Enchente foi oportunidade de avaliação do sistema de contenção das cheias, mas pode gerar atrasos de até 3 meses.

JdeB – A administração municipal de Francisco Beltrão fez uma avaliação do projeto de prevenção e combate a enchentes diante do excesso de chuvas, em outubro, que resultou nos alagamentos provocados pelo Rio Marrecas, córregos Progresso e Urutago e Rio Lonqueador. As adequações ocorreram em conjunto com a Construtora Siton, responsável pela execução das obras. Alexandre Pécoits, secretário municipal de Planejamento, adiantou é que devido à enchente de outubro o trabalho de construção do canal do Urutago – aprofundamento do leito e construção das contenções – pode atrasar em até três meses.
Alexandre Pécoits explica “a partir da cheia de agosto e posteriormente a de outubro, que foi mais séria; comparada à de 1983, então nós conseguimos uma série de avaliações, obviamente focadas mais na obra, que trata diretamente a cheias do Marrecas. Infelizmente, a obra estava em etapa ainda de execução, com restrição da funcionalidade, ela puxou praticamente 20% só da capacidade que o canal tem de escoar a água do Rio Marrecas. Infelizmente o volume que entrou no canal, devido à ensecadeira colocada no local, utilizada justamente fazer a execução da obra, não deixou o canal exercer toda a sua funcionalidade. Mas, de qualquer maneira, foi muito importante pra gente avaliar as questões de estrutura do canal, como os muros de contenção do canal em si, o que nos levou a algumas adequações. Uma das adequações do projeto é pra deixar o canal mais resistente a esse fluxo de água e foi bem positivo. O projetista esteve na obra e pôde nos auxiliar nessas avaliações, e também pra discutirmos outras questões de funcionalidade e a operação que envolve todo o sistema”.
Alexandre explica que a adequação “foi mais na questão das contenções das laterais, porque como ali é uma área urbanizada, é necessário prever que as laterais estejam bem resistentes à força e ao fluxo da água, e não comprometam os espaços próximos ao canal. Então, se definiu por umas mudanças de modelo construtivo, pra garantir uma condição melhor dessa resistência das laterais, ali a região é uma região que alterna entre rocha, cascalho, terra, tendo ainda áreas de aterros antigos, apresentando uma condição muito ruim de tratamento. Devido a essa variação muito grande das condições do terreno, cada área teve algumas adequações necessárias. Por isso, em alguns lugares vai ter um muro estruturado com aço e concreto, outras áreas foi mais oportuno trabalhar com muro de pedra, então são pedras concretadas e travadas que fazem essa contenção”.

Mais tempo
Essa mudança no canal vai requerer mais tempo de trabalho pela Construtora Siton. “Devido a essas mudanças de métodos construtivos, que demandam um tempo maior, recentemente foi pedido pela empreiteira um aditivo de prazo no contrato, de mais alguns meses no projeto, a ideia era uma conclusão já ao início deste próximo ano. Não foi possível, claro que as próprias duas cheias nos deram um atraso direto na obra de aproximadamente 40 dias cada, que foi o tempo que a empresa precisou para recuperar os canteiros de trabalho. Então, tivemos praticamente três meses de retrabalhos, só pela ação das cheias que acometeram o canteiro de obra em si. Observe que só no período das obras, em dois anos e meio, nós tivemos pelo menos três a quatro eventos significativos de chuvas fortes, o que evidencia cada vez mais a importância e necessidade desta obra”, argumenta o secretário. O prefeito Cleber Fontana, em entrevistas às rádios locais, após a enchente dos dias 11, 12 e 13 de outubro, expôs algumas informações sobre a entrada do fluxo de água do Marrecas no canal do Urutago em direção ao túnel do Rio Marrecas, que atravessa o Parque de Exposições e termina nos fundos do Bairro Padre Ulrico. Alexandre explica que “esse aprofundamento na entrada na foz do Urutago, vindo no Marrecas, vai avançar dentro do leito do Marrecas, justamente pra facilitar esse fluxo de água durante as cheias”.
