O encontro entre o biólogo fracassado João Pedroso e um lagarto é o prenúncio de que o clima pacato e prazenteiro da Ilha de Itaparica deixará de existir. No lugar da tranquilidade, o mistério e o medo.
João não conseguiu ter uma carreira e, embora culto, sobrevive dos parcos lucros de uma peixaria. Leva uma vida modesta. Caminhando pelas ruas de Vera Cruz se depara com um lagarto de dois rabos. Ao observá-lo, o rapaz tem a certeza que o bicho está lhe sorrindo. Não um riso de amizade, mas de mau-agouro. Um presságio de que o mau rondava e que algo de grave e ruim estava por acontecer.
Até então, João vive solteiro, daqueles que às vezes passam dos limites na cachaça, o que lhe gera um certo desprestígio na comunidade. A chegada de Ângelo Marcos, um importante político da Bahia, com influência sobretudo na área de saúde, e da esposa Ana Clara muda para sempre a vida sem grandes perspectivas do biólogo.
Ana é fútil e vive um casamento de aparências. Não ama Ângelo Marcos, e nem ele o tem como prioridade. Ela não o deixa para não perder mordomias, os privilégios de ter dinheiro e fazer parte da alta sociedade. Quando conhece João, fica fascinada por sua simplicidade, pela despretensão em relação à vida e, ao mesmo tempo, por encontrar nele o que o marido não lhe oferece: tesão.
João também se apaixona por Ana. Em paralelo a este amor, que precisa ser vivido às escondidas pelo medo da reação de Ângelo Marcos, o biólogo é chamado ao terreiro de Bará, um curandeiro embrenhado no local de difícil acesso da ilha. O velho pede ajuda do peixeiro para fazer uma denuncia ao Padre Monteirinho, amigo de João. Ele e o pároco da região são avisados da existência em Itaparica de experimentos científicos com humanos, do qual já resultaram criaturas que são um misto de homens e répteis.
Enquanto o Padre é resistente em dar ouvidos a um homem de práticas que a Igreja condena, João investiga e localiza a mãe das criaturas, que põem medo a ponto de não se poder encará-las. Uma mulher que vive se escondendo pela Ilha, desde que fugiu com seus filhos do hospital da cidade, local de fachada para um laboratório clandestino onde ela serviu de cobaia para os experimentos de Lúcio Nemésio, a principal liderança da saúde da cidade.
Em meio à luta que considera ser contra o mal – em que cai em descrédito ao tentar chamar a atenção da população e das autoridades – João Pedroso se vê envolvido e correspondido por Ana Clara. Por parte dela, a reciprocidade é tamanha, que aceita abrir mão dos privilégios de mulher de político para ficar de vez com o peixeiro. Só que embora Ângelo Marcos mantenha outros casos conjugais, inclusive com um homem, não admite perder a esposa, tão cara para o jogo de faz de contas de um homem de vida pública.
Ficção científica em Itaparica
Mais uma vez, a Ilha de Itaparica, berço de João Ubaldo Ribeiro, serve de ambientação para um romance do autor. Por outro lado, o livro, lançado em 1989, traz como novidade a ficção científica, até então não abordada nas narrativas do baiano.
“O Sorriso do Lagarto” não é das obras mais lembradas de João Ubaldo. Nada como “Viva o povo brasileiro” ou “Sargento Getúlio”, mas ganhou uma adaptação para a TV logo em 1991, numa série da TV Globo, com Tony Ramos no papel de João Marcos e José Lewgoy na pele do Doutor Lúcio Nemésio.

Referências
- Título: O sorriso do lagarto;
- Gênero: Romance;
- Autor: João Ubaldo Ribeiro;
- Número de páginas: 344;
- Editora: Alfaguara;
- Ano de lançamento: 1989.