Leandro Czerniaski – A propriedade de nove alqueires na Linha Lajeado Bonito, interior de Enéas Marques, tem fácil acesso – próximo à rodovia e à cidade –, boa parte plana e uma sanga que passa nos fundos. Mas desde que o local foi palco de uma tragédia, em 2010, é utilizado somente para o plantio de grãos e permanece inabitado. Nesta semana em que completou 13 anos do assassinato da família por Gilmar Reolon e dez de sua prisão, o JdeB voltou à comunidade e conversou com Nelton Casanova, 69, ex-cunhado do agricultor que matou seis pessoas e ficou três anos vagando na mata.

Terra era cedida em usufruto
Gilmar Reolon foi morar na Linha Lajeado Bonito após a morte do sogro, em 2007. A família da esposa, Gema Casanova, é uma das pioneiras da comunidade. O casal recebeu usufruto da terra para cuidar da matriarca, dona Petronília. “Tinha a casa com 130 metros [quadrados] toda duplada, aqui era uma estrebaria, ali o paiol, dois chiqueiros mais pra baixo, luz, água, tudo certinho… só entrar e trabalhar”, relata Nelton, indignado com o desfecho da mãe, irmã e sobrinhos. A casa de madeira tinha mais de cinquenta anos e foi feita por seu pai; o abandono de hoje contrasta com a vitalidade de quando os seis irmãos Casanova foram criados.
Em declarações, Gilmar alegou que matou a família e incendiou a casa devido à situação financeira, uma série de negócios malsucedidos. Disse que não queria vê-los “passando vergonha”. Nelton reforça essa tese, descobriu retiradas de dinheiro da poupança da mãe e até a venda de parte da terra sem dona Petronília saber o que estava assinando, mas não concorda com as atitudes do ex-cunhado.
Desconfiança
Para Nelton, Gilmar passou a ser considerado suspeito de ter matado a família ainda na madrugada em que a casa foi incendiada. Ele e a mulher, que moram há 500 metros da propriedade, chegaram quando o imóvel estava pegando fogo. Quando as esquipes constataram quem eram as quatro vítimas, Casanova já desconfiou e nos dias seguintes, ao descobrir a situação financeira de Reolon, teve certeza que o incêndio foi criminoso.
O trauma na família
A tragédia afetou duramente a família Casanova, não só pela perda da matriarca, irmã e sobrinhos, mas pelo contexto da tragédia.
“Até que ele [Gilmar] não foi preso, principalmente depois que a gente passou a desconfiar ainda mais de que ele estava por aqui, não conseguimos ter tranquilidade. Pra ir fazer um cochilo a gente já trancava toda a casa e ficava alerta quando os cachorros acoavam. Na escola, tiravam sarro da minha filha de oito anos e no meu trabalho todo mundo vinha pedir por tempos sobre a história; era incômodo reviver isso”, comenta Normélia Silva, esposa de Nelton.
Propriedade foi parar na Justiça
Na propriedade em que Reolon morava, a área da casa e chiqueiros continua sem uso. As estruturas estão corroídas pelo tempo, inclusive a casinha de alvenaria que estava sendo construída antes da tragédia, inacabada. Na área cultivável, Nelton e os irmão plantam grãos – eles conseguiram obter o direito de utilizar a parte que havia sido vendida e já obtiveram decisão favorável da Justiça em primeira e segunda instância, segundo ele.
“Não tem perdão”
Desde a prisão de Gilmar, há dez anos, ele e o ex-cunhado se viram algumas vezes: no Fórum, delegacia e no dia em que Reolon foi com policiais até a propriedade indiciar onde teria enterrado objetos do pai, morto em maio de 2009. Não trocaram nenhuma palavra, diretamente. E Nelton diz que nem tem vontade de falar com o condenado por matar a família. “Não tenho nada pra dizer a ele. Minha mãe, irmã e sobrinhos, além do seu Otávio [pai de Reolon], uma pessoa que só sabia trabalhar, e da menina [Indiamara], não estão mais aqui por culpa dele. Isso não tem perdão”, finaliza.