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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

CAMINHADA DE CINCO DIAS

Peregrinos elogiam o Caminho de Santiago  em Dois Vizinhos

Anie Jussara Fabris Casagrande e o padre Joel Sávio vieram de Criciúma e aprovaram a experiência.


Os peregrinos passaram por 30 comunidades do interior de Dois Vizinhos. Foto: Assessoria.

Por Alexandre Bággio – No meio da tarde de terça-feira, 30 de julho, os 50 peregrinos que faziam a caminhada teste do Caminho de Santiago de Dois Vizinhos concluíram o trajeto e foram recebidos com uma grande festa (e carreata) pelas ruas da cidade. Foram cinco dias para percorrer os 163,5 quilômetros na cidade e por 30 comunidades do interior do município. Durante o trajeto, sempre no fim da tarde, eram realizadas celebrações religiosas e foram inaugurados os marcos nas comunidades em Santa Maria, São Francisco do Bandeira, Santa Terezinha e Linha Conrado. O bispo diocesano dom Edgar Xavier Ertl celebrou a missa final, na igreja de Santo Antônio de Pádua.

Com grande experiência, o padre Joel Sávio, de Criciúma (SC), elogiou o trabalho que está sendo feito em Dois Vizinhos. “Estamos passando por uma troca de visão aqui no município. Quando pensamos que vai vir um grupo de 50 pessoas caminhar no interior de Dois Vizinhos, uma primeira visão que podemos ter é que se trata de um grupo de desocupados. Pelo olhar de quem está nas comunidades e isso foi uma coisa que ouvimos, tem-se um receio, fica aquele pensamento de o que eles vêm ver aqui? Agora, temos que pensar no que pode ser ganho nesse tempo. Eu tenho certeza que o interior passa a ser mais visto, mais valorizado, vemos a beleza dos locais. Às vezes, os moradores estão acostumados em ver aquele campo com as flores amarelas amanhecendo e talvez não veem essa beleza contemplativa que o peregrino vê, com esse olhar de fora. Os campos de trigo, mesmo que verdes, são lindos. Imagina quando estiver maduro. Você vê beleza, valor, carinho das pessoas que nos acolheram e essa virada de mesa vai acontecer agora. Não vai ser apenas uma ideia de um ou outro empresário, voluntário ou peregrino, mas um projeto da cidade de acolher pessoas de outros lugares do Brasil e países que possam vir conhecer o que temos para mostrar em Dois Vizinhos. E isso acontece de uma forma muito sutil porque o peregrino não incomoda. Ele vem, consome a cidade, fotografa, divulga e vai para casa e a cidade continua”, disse padre Joel.

Ao todo, 50 pessoas percorreram os 164 quilômetros. Foto: Assessoria.

Não é um grupo de forasteiros

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O padre Joel também fez uma reflexão sobre o que é ser peregrino. “A peregrinação não é uma novidade, a Igreja sempre estimulou como um ato de reflexão, de purgatório, de purgar os pecados. O ato de peregrinar não só alimenta o corpo, mas eleva a alma. Ela pode ser feita a pé, aos santuários, a locais de devoção, seja de carro, de ônibus, mas o ato de sair do seu conforto, local de segurança, para um ambiente novo sempre traz algo novo para a vida e para a espiritualidade”, refletiu.

Dois Vizinhos tem potencial para ser ponto de peregrinação

“Por isso, o ato de peregrinar é bom, positivo, e Dois Vizinhos tem potencial para ser um ponto de peregrinação. O caminho não é só pra gente. A comunidade que nos recebe merece um pequeno afago. Todos os dias, no fim da tarde, rezávamos a santa missa com a comunidade, nesse lado espiritual, e isso tranquiliza as comunidades. Não é um grupo de forasteiros que veio se aproveitar da comunidade, é um grupo que veio conviver, conhecer a história e celebrar com eles. Essa é uma marca positiva que vamos deixar.”

“O peregrino vai consumir, vai interagir com a comunidade, ele é espiritual, gastronômico, cultural, social…”

A peregrina Anie Jussara Fabris Casagrande também fez sua avaliação. “Peregrinar é diferente, é trazer pessoas que vêm se desapegando de várias coisas materiais, caminham só com a mochila e aí entra um problema porque os trechos são grandes e não temos, no caminho, bicas d’água. As casