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Francisco Beltrão
sábado, 24 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Pai recebe diagnóstico de autismo logo depois do filho

Coragem para falar sobre TEA e conscientizar.

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Fernanda e Eder, pais do Théo (4 anos) e Larissa (10 anos).

Por Niomar Pereira – O casal Eder Padilha (39) e Fernanda Bora (35), ambos policiais do 21º Batalhão de Polícia Militar de Francisco Beltrão, receberam em fevereiro deste ano o diagnóstico de autismo – Transtorno do Espectro Autista (TEA) – do filho Théo, de 4 anos. Foi um baque para a família, que teve que mudar a rotina, principalmente em busca de terapias para o filho e mergulhar neste mundo novo de compreensão e autoconhecimento.

Durante todo esse processo de estudo e conversa com especialistas para entender melhor o filho, Eder e a esposa começaram reconhecer nele (no pai) também algumas características que combinavam bastante com o autismo. O policial foi encaminhado a uma neuropsicóloga e em outubro confirmou o mesmo diagnóstico.

Eder decidiu abrir para a sociedade o que a família estava passando justamente para contribuir com mais informação e incentivar pais e mães a buscarem tratamento precocemente. “Quando eu era pequeno, morávamos no interior e uma vez era para fazer um exame (eletroencefalograma), mas não tínhamos condições de pagar um tratamento e então cresci assim, buscando outras formas para superar algo que eu sabia que tinha, mas não sabia que era autismo.”

Fernanda recorda que em uma de suas leituras sobre características do autista compartilhou o link com o esposo e disse: “olha como parece você”. E acrescenta: “tudo que eu lia, via mais no Eder no que no nosso filho”. Junto com o diagnóstico de autismo, Eder descobriu que tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Foi muito difícil aceitar, até mesmo levei uns três dias até ler o relatório da neuropsicóloga, porque tem esse preconceito da sociedade, por ser homem, adulto, policial. Ainda há muita falta de informação, fazendo com que as pessoas olhem para o autista de forma errônea”, relata Eder, que tem o nível mais leve. Mas o diagnóstico ajudou a ele a se conhecer e entender melhor muitas coisas de sua vida. “O meu dia tem que ser todo planejado, se uma única coisa acontece diferente, já estraga meu dia. Eu tenho dificuldade de manter vínculos sociais. Para ficar num lugar e socializar eu precisava beber e isso acabava trazendo outros males. Tenho hiperfoco naquilo que me interessa, mas aquilo que eu não gosto perco totalmente o interesse. E isso foi bem nítido durante minha segunda graduação (Nutrição), pois em algumas matérias tive dificuldade de prestar atenção e estudar.”

O que mais ajudou Eder desde sua adolescência foi o esporte. Aos 15 anos ingressou na capoeira onde se tornou instrutor. A atividade física foi a grande válvula de escape para moderar seu humor e ajudar a ter o equilíbrio necessário para construir uma vida social (família) e profissional (concluiu Educação Física em 2005, ingressou na Polícia Militar em 2006 e concluiu Nutrição neste ano).

Mas tudo isso, segundo ele, com um esforço redobrado. Eder já começou o tratamento com medicamento e terapia e aguarda uma posição da Polícia Militar do Paraná para seu caso, que também constitui algo novo para a corporação. Tanto Eder quanto Fernanda entendem que o diagnóstico de autismo envolve não só a pessoa em si, mas toda a família. Porque todos são afetados de algum modo, por isso há um trabalho especial com todos os membros. A outra filha do casal, Larissa, de 10 anos, por exemplo, tem acompanhamento psicológico para entender as mudanças que estão ocorrendo com o pai e o irmão.

As crises do pequeno Théo começaram na pandemia

Théo teve seu desenvolvimento normal como qualquer outra criança até os dois anos de idade, quando começou a pandemia. Isolados em casa, Fernanda conta que começou a prestar atenção em algumas mudanças de comportamento do filho.

“Antes disso eu já achava o sono dele diferente. Ele dormia em média 4 horas por noite, despertava várias vezes durante a madrugada, mas em conversa com os médicos eles diziam que era normal.” Quando a família ficou mais restrita em casa, Théo tinha muita vontade de sair, mas logo em seguida inverteu completamente o comportamento, tendo pânico de sair ou de ficar longe da mãe. “Ele já estava falando, porém depois da pandemia parou de aprender palavras novas e com o tempo foi deixando de falar aquelas que já sabia.”

Quando retornaram as aulas, Fernanda lembra que foi um período de adaptação muito difícil para o filho, que chorava quase a tarde toda. Na verdade já eram as “crises”, mas a família ainda não tinha o diagnóstico de TEA. “Ele ficava no meio das crianças, mas eu sempre  percebia que ele brincava sozinho, não interagia com os demais, apenas os observava. Então comecei a pesquisar na internet, muitas coisas do autismo não se encaixavam no meu filho, mas um colega que teve o filho diagnosticado com autismo e os sintomas eram parecidos com o Théo.”

Pequeno Théo, de 4 anos.

Há um ano a família buscou uma neuropsicóloga e um neuropediatra, que foram os profissionais que auxiliaram no diagnóstico. Mas foram 7 meses de fila de espera para conseguir a consulta com o neuropediatra em Chapecó (SC), uma das referências nacionais, isso ainda no particular, tamanha a demanda atual. Após várias sessões e testes com validade científica, Théo foi diagnosticado com TEA nível 2, sendo o nível 3 o mais severo. Em tratamento há cerca de um ano, com uma equipe multidisciplinar, que contempla vários profissionais de áreas diferentes, o menino tem apresentado uma evolução bastante significativa. Fernanda e Eder pesquisaram muito para buscar compreender o filho e reforçam a importância do diagnóstico precoce, bem como das famílias e da sociedade falarem mais sobre o assunto.

Segundo o casal, o paciente com TEA tem dificuldade de entender coisas abstratas, como sentimentos, amor, saudade, medo, felicidade, entre outros. Ademais, existe uma janela de aprendizagem, e uma poda neural, que ocorre com todas as pessoas. Nas pessoas com desenvolvimento normal, o cérebro elimina neurônios que não são utilizados, mas nas pessoas com autismo são eliminados os neurônios que já possuem ligações e funções específicas, por isso muitas vezes são registrados retrocessos no desenvolvimento neurológico.

Fernanda conta que muitas pessoas tem procurado o casal para pedir informações sobre todo o processo de diagnóstico, que requer muitos testes e acompanhamento profissional. “Você precisa de muito apoio, porque é quase como um luto, precisamos desconstruir toda aquela imagem do filho típico, e nesse processo, muitas dúvidas surgem. Não sabemos como será a vida dele, se vai estudar, entrar em uma universidade, se formar, namorar, casar, trabalhar, não sabemos como será o futuro do nosso filho, mas ele sempre terá a família ao seu lado”.

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