que, de modo geral, foi isso que aconteceu nas lavouras do município de Verê. “O pessoal que plantou de novembro pra frente conseguiu até um resultado melhor, mas foram poucos e não representa muita coisa no contexto geral para se dizer que fosse puxar pra cima a produtividade. Foi bem complicado”, completa Jaimir.