
Por Juliam Nazaré – Para quem viveu os anos 1990, é impossível assistir ao remake de “Pantanal”, na Rede Globo, e não se lembrar da TV Manchete. Fundada em 1983, a emissora de Adolpho Bloch marcou época com tokusatsus, animes e novelas. Ela, inclusive, manteve laços com a região Sudoeste do Paraná. Criada em 1987, a TV Sudoeste era uma de suas afiliadas. Nos últimos dias do canal paulista, quando este caminhava para a falência, viu suas repetidoras paranaenses a abandonarem. A única que permaneceu fiel, até o fim, foi a TV Sudoeste. O veículo de Pato Branco, desde então, tornou-se parceiro da RedeTV!, sucessora no sinal analógico dos Bloch em São Paulo.
Ameaça à Globo
A primeira versão de “Pantanal”, veiculada entre 27 de março e 11 de dezembro de 1990, foi responsável por ofuscar a TV Globo na audiência. A emissora da família Marinho, desde que assumiu disparadamente a preferência do público nos anos 1970, jamais havia tido uma concorrente à altura quando o assunto eram as novelas. Escrita por Benedito Rui Barbosa, a trama de José Leôncio recebeu quatro pontos de média da sua antecessora, “Kananga do Japão”, e elevou os índices para 21 pontos, com capítulos atingindo acima dos 30. A produção derrotou atrações globais como o Globo Repórter, o humorístico TV Pirata e a novela das dez “Araponga”. Ameaçada, a programação dos Marinho foi alterada. “Rainha da Sucata”, folhetim que começava às 20h30, passou a iniciar e terminar mais tarde, como forma de manter o público no canal.

TV Sudoeste exibia “Pantanal”
Na região, era a TV Sudoeste quem exibia “Pantanal”. Os programas locais eram as duas edições do “Sudoeste em Manchete (precursor do atual “Sudoeste Notícias”), o “Sudoeste Atualidades”, que ia ao ar nas manhãs de sábado, além de uma atração de entrevistas. “Existia também um programa de debate sobre temas diversos, da política à cultura. Foi naquele tempo que tiveram início as transmissões esportivas locais e programas de esporte com Inelci Matiello e equipe”, recorda o então coordenador de jornalismo da casa, Adair Kill, atual contratado da Rádio Voz do Sudoeste, de Coronel Vivida.
Primeira comunicadora da afiliada, a jornalista Margarete Camargo lembra que a emissora local pegou carona com o sucesso de Pantanal. “As imagens chamavam muito a atenção. A Manchete conseguiu um boom. Na TV Sudoeste tínhamos um espaço menor de transmissão. O ‘Sudoeste em Manchete’ era gravado. Não tínhamos condições de fazer ao vivo.”
“Perguntavam se a novela era filmada numa mata aqui perto”
O jornalista Ari Ignácio de Lima, contratado em agosto de 1990 e até hoje na TV Sudoeste, lembra que existiam outras três opções de canais locais na região: TVs Tarobá (Bandeirantes), Naipi (SBT) e Cataratas (atual RPC, Globo). “Não tínhamos dificuldade em comercializar os espaços locais. Os empresários vinham nos procurar, inclusive. Não havia medição de audiência aqui, mas sucesso era tanto que as pessoas vinham aqui na TV e perguntavam se a novela era filmada numa mata aqui perto. E muitos colegas diziam que sim (risos).”
Original versus remake
Sobre a regravação, tanto Ari e Margarete, remanescentes da TV Sudoeste, declaram-se espectadores. “Quando soube do remake, não tive dúvidas que seria muito bom. Se a Manchete fez sucesso, que era uma emissora sem tradição em novelas, imagina a Rede Globo, com a especialidade que tem nesta área?”, diz Ari Ignácio de Lima.
Já Margarete, apresentadora do TV Total, no ar aos sábados às 10h, gosta da adaptação de Bruno Luperi, neto de Benedito, mas considera a obra original superior. “Em 1990, acho que não tinha quem não visse. Meu marido, jornalista e que não gosta de novelas, via por causa da fotografia. Considero algumas coisas melhores na primeira versão. Hoje tem equipamentos mais modernos, mas as cenas fortes, com mensagens, eram melhores. Os críticos de TV também concordam. Gosta da versão da Globo, houve uma atualização nos assuntos, abordando o racismo, o papel da mulher na sociedade, o celular, a internet”, declara Margarete Camargo.
Reprises
Além da exibição inédita, a “Pantanal” de Cláudio Marzo (Zé Leôncio) e Jussara Freire (Filó) foi reprisada duas vezes pela Manchete e, consequentemente, pela TV Sudoeste: primeiro entre 1991 e 1992; depois, entre 1998 e 1999, sendo que a trama saiu do ar em 14 de julho, quando a TV do Grupo Bloch já havia fechado (em 10 de maio) e estava no ar a “TV!”, que fez a transição para a RedeTV!, inaugurada em 15 de novembro.
O SBT exibiu a produção em 2008, o que originou uma batalha judicial entre o canal de Silvio Santos e o criador da obra, Benedito Rui Barbosa. Este alegava cobrança de direitos autorais não pagos pela emissora.
Audiência em 2022
Em termos de audiência na TV aberta, “Pantanal” deixa a Globo satisfeita. Com 131 dos 173 capítulos exibidos, a novela acumula 29 pontos de média, com dias ultrapassando a casa dos 34. A antecessora, “Um lugar ao Sol”, entregou a faixa com um público de 22 pontos – 32% de crescimento. No streaming (Globo Play), bateu recorde de horas de horas assistidas, conforme dados divulgados em maio.