16.5 C
Francisco Beltrão
domingo, 29 de junho de 2025

Edição 8.235

28/06/2025

Há 58 anos falecia o Tenente Camargo, no cumprimento do dever

Em Francisco Beltrão, Rua Tenente Camargo em homenagem ao militar falecido em 1965. Foto: Ivo Pegoraro.

Carlos Argemiro de Camargo foi morto durante confronto entre o Exército Brasileiro e rebeldes das Forças Armadas de Libertação Nacional (Faln), em 27 de março de 1965. À época sargento, foi promovido após seu falecimento e ficou conhecido como o Tenente Camargo. Em Beltrão, foi homenageado com nome de rua.

- Publicidade -

Veja matéria completa publicada pelo JdeB em março de 2015

Por Alexandre Baggio – Um ano depois do golpe militar de 1964, um grupo, que ficou conhecido como Forças Armadas de Libertação Nacional (Faln), tentou um contragolpe para dominar o Brasil, mas acabou detido na cidade de Capitão Leônidas Marques, Oeste do Paraná. O confronto entre os rebelados e o Exército deixou uma vítima: o 3º sargento Carlos Argemiro de Camargo, que, falecido, foi promovido e ficou conhecido na história como Tenente Camargo.

A Faln era comandada pelo ex-coronel de artilharia Jefferson Cardim de Osório, que havia sido expulso do Exército. Ele conseguiu reunir 20 homens que saíram do Rio Grande do Sul com o objetivo de chegar até Brasília para tomar o poder. “Ele tinha sido expulso do Exército porque era brizolista. Em 1964 ele já tinha sido expulso. Naquela época eles faziam isso. Tinha o sargento Chaves também, lá do Rio de Janeiro, que estava junto com a gente. Tinha também o sargento Alberi que tinha sido expulso da Brigada Militar por causa do [Leonel] Brizola e eles foram se juntando”, conta Pedro.

Cerimônia em homenagem ao Segundo-Tenente Carlos Argemiro Camargo, realizada pelo 16° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado em 28 de março de 2017. Foto: 16º Esq C Mec.

A primeira reunião do grupo aconteceu numa propriedade no interior. “O Pedro era um piá lá em Três Passos [RS], meio metido a professor e, naquela época, tinha acontecido a revolução de 1964. Aí o coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório, que era meio louco, tinha sido expulso do Exército, foi lá e, nos fundos de uma fazenda, reuniu uma piazada. Ele ficou instruindo eles, falando que a gente ia tomar o poder, ia fazer uma revolução. Foram uns 20 piás recrutados e instruídos. Eles marcaram de, durante a noite, ir para Três Passos, onde tomaram a rádio e a polícia. Eles pegaram os equipamentos e um caminhão, saíram de lá e foram para Tenente Portela [RS] e fizeram a mesma coisa: tomaram a rádio e a polícia. Roubaram mais um caminhão e decidiram tomar o Brasil, ir para Brasília”, conta Jaime Guzzo, advogado de Dois Vizinhos e amigo de Pedro..

No Sudoeste

O grupo saiu pelo Uruguai e foi subindo. No amanhecer do dia 27 de março, já estavam em Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná. “Lá pelas 9 da manhã, vimos um helicóptero voando por cima da gente. Atravessamos a balsa de Marmelândia e, como o negócio tava pegando fogo, cheio de movimentação, a gente se escondeu no mato. Já era em Capitão Leônidas Marques. A gente entrou na casa de um colono que tava matando um porco ali. Um pouco depois chegou o Exército e o tenente Camargo foi o primeiro a descer. A gente estava escondido no mato e, como ele foi o primeiro a sair, todo mundo puxou o gatilho. Já matamos o tenente. Na hora, os militares não prenderam ninguém, porque todo mundo saiu correndo, mas depois todo mundo foi pego”, lembra Pedro. 

Ele também atirou, mas não sabe quem matou o tenente. “Nós tava no mato escondido, camuflado. Aí encostou o caminhão deles. Os ‘milico’, a maioria, se jogou para trás do caminhão. O tenente veio para o outro lado, onde nós tava atirando. Ele foi o que a gente viu. Os outros, que tavam com ele, se esconderam atrás do caminhão e atiravam também. Ele veio na frente e vai saber quem matou o Tenente Camargo. Não sei quantos tiros ele levou, mas sei que um pegou e matou”, completa.

Todos os rebelados foram presos. “Aí eles levaram todo mundo pra Foz do Iguaçu, por causa do crime nacional. De lá, eles falaram que o crime começou no Rio Grande do Sul e levaram o pessoal para Porto Alegre. Lá, eles disseram que o crime tinha sido no Paraná e mandaram todos de volta pra Curitiba. Lá, correu o processo e todo mundo foi absolvido. O tenente morreu, todos eles foram anistiados por, no mínimo, três vezes e agora, na Comissão da Verdade, no ano passado, ele foi mais uma vez pra Três Passos prestar depoimento, contar essa história. Eram 20 loucos que queriam derrubar a nação”, lembra Jaime Guz-zo.

Depois de libertado, Pedro voltou para o campo e chegou na década de 70 em Dois Vizinhos. “Isso é heroísmo. Em 20 a gente queria tomar o país. O coronel disse que o 3º Exército ia apoiar nós e a gente ia tomar o poder. E nós fomos subindo e nada do Exército apoiar. Eu até falei que não ia prestar, a gente tava sem apoio nenhum, levando no peito. Aí fomos subindo, até dar. Depois que passou, passou. Voltei a trabalhar. Quando saí da cadeia, voltei para a lavoura. Depois eu vim para Dois Vizinhos em 1974. Eu casei e vim para cá.” 

Militares pensaram que o grupo queria matar o presidente, que estava em Foz do Iguaçu

 A morte do Tenente Camargo aconteceu no dia da inauguração da Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este (Paraguai). “Naquele dia 27, tinha a inauguração daquela ponte internacional do Paraguai. O presidente Castello Branco estava por ali. Aí eles [militares] estavam pensando que a gente ia matar o Castello Branco. Na cabeça do Exército Brasileiro, nós ia para a ponte fazer isso. Nós nem tinha a ideia de matar ele, nem tinha passado pela nossa cabeça. Nós estava esperando o apoio do 3º Exército para incorporar nossa força, mas não apareceu até hoje”, acrescenta Pedro.

Pedro destaca que não morreu mais gente naquele dia porque uma metralhadora que os rebelados tinham estava estragada. “A maioria atirou, uns nem atiraram, foram se esconder atrás do mato. A maioria tinha uns revólveres e a gente uma metralhadora .50 tripé que a gente tomou em Três Passos (RS), aí o sargento Alberi, que era da Brigada e tava junto com nós, deu uns quatro, cinco tiros e engasgou. Não sei se ele não sabia mexer e engasgou aquela porcaria, senão nós tinha matado toda aquela tropa. Se nossa metralhadora não tivesse engasgado, ia morrer mais ‘nego’ deles. Não só o tenente.”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques