Gol se despede como carro para o dia a dia e item de coleção.

Por Leandro Czerniaski – Até o fim deste mês, a fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP) continuará produzindo o Gol – são cerca de 780 unidades por dia –, depois o modelo, que se tornou o mais popular do País, se despede após 42 anos em linha. O Gol sai de cena com uma edição especial batizada de Last Edition: somente mil unidades, com detalhes diferenciados e custando cerca de R$ 95 mil, todos vendidos em poucas horas.
O Grupo Meimberg adquiriu um exemplar, mas por enquanto não está à venda e é usado somente para exposição nas concessionárias.
A grande procura pela versão de despedida exemplifica bem a relação do Gol com os brasileiros, que vai bem além do nome do modelo. O Gol é o carro mais fabricado, mais vendido e mais exportado da história do Brasil. Boa parte dos quase 9 milhões de unidades continua rodando nas ruas daqui e de 66 países da América Latina, África, Ásia e Europa.
Seja entre os apaixonados que preservam a originalidade do veículo na garagem, ou quem usa para o trabalho, o Gol é quase uma unanimidade.
O beltronense Diego Moraes tem um exemplar icônico, o Gol GTi. Foi o primeiro veículo nacional com injeção eletrônica, por isso essa versão é a mais valorizada entre os entusiastas dos “quadrados”. “Já me ofereceram o valor de uma casa nele, mas como é um projeto pessoal, por enquanto não tenho nem ideia de me desfazer”, conta. Diego comprou o carro há oito anos e investiu em uma nova pintura e itens originais dessa versão, que chega a custar R$ 200 mil. “Essa geração dos Volks quadrados marcou uma geração e as versões esportivas, como essa, são as mais cobiçadas”, diz.

O gosto pelo modelo vem de infância e a satisfação está em poder circular com o carro exatamente como era quando foi vendido zero km, mesmo que esse tipo de passeio seja raro. Por causa do risco de acidentes, o proprietário prefere deixar o veículo guardado a maior parte do tempo, ajudando a preservar a história automotiva brasileira.
Apesar do aumento de entusiastas e colecionadores de Gol, a maior parte dos donos usa o veículo para o dia a dia. É o caso do engenheiro civil Douglas Czerniaski, que está há 11 anos com o seu. O Gol ano 94, com motor CHT, foi seu primeiro e único veículo até hoje e é usado para ir ao escritório e em obras pela cidade. “Quando comprei buscava um carro baratinho e bem cuidado. A ideia era trocar, com o tempo, mas fui me apegando e agora pretendo ficar mais um bom tempo com o Gol”, revela. Ele é o terceiro dono e, apesar de ter investido em uma reforma no veículo, se diz satisfeito com a manutenção simples e barata.
Tríade do sucesso: motor, caixa e chassi
Aliás, a mecânica durável é um ponto que ajudou a tornar o Gol tão popular entre os motoristas e mecânicos, na visão do engenheiro-mecânico Marcelo Monteiro Da Corregio. “Em uma época de vacas magras no Brasil [fim dos anos 80, início dos 90], a VW universalizou o motor AP600 na linha de produção para reduzir custos. O desovar desse motor no mercado o fez rapidamente conhecido pelo pessoal da manutenção, que ganhou experiência farta em um projeto de sucesso. Ao bom motor se soma a resistência da caixa de câmbio e bom dimensionamento do chassi monobloco. Se tu faz essa tríade [motor-câmbio-chassi] trabalhar bem, o carro vira um Highlander, o guerreiro imortal”, compara Da Corregio, que tem uma Parati quadrada há 22 anos. O carro já está beirando os 300 mil km sem abrir o motor.
O mais vendido por 27 anos
Lançado em 1980, o Gol veio para suceder o Fusca e herdou o conceito de ser um carro robusto e simples – o que é perfeito para a realidade brasileira. No começo, o motor era refrigerado a ar e a transmissão com quatro marchas. Foi evoluindo, mudando de formas ao longo das suas oito gerações e mantendo a popularidade. Por 27 anos, foi o carro mais vendido do País. Perdeu o posto para o Ônix, mas neste ano surpreendeu liderando as vendas em alguns meses.
Por enquanto, o espaço deixado pelo Gol no mercado será ocupado pelo Polo Track e há pretensão da Volks em lançar um SUV compacto abaixo do Nivus e T-Cross para buscar esse nicho. A produção do carro mais popular do Brasil termina aqui, mas a história e o legado permanecerão enquanto tiver Gol rodando no País. Ainda vai longe.
