Seu sonho era criar porcos, mas acabou sendo mais motorista do que agricultor.

Roberto Grando (23-3-1921 a 22-3-2005) foi o primeiro funcionário público municipal de Francisco Beltrão. Contratado pelo prefeito Ricieri Cella em 5 de janeiro de 1953, percorria muito o interior do município, entregando documentos, fiscalizando, representando, enfim, a administração municipal. O município era extenso do lado Oeste, ia até o Rio Iguaçu.
Sapateiro e celeiro, o sonho dele era comprar um sítio de uns 30 a 40 alqueires e criar porco safra, que ele acreditava dar muito dinheiro. Mas acabou dedicando-se ao serviço público até se aposentar, quando mudou de residência para Marmeleiro.
Andou muito a cavalo, como deixou anotado em seu diário, iniciado em 1958:
25.1.1958 – Estava no Tatetos a serviço com os mascates e às 9 h viajando para Francisco Beltrão, com um Jipe dos mascates e até a Prefeitura Municipal, e saindo novamente de Francisco Beltrão para Tatetos para prender outras mercadorias dos mascates. Chegando a Tatetos às 15h e depois verificar o comércio e em viagem a cavalo até Rio Bonito, ali pernoitando.
Com o tempo, passou a dirigir um caminhão da Prefeitura, como se pode comprovar no diário que ele iniciou em 1958.
8.7.1958 – Saindo de Cruzeiro do Iguaçu, voltando até Companhoni, carregar madeira no caminhão e voltando a Cruzeiro do Iguaçu às 10h da noite na fazenda.
26.7.1958 – Na Prefeitura e lutando com caminhão.
1º.8.1958 – Até na usina com o caminhão a serviço e voltando dia 2 de agosto de 1958, à noite.
A filha Dirce, que hoje reside em Balneário Camboriú, recorda que nas festas dos motoristas ele levava os filhos na carroceria de um caminhão, às vezes o caminhão da Prefeitura, às vezes caminhão de amigos.
Roberto Grando também fazia viagens a Curitiba, para levar doentes:
15-7-1964 – Saindo cedo às 4h para Curitiba com a caminhonete do Severino Detoni, levando a dona Mabile Ferronatto e a Geni, a Didi do Severino, a minha filha Lurdes, o Severino, a velha do Radin, chegando em Curitiba às 6h da tarde, no Hospital do Cajuru.
16-7-1964 – Saindo do Hotel Santa Maria até no hospital do Cajuru, para consultar a Lurdes e falar com o dr. Rubens da Silva Martins (prefeito de Francisco Beltrão de 1953 a 1956) e saindo do Cajuru às 15 da tarde, deixando as gurias Lurdes, Geni, Didi e a dona Mábile do Ferronato no hospital e nós fomos no Hotel Santa Maria e lutando com diversos negócios na capital, e de noite no cinema na Rua 15, no Ritz.
19-7-1964 – Cedo estava no Hotel Santa Maria em Curitiba e fomos à missa na Igreja Guadalupe e depois na casa do Tadeu Opolski, e churrasqueando ao meio-dia e de tarde fomos no Hipódromo do Tarumã nas carreiras e voltando à noite no Hotel Santa Maria, eu, o Germano Maier e Severino Detoni.
20-7-1964 – Cedo fui junto com o Severino ver causo da carteira de motorista dele e de tarde no Cajuru ver as doentes, e também lutando com negócios do Dr. Scalco, cobranças de letras e de noite no hotel.
21-7-1964 – Saindo de ônibus de lotação até o Bairro Bacacheri ver o guri do Angelo Radin, que estava operado, e depois até a Vila Tingui, ver umas cobranças do Dr. Scalco e de tarde fui em diversos pontos e negócios e de noite fui até o hospital Cajuru acertar a viagem a Francisco Beltrão, com diversos passageiros e doentes que vinham comigo.
22-7-1964 – Saindo cedo de Curitiba no Hospital Cajuru para viagem a Francisco Beltrão, com a caminhonete do Severino Detoni; era lotação com oito pessoas: dona Amábile Ferronatto e filha, dona Olinda Araújo e filha, Severino Detoni e filha, eu e minha filha Lurdes. Passando por Lapa, Porto União, Palmas, Clevelândia e chegando em Francisco Beltrão às 6h da tarde, eu era o motorista em toda a viagem.
Homem atropelado e morto na Avenida Júlio Assis:
6-8-1970 – Amanheci de chegada pela empresa Reunidas e até no DAE e Sanepar comprar uma luva de correr de 250 mm para tubulação da água da Rua Antonina que havia quebrado e dali dia inteiro em Curitiba. Almocei no Restaurante Pinheirão, na Rua João Negrão, e de tarde levando as peças até a empresa Reunidas e às 8h da noite saindo de Curitiba, viajando toda a noite e chegando em Francisco Beltrão às 7h20.