Das 161 corridasde Ayrton Senna — da estreia no Brasil em 1984 até a morte na Itália em 1994 — escolhemos oito para resumir, as que consideramos as mais marcantes.

GP de Mônaco – Monte Carlo – 1984
Ninguém esperava nada do piloto da Toleman número 19, que largava na 13ª posição do grid do GP de Mônaco de 1984. Mas a chuva mudou tudo.
De forma inesperada e quase inexplicável, o carro que ali não tinha o motor fraco como problema, começou a ganhar posições e deixar para trás gente como Elio de Angelis (Lotus), Keke Rosberg (Williams), Nelson Piquet (Brabham), Niki Lauda (McLaren), Patrick Tambay e Derek Warwick (ambos da Renault), Michelle Alboreto e René Arnoux (ambos da Ferrari).
Senna fez a volta mais rápida (1m54s334) e na volta 31, quando chegava em Prost, o líder, a prova foi interrompida por medida de segurança. Prost parou seu McLaren/TAG na frente da bandeira vermelha, Ayrton a cruzou, mas o que contava era a volta 30. Como a corrida terminou antes da metade, os pontos foram computados ao meio: Prost 4,5 e não 9; Senna 3 e não 6… Se o GP durasse mais algumas voltas e Senna o vencesse, Prost teria ganho 6 pontos pelo 2º lugar, e conquistaria o título de 1984, que perdeu para Lauda por 72 a 71,5.
GP de Portugal – Estoril – 1985
Foi a primeira pole e vitória de Senna na Fórmula 1 — e ele fez também a melhor volta.
Debaixo de um verdadeiro temporal, Ayrton foi tão superior aos adversários nesse dia que só não colocou volta em cima do 2º colocado, Michelle Alboreto (Ferrari). Para se ter ideia das condições da pista, Alain Prost, que seria bicampeão naquele ano, rodou e bateu em plena reta dos boxes.
GP da Espanha – Jeres de la Frontera – 1986
Senna fez sua Lotus voar e marcou a pole com 8 décimos sobre Piquet (Williams). Mansell (Williams) e Senna foram os responsáveis pelo ‘‘movimento’’ da corrida. Quando tinha pneus bons, o inglês andou mais que todo mundo e assumiu a ponta. Quando os pneus acabaram, Senna o pressionou até recuperar a dianteira numa ultrapassagem arriscada. Prost aproveitou uma bobeada de Mansell e também o passou.
Mansell parou no boxe, colocou pneus macios novos e, a poucas voltas do fim, começou a virar cerca de 3 segundos mais rápido que o líder. Prost foi superado sem dificuldade.
Senna, com pneus desgastados, fez o que pode para se defender do ataque do ‘‘Leão’’.
Mansell o alcançou somente na última curva, colocou pela esquerda e os carros cruzaram a linha de chegada lado a lado. O Lotus número 12 venceu por míseros 14 milésimos. Mansell até sugeriu, brincando, que fossem dados 7,5 pontos para cada um.
GP do Japão – Suzuka – 1988
Prost tinha mais pontos, mas com o descarte dos piores resultados, Senna é quem estava na frente no campeonato, e para ficar com o título sem depender da corrida na Austrália teria que vencer no Japão. Largando pela 12º vez naquele ano na pole, Ayrton deixou o motor apagar na largada, conseguiu fazê-lo pegar no tranco — isso porque a reta em Suzuka é em descida —, caindo para a 14ª colocação.
Enquanto Prost liderava tranquilo, seguido por Berger (Ferrari) e Ivan Capelli (March), o McLaren número 12 iniciou uma recuperação espetacular: 1ª volta – 8º lugar; 2ª volta – 6º; 3ª volta – 5º; 4ª volta – 4º (a essa altura Prost estava a mais de 17 segundos a sua frente); 11ª volta – 3º (a 12,6 seg. de Prost); 17ª volta – 3º (a 5,5 seg. de Prost); 19º volta – 3º (a 1,2 seg. de Prost); 20º volta – 2º (Capelli era o 2º há muito tempo e chegou até ultrapassar o francês da McLaren por alguns metros na reta, mas quando Senna o alcançou, seu motor Judd quebrou); 27ª volta – 1º (Prost se atrapalhou com retardatários e perdeu a ponta). Dali em diante o brasileiro, ajudado por uma fina garoa, manteve uma média de 5 segundos de vantagem sobre seu companheiro de equipe, vencendo a prova com mais de 13 segundos de vantagem, depois das 51 voltas. Era o 6º título brasileiro na Fórmula 1 — dois de Emerson Fittipaldi (1972 e 74); três de Piquet (1981, 83 e 87).
GP do Japão – Suzuka – 1989
Alain Prost liderava do campeonato e Senna precisava da vitória para se manter na disputa. O brasileiro não sustenta a pole e perde a ponta da prova para o francês na largada. Durante 47 voltas a perseguição é ferrenha e Senna arrisca a ultrapassagem na última chicane, Prost fecha a porta e os dois batem. Enquanto Prost abandona Senna é empurrado e retorna à pista com o bico danificado. Ele faz uma volta assim, chegando sair da pista, vai para nos boxes, coloca um bico novo e cai para segundo, atrás de Alessandro Nannini (Benetton). Nas últimas cinco voltas Ayrton recupera uma desvantagem de 4,6 segundos, passa Nannini e vence a prova. O pódio atrasa, Senna é desclassificado por cortar a chicane. Punição que Jean-Marie Balestre (francês presidente da FISA) admitiu em 1996 ter sido forçada para favorecer Prost.
GP do Brasil – Interlagos – 1991
Senna ainda não havia vencido no Brasil por problemas mecânicos e por erros próprios, mas naquele ano nada o impediria. Novamente fez a pole e corria normal, principalmente depois do abandono de Mansell com o câmbio automático de seu Williams quebrado. Mas depois da metade da corrida o McLaren começou a perder marchas. A 5 voltas do fim, Ayrton se viu apenas com a 6ª marcha engatada, tendo que fazer um esforço enorme para manter o giro do motor nas curvas de baixa, e perdendo muita velocidade nas retas, o que permitiu a Patrese (Williams), que estava a 6 segundos do brasileiro, descontar 1 segundo por volta. Senna venceu a prova com menos de 3 segundos de vantagem para o italiano e parou na reta oposta com câimbras e espasmos musculares.
GP de Mônaco – Monte Carlo – 1992
A corrida em si foi uma das mais monótonas da Fórmula 1. Mansell (Williams) fez a pole e abriu uma diferença de 20 segundos para Senna (McLaren), que passara Patrese (Williams) na largada.
Apenas Alesi (Ferrari) e Schumacher (Benetton) ameaçaram fazer alguma ultrapassagem. Porém, a 7 voltas do fim, Mansell raspa no guard-rail e tem que trocar um pneu. Senna fica líder e três retardatários o separam de um Mansell enfurecido. Faltando 3 voltas o bico do Williams está colado na traseira do McLaren. O ‘‘Leão’’ tentou passar por todos os lados em todas as curvas. Tamanha era a superioridade do carro de Mansell que ele quase passou Senna por fora em algumas curvas. Ayrton venceu pela quinta vez em Monte Carlo, e desta vez por apenas 2 décimos. O inglês estava tão cansado que foi amparado por um bombeiro para ir ao pódio.
GP do Brasil – Interlagos – 1993
O McLaren de Senna era inferior aos Williams de Prost e Hill, tanto que o francês foi 1,8 segundos mais rápido que o brasileiro ao fazer a pole.
A corrida foi conturbada, caiu um verdadeiro dilúvio, muitos acidentes, entrada do pace car, Senna penalizado com 10 segundos… Prost errou na tática, foi pego pela chuva com pneus slick e acabou batendo em Christian Fittipaldi (Minardi). Depois de recuperar o tempo perdido, Senna deu um verdadeiro drible em Hill e assumiu a liderança. O motor Ford do McLaren quebrou assim que recebeu a bandeirada e Ayrton parou mais uma vez na reta oposta, onde o público invadiu a pista, marcando uma das mais belas imagens do esporte.
GP da Europa – Donington – 1993
Sem sombra de dúvida uma das maiores atuações de Ayrton da Fórmula 1 – juntamente com Japão 88 e Brasil 91 –; é também considerada uma das melhores corridas da história. Os Williams FW15C de Alain Prost e Damon Hill eram herdeiros diretos da superioridade de seu antecessor, o FW14B campeão com Nigel Mansell em 92. ‘‘Carros de outro mundo’’, nas palavras do próprio Ayrton. Prost havia vencido na África do Sul e Senna no Brasil. A pole era do francês – com um tempo 1,5 segundo mais rápido que os carros da segunda fila, seguido de Hill, Michael Schumacher da Benetton, Senna na McLaren e Karl Wendlinger da Sauber. No domingo, pista molhada, Senna largou mal e perdeu a 4ª colocação para Wendlinger quando Schumacher deu um “chega-pra-lá”, mas ainda na primeira curva Senna deu a volta por trás da Benetton e passou o alemão. Na sequência, passou Wendlinger por fora na terceira curva, e Hill na curva McLeans. Retardou a freada no S no final de uma reta, e na entrada do Haipin de Melbourne colocou por dentro e passou Prost, assumindo a ponta antes de completar a primeira volta. Com o decorrer da prova, Senna abriu uma imensa vantagem — chegando a colocar uma volta sobre o segundo colocado —, aproveitando as idas e vindas da chuva. Enquanto que Prost fez 8 pitstops, Senna fez 5 e ainda assim era mais rápido que todos, mesmo quando a pista estava molhada e era o único a andar com pneus lisos. A McLaren ainda faria uma parada muito ruim, mas nada que pudesse tirar a vitória de Ayrton, que chegou com 1m23s199 de vantagem para Hill, o 2º, e uma volta a frente de Prost, o 3º. O outro destaque da prova foi Rubens Barrichello (Jordan), que largou em 12º e completou a primeira volta na 4ª colocação, derrotou Jean Alesi (Ferrari) e Schumacher na disputa por essa posição e estava em 3º quando, a 6 voltas do final, a bomba de combustível quebrou. Isso em seu terceiro GP.