A Rua Ponta Grossa há 50 anos era totalmente diferente. Na esquina tinha o bar do nono e da nona Brocardo. E o bar mais famoso foi o Bug Lanches.

JdeB – Um corte de cabelo, mesmo incluindo a barba, por mais que demore, é pouco tempo, se o cliente estiver disposto a ouvir histórias da Rua Ponta Grossa, e da cidade de Francisco Beltrão, contadas por Adelino Romani. Ele é o segundo barbeiro (ou cabeleireiro) mais antigo da cidade em atividade (perde só para o Odil Miranda de Farias, que em 1968 já atendia seus clientes, no porão do Bar Azul).
Gaúcho de Erechim, nascido em 17 de agosto de 1946, Adelino Romani aprendeu a profissão em sua cidade. E tem como data do início de sua atividade profissional em Francisco Beltrão o dia 1º de agosto de 1969, poucos dias antes de completar 23 anos. “Comecei comprando o ponto, por 100 cruzeiros, no prédio do Soranso, onde tinha a alfaiataria do Genuíno Mazzochin. Logo mudei aqui pra Rua Ponta Grossa, numa sala do prédio de madeira da Marabá, ali na esquina, do lado de um bar. A Churrascaria Marabá era embaixo e aquela fonte de água que está lá já existia, ficava bem perto da churrasqueira.”
Como foi a mudança para a sala onde está com a Barbearia Cometa (na quadra de cima)? “Aqui paguei o aluguel adiantado um ano, pro seu Chico de Carli, pra conseguir esta sala. Estava alugada por mil cruzeiros e ele me cobrou mil e quinhentos. Aqui tinha escritório de prestação de serviço do INSS, do Dorvalino Lago.”
Como era a Rua Ponta Grossa, 54 anos atrás, tendo ele como único barbeiro? “Ah, era totalmente diferente. Aqui na esquina tinha o bar do nono e a nona Brocardo, casa de madeira, ali jogavam baralho e sinuca. E o bar mais famoso foi o Bug Lanches, mas antes se chamava Flamingo e depois Samuara, era do seu Alfredo.”
Lembra de quais barbeiros daquele tempo? “Pelo tamanho da cidade, tinha bastante. Tinha eu, tinha o Celso Fábris, tinha o Zé que morreu, o Nelson ali embaixo, tinha na Cango. Dos primeiros mesmo que eu conheci tinha o Sadi, que foi pro Mato Grosso. Da rodoviária pra cá tinha o Sereninho e o Odil, que está trabalhando ainda. O Sereninho e o Odil tinham um conjunto de música, gauchesco. Tinha o Tarcísio Câmara, um baixinho, ele teve a primeira lotérica, até lembro que quando começou a Loteria Esportiva ele saía daqui na sexta-feira de noite com os cartões das apostas e ia perfurar em São Paulo, quando não ia ele, ia a esposa.”
E sobre o corte de cabelo, mudou nesses mais de 50 anos? “Mudou muito. No tempo do Roberto Carlos era uma moda de cabelo, era um mais comprido, um corte tipo pigmalhão que diziam, cortava mais curto em cima e só aparava as pontas. Hoje é o contrário. Hoje é o cabelo curto e a barba comprida. Nem comparação do que era e o que é. Hoje demora mais. Tem uns cabelos aí que eles falam degradê, tem que começar com a máquina zero, depois um, dois e três. É mais difícil, uma vez era mais fácil. Se usava bastante máquina, mas mais era pra fazer o pé do cabelo. Sempre usei tesoura e máquina, mas era máquina manual.”
Cortou o cabelo de algum prefeito? “Sim, o prefeito de agora, o Cleber Fontana, cortei o cabelo dele no tempo que ele andava de calça curta, era meu freguês. E o Guiomar [Lopes] também vinha aqui. Até um dia um cara falou pra ele: Guiomar, você vai deixar os osso lá em cima. E o Guiomar ah, eu acho que vou deixar os osso lá mesmo. Mas trouxeram pra cá, né.” [Guiomar Lopes, prefeito de Beltrão de 1983 a 1988 e de 1997 a 2000, mudou, depois, para Humaitá, no Amazonas. Faleceu em acidente de trânsito e seu corpo foi sepultado em Francisco Beltrão].
Único barbeiro do prefeito Cleber
O prefeito Cleber Fontana confirma que cortava o cabelo com o Adelino Romani, e mais: até hoje é seu único barbeiro! “Quando cheguei em Beltrão, eu tinha 13 anos, vim de Passo Fundo. Eu sentei na cadeira dele pra cortar a primeira vez. Eu estou com 45 anos e eu nunca sentei em outra cadeira de barbeiro. Sempre, a minha vida inteira, só cortei com ele, nunca, nem em outra cidade, nem viajando, nada. Eu não sei se ele sabe disso, mas eu nunca cortei com outro, só com o Adelino Romani. Mas, nossa, é uma história bonita a dele, tantos anos.”
Mais histórias
Mais histórias podem ser ouvidas na Barbearia Cometa, tanto com o Adelino como com seu sócio, Valmir Franciosi.
Valmir conta que tem hoje 51 anos e desde os 14 trabalha com Adelino, na Barbeari Cometa, são 37 anos.