Outras bacias alagaram
A situação da bacia do Rio Lonqueador e os córregos Progresso e Urutago, que também alagaram em outubro, foi avaliada pela administração municipal. “Esses três rios, em especial o Urutago, além do Lonqueador e o Progresso, são os principais afluentes do Marrecas, todos estão em áreas urbanas e isso gera alguns impactos. Lembrando que todo o tratamento do Marrecas atua sobre as cheias, quer dizer, todo aquele fluxo de água que cai desde as nascentes do Marrecas, lá em Flor da Serra e Marmeleiro, e vem entrando na cidade Beltrão, vai provocando a cheia, ou seja, o rio sobe e a partir da cheia do rio, extravasa, sai da sua caixa e atinge as áreas baixas da cidade. Já esses três rios contribuintes, eles têm um efeito diferente. Eles absorvem águas oriundas de chuvas fortes que cai em um curto período de tempo, formando as enxurradas. Então, ela faz a água correr rapidamente pelas galerias pluviais e chega nesses córregos, que facilmente extravasam [invadindo ruas e imóveis]”.
A intenção, conforme Alexandre, é o estudo e implementação de algumas bacias de contenção “que segurem essa água o máximo possível antes de serem lançadas novamente para as galerias pluviais e até chegar nesses rios. E esse é um estudo que vai ser feito a partir de janeiro, pra complementar esse trabalho [do Rio Marrecas]. É um estudo importante, porque são bacias acometidas por enxurradas, independente de contribuir ao Marrecas também, mas elas têm um efeito dentro da sua própria bacia que precisam ser contidos e minimizados”.
Bacias e loteamentos
Outra ação para reduzir os riscos de enchentes e enxurradas são as bacias de contenção de águas da chuva que, por lei, devem ser abertas pelos novos loteamentos. Alexandre argumenta que “o crescimento da cidade nessas bacias é relevante e nem todos estão conseguindo reter toda a água que cada loteamento é obrigado a fazer e isso é problemático, porque esses volumes de águas dos novos loteamentos correm rápido pra essas vias de contribuintes de águas pluviais e isso tem gerado bastante problema, novos riscos e novas dificuldades. Então, há de se ter muita atenção em todos esses locais, que eles sejam mantidos e adequados pra receber, conter e relançar os fluxos de águas pluviais, é claro que chuvas acima do normal acabam extrapolando todas essas capacidades”. Há pouco tempo foi divulgado pela Prefeitura de Beltrão que seria feito um acompanhamento dos loteamentos atuais, que têm ações de contenção e também aqueles que não tem. Alexandre ressalta que um dos problemas destas bacias é o assoreamento. “No longo prazo é natural que estas bacias vão juntando terra e materiais que deixam elas com menor capacidade de armazenamento, precisando ser desassoriadas frequentemente. Então, apesar de ser uma solução, elas precisam de manutenção constante.”
Bacia de contenção descartada
A proposta inicial de construir uma lagoa de contenção no Rio Marrecas, na região de Linha Água Vermelha, não está prevista de ser executada no projeto de contenção das cheias do Rio Marrecas. Alexandre Pécoits diz que havia esta ideia, “mas foi descartada pelo projetista, porque ela afeta diretamente a entrada do Marrecas. Se a gente olhar a região da Água Vermelha, pelo menos essa entrada ali próxima ao Bairro Marrecas, ela já possui uma espécie de bacia natural, que é aquela baixada que tem na margem esquerda do Marrecas, que acaba funcionando como uma bacia. Ela está longe de ser o ideal, mas foi considerada de baixa funcionalidade e efeito sobre a cheia do Rio Marrecas, por maior que seja esta bacia, como o Marrecas é um rio volumoso, ele encheria essa bacia rapidamente e rapidamente ela voltaria à caixa e extravasaria pra frente. Não justificou nenhuma intervenção naquele sentido, então é uma intervenção que foi descartada, como também foi reconsiderada a possibilidade de uma barragem a montante do Marrecas”.
O projeto de contenção mantém a proposta de aprofundar o leito do Rio Marrecas, na área urbana, para possibilitar uma vazão ainda maior da água. Para a execução desta obra será necessário fazer uma nova licitação. “Há alguns detalhes técnicos que precisam ser encerrados ainda, como a profundidade da rocha em cada ponto do rio. O impacto é muito grande e ali necessariamente precisa de uma nova licitação, que depende ainda da finalização desses estudos, que é a finalização do projeto executivo, para, aí sim, poder ser aberta a licitação”, explica o secretário. Antes do lançamento do edital de concorrência e o pedido de licenciamento ambiental será necessário terminar o detalhamento do projeto executivo.