Dona Emerita, esposa do José Rupp, uma pessoa também fora de série, companheira.

Por Ivo Pegoraro
Dia 28 de março de 2010, em sede Paranhos, entrevistei dona Alvina (no documento, Albina), viúva do dr. Antônio Paranhos. Foi logo depois que o projeto de criação do município de Sede Paranhos tinha sido barrado na Assembleia Legislativa do Paraná.
Dona Alvina respondeu todas as perguntas que lhe fiz, mas não quis ser fotografada. E me passou a cópia de uma reportagem com o marido, de 1969, com o repórter Riolando Ribeiro, do jornal O Globo, de Palmas.
Dona Alvina faleceu em 21 de dezembro de 2021. Acho que vale a pena republicar a entrevista, que foi pulicada, em parte, no Jornal de Beltrão do dia 3 de abril de 2010. É o que segue.
Doutor Paranhos e José Rupp morreram muito cedo
“Os dois tinham projetos. Morre o líder, acaba a história.”
Quem falava assim era dona Alvina, viúva de Antônio Paranhos, mulher que conhecia muito e não queria ser fotografada.
Sede Paranhos, principal distrito de São Jorge D’Oeste, leva este nome em homenagem a seu fundador, o advogado Antônio Conceição Paranhos (8.12.1909 a 25.6.1981). Quem fala sobre ele e um pouco dessa longa história, iniciada há mais de 50 anos, é a viúva, dona Alvina, que alterna sua vida entre um apartamento em Curitiba e uma fazenda, a cinco quilômetros da sede do distrito, numa volta do Rio Chopim.
Se alguém perguntar por Albina Stolf, mesmo moradores do lugar poderão não saber de quem se trata. Ela explica a origem de seu nome: “Eu nasci em Timbó [SC], era uma cidade de alemães, e meu pai, que era descendente de italianos, foi me registrar em Rio do Cedro. Só muitos anos depois ele foi ver que registraram Albina, que está no documento, mas todos me conheciam por Alvina, até hoje”.
Em seus documentos também não consta o sobrenome Paranhos, porque ela e Antônio nunca foram casados, nem pelo civil, nem pelo religioso. Mas viveram como marido e mulher de 1959 até a morte dele, em 1981, de infarto, em Curitiba, onde está sepultado. Alvina e Antônio tiveram somente um filho, Antônio Conceição Paranhos Filho, o Toni, que reside em Campo Grande (MS), onde é professor universitário.
A fazenda da volta do Chopim onde dona Alvina recebeu a reportagem do Jornal de Beltrão é grande, mas já foi maior. Teve gado, hoje somente lavouras de soja – de outras pessoas que lhe pagam arrendamento – e reserva de mata. No escritório, ela tem documentos históricos sobre a colonização de São Jorge, incluindo um mapa detalhado de toda a divisão de lotes urbanos e rurais; livros, um quadro com uma foto sua do tempo de solteira, uma foto do filho ainda menino e nenhuma foto do marido. Diz que muita coisa está em Curitiba. Ela doa um livro publicado pelo filho, “Sensoriamento Remoto Ambiental Aplicado”, em parceria com outros dois profissionais da área (o geólogo Giancarlo Lastoria e a engenheira ambiental Thaís Gisele Torres), pela UFMS.
Dona Alvina doa também a cópia de uma reportagem sobre Antônio Paranhos, publicada pelo jornal O Globo de Palmas, em 22 de março de 1969, sobre a instalação do Ginásio Agrícola do distrito Dr. Antônio Paranhos. O que ela não concorda, porém, é ser fotografada. “Não, depois que morreu o dr. Paranhos, nunca mais fotografei, nem com os meus netos.” Os netos são Antônio Conceição Paranhos Neto e Giácomo Neri da Rocha Paranhos, ambos estudam em Curitiba. Tem dedicatória do pai, no livro, a quem Paranhos Filho se refere como “meus pimpolhos”.
É bom lembrar que o advogado Antônio Paranhos, natural da Bahia, fez sociedade com José Rupp e, com ele, colonizou toda a área que hoje é o município de São Jorge D’Oeste. Após a morte (prematura, 64 anos) de José Rupp (4.1.1898 a 17.3.1962), a sociedade continuou com o filho José Henrique Rupp.
Como era o José Rupp?
Alvina – Uma pessoa amiga, que se dava muito bem com doutor Paranhos. Dois amigos. Eles sempre se entenderam bem. Aliás, toda a família sempre se deu bem. O José Rupp, ele tinha seu papel que era uma pessoa dinâmica. Naquela época tinha que ser uma pessoa que tivesse positivo, que puxou muito do Rupp, a gente sempre diz o velho Rupp, foi o Jorge, o Jorge é o avô em pessoa (Jorge Henrique Rupp, engenheiro agrônomo e professor, é filho de José Henrique Rupp, neto do pioneiro José Rupp, reside em São Jorge, é casado com a professora Marizete Debortoli e tem dois filhos, Pedro Henrique Rupp e José Henrique Rupp Neto). É, calmo, tranquilo. Uma pessoa muito calma.
O doutor Paranhos viajava muito, advogando?
Alvina – Sim, ele advogava, quando fizeram o negócio junto porque tinha que ter recurso, o Paranhos saía pra advogar e mandava o dinheiro, lógico, ele vinha seguido, mas demorava até seis meses. E ele mudou com a família pra cá. A dona Emerita (Bueno de Oliveira Rupp, 26.4.1903 a 15.5.1986, esposa do José Rupp), uma pessoa também fora de série, companheira. Acompanhava ele, foi bem educada, companheira.
Como é que o doutor Paranhos, que era baiano, acabou parando aqui em São Jorge D’Oeste?
Alvina – Quando ele veio da Bahia pro Rio, e do Rio ele veio pra resolver essas questões aqui em Palmas e Clevelândia. O governador trouxe, era o Lupion naquela época. Foi ali que ele tinha esse dinheiro pra receber do Estado. De terra, naquela época era muita briga em Palmas, Clevelândia. Aí o Estado não tinha dinheiro pra pagar. Foi aonde que entrou essas áreas de terras. Como forma de pagamento. O José Rupp também era dessa indenização que ele teve dessa estrada de ferro.