13.9 C
Francisco Beltrão
segunda-feira, 09 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

De seus 84 anos, 70 foram vividos em Beltrão

Ele acompanhou toda a história, desde três meses antes da instalação do município.

Tempo de puxar toras a boi, na serraria de Nova Concórdia.

Morador do Bairro Cango, 84 anos, Valdumiro Nelson Colognese tem a maior parte de sua vida ligada a Francisco Beltrão.

- Publicidade -

Nos primeiros anos, viveu no interior, Rio do Mato, onde seu pai tinha um sítio. Uma das poucas vezes que vinha para a cidade, uma foi na Revolta dos Posseiros de 1957. Depois viveu alguns anos em Pitangueira, interior de Verê. Desde 1982 está na cidade.

Então sua família está ligada à história: Revolta dos Posseiros; à formação das comunidades do interior e ao desenvolvimento da agropecuária; ao lado social da comunidade beltronense: em 1972, sua irmã mais nova, Íria Colognese, foi eleita Miss Beltrão; cultural: em 1987, sua esposa, professora Gertrudes Pecharque Colognese, ficou em segundo lugar no concurso que definiu o Hino de Francisco Beltrão (vencido pela também professora Cladi Lewandoski); esportiva: seu filho mais velho, Adilson Luiz, o Gringo, é nome bem conhecido do futebol beltronense dos anos 80 e 90; e imprensa: sua filha Raquel foi uma das primeiras funcionárias do Jornal de Beltrão.

Nesta entrevista concedida ao Jornal de Beltrão, acompanhado do filho Adriano, o pioneiro Valdumiro conta um pouco dessa sua longa e rica história.

Na passagem do Rio Marrecas, na atual Avenida Júlio Assis Cavalheiro, teve necessidade de descarregar parte da mudança, porque a ponte era coberta e a carga não passava.

Nos anos 60, eram normais as passarinhadas, aos domingos ou feriados.
Seu Valdumiro e o filho Adriano na redação do JdeB.

Então, quando o senhor chegou com a mudança em 1952, como é que foi a passagem do Marrecas na ponte?

Valdumiro – Teve que descarregar um pouco da mudança e deitar os guarda-roupa pra poder passar na ponte, que era coberta de tabuinha.

A mudança era de seus pais, Ermildo (conhecido por Armindo, filho de Humberto Colognese, que veio da Itália) e Amábile Araldi Colognese). Seu Valdumiro era um garoto de 13 anos.

Eu completei 14 anos aqui no Paraná, porque eu faço os anos em outubro e nós chegamos em setembro.”

De quem seu pai comprou terra, no Rio do Mato?

Não lembro, não. Porque na época não tinha nem escritura, nada, essas coisas assim, era só um contrato de compra e venda. Tudo era chão. Quando nós viemos de mudança, foi aberto um pedaço de estrada que teve que tirar e cortar uns tocos ali para poder passar com o caminhão.

Estava tudo começando?

Tem a estrada que era boa pra ir até Nova Concórdia, mas quem saía fora um pouquinho à esquerda que hoje vai pra Sede Progresso, a estrada estava feia, ali não dava pra passar caminhando.

Muito mato?

Era só mato que tinha lá, era só pinheiro. Tinha bastante pinheiro.

Quando seu pai falou que viriam para o Paraná, o senhor gostou?

Olha, eu era piá, mas não gostei muito, não. Porque lá o pai tinha terra plana e aqui no Paraná é só mato, quem quer entrar ali, começar a derrubar mato?

O senhor teve que aprender a derrubar mato?

Sim, de serrote, ainda, e machado. Não era com motosserra igual hoje, no caso, era no braço mesmo.

O seu pai derrubava tudo, ou deixava em pé a árvore dura de cortar?

Não, não, derrubava pareio. Era com serrote e machado, derrubava pareio, não escolhia nada pra deixar pra trás.

E o senhor estudava aqui, ou não estudava mais?

Não, não estudei mais, só tem três anos da aula rural, só que foi lá no Rio Grande, no caso.

A comunidade lá também do Rio do Mato estava começando.

Tava começando. Tinha umas bodegas, como o povo falava, na época, naquela do Loterino Carraro, assim, era uma comunidade que tinha, tem a igreja hoje lá também. Então quando meu pai ia lá fazer a compra, pegava pro ano, por exemplo, comprava e depois, quando colhia o milho, feijão, essas coisas que ele vendia lá pra cá também era assim.

Quem da família ia no moinho?

Ali quem ia no moinho era eu também, mas lá no Rio Grande nós já ia no moinho. Botavam o saco de trigo em cima de um cavalo, eu montava no cavalo também, em cima de um arreio no caso, e levava lá no Valentim Salvadori. Eu ia lá, ele tirava a bolsa de trigo e moía e dava a farinha e vinha de volta. Às vezes, pagava também a moagem e, às vezes, que eu trocava com o milho ou com trigo.

E vinha seguindo pra Beltrão?

Não, eu era difícil vir pra Francisco Beltrão. No começo, quando eu vim morar ali, até quando eu vim me alistar, que eu completei os 18 anos, vim a cavalo e no Hotel do Bortolan, que tinha ali em cima, na Cango, perto do Martini. Eu pedi pra deixar o cavalo ali do lado, assim pra desencilhar o cavalo, que ficava comendo folha da taquara. Isso é certo é que na época era assim ali.

O senhor lembra do dr. Rubens Martins, primeiro prefeito?

Eu lembro, sim, que ele foi prefeito aqui em Beltrão, me lembro que deu problema. Com o Cella, Rubens, depois que fizeram um acerto ali, não sei como é que foi.

O seu pai era do grupo do Cella ou do dr. Rubens?

Olha, na época ele votou pro Cella, no caso, que foi feita ali no Rio do Mato. Ali tinha os Fabris que tinham serraria na época, os Liston, eu conheço muito Adelar Liston, o Algemiro, o falecido Amadio também, o Cláudio que tem um posto ali.

Adriano: O Claudio Liston é compadre, pai e padrinho do casamento do pai.

Quando estourou a revolta, o senhor ainda era solteiro. Participou?

Participei, porque o pai veio no começo, pra ver. Ele estava querendo ir embora para o Rio Grande de novo, voltar pra lá. E daí deu aquela Revolta e o pai veio dois dias. Ele veio aqui e no terceiro dia ele me deu um revólver e eu vim aqui pra participar, junto com o pessoal todo ali e até de manhã, nós fomos lá perto da Água Branca. Fomos, uma turma, e me deixaram atrás de um pinheiro caído, bem grosso. Daí umas horas eu escutei um tiro de espingarda e eu com revólver, né, embora, no caso, que o cara falou que se passasse alguém correndo era pra mim atirar. E daí veio o pessoal de volta e eu voltei aqui pra cidade e almocei ali na praça. Era um barranco que tinha ali, assim, que o pessoal pegava as vacas lá do fundo, do Julio Assis Cavalheiro lá e matava e fazia churrasco pra comer.

Dizem que comiam churrasco até meio cru.

Não, a parte que eu peguei tava boa. Só que aquele dia da tarde, só pra você saber, aconteceu um caso que eu acho até pra mim e é interessante. Foi com o jagunço 44. Eu não me lembro mais o sobrenome dele, mas o nome era Zeferino, e o apelido era Zefa. Ele trabalhava na serraria do Bortolotto lá. Eu lembro que eu trabalhava lá também e eu comecei puxar tora com o caminhão lá e com um Ford 46. Ele trabalhou um tempo lá daí assim, todo dia, às quatro e meia da manhã buzinava aquela a vapor e aquecia com água, fazia a vapor pra dar força pra trabalhar com a serraria. Daí não buzinava, como era acostumado ao levantar sempre às quatro, quatro e meia. Não buzinava. Eu levantei e tava ali no Bortolotto fazendo fogo. Daí ele pediu pra mim ir lá quando era foguista na época. O Zefa foi lá na casa dele e bateu na porta, veio a mulher dele e disse que ele saiu de noite. Depois de ficar um tempo fora sem, cataram um outro foguista lá, no caso, para trabalhar lá e, no dia da Revolta, daquela confusão que deu ali que eu vim ali, foi no dia, o Nono, digamos, pediu pro pai vir pra cidade que deu o revólver pra mim vim ali para acompanhar a turma. E, de tarde, que nem eu tava te falando que almocemo ali na praça, ali tinha uma rua que eu subi, que é a do Carneiro. Ali eu escutei os caras falar: “Mata o jagunço, pega o jagunço!”

Fui lá com o revólver pra atirar. E era o Zefa, aquele que era funcionário nosso que trabalhava na serraria. Aí, me caiu as mãos, não tive coragem pra nada.

O jagunço era funcionário de vocês?

Sim, foi funcionário, eu trabalhava junto com ele, e isso eu não sabia quem que era, porque eles gritavam “pega o jagunço, mata o jagunço”.

Então o jagunço 44 era o Zefa de vocês?

Valdumiro: Isso, era o Zefa que trabalhava com nós.

Adriano: Todo mundo dentro quando falava 44, o 44 na época não ligava ao Zefa 44, não sabiam quem era e quem que não era. E daí, quando apareceu na frente do pai, o pai não teve força para atirar.

Valdumiro: E daí, no fim dessa história, perto do Lonqueador, atiraram nele e depois levaram para o hospital do dr. Walter.

E depois ele foi embora ou ficou aí?

Não, depois ele continuou, assim, na vida dele ele continua sendo sem-vergonha, sim.

Mas continuou em Beltrão?

Sim, continuou aqui em Beltrão. Passado um tempo, acho que eles, não sei, mataram ele.

O senhor ficou só um dia aqui na cidade?

Só um dia que eu fiquei ali. Foi o dia que entraram no escritório. Era no final da confusão, daquela Revolta que deu ali. Me lembro até hoje que é ali onde que era o prédio dos Fabris, que era os escritórios da companhia. Eu lembro o que eu conheci o Aurélio Negri, que era de Nova Concórdia. O Aurélio Negri foi um que entrou lá pra cima, no segundo andar, que jogou livro assim, controle que era da companhia, jogaram tudo na rua.

Quando as companhias foram embora, o que é que o pessoal fez?

Daí se acalmaram, até que, no caso, o falecido pai continuou querendo morar ali no Rio do Mato, que sempre morou ali.

O senhor comprou terra lá em Pitangueira?

Não, só um pedacinho de terra, que tinha a serraria.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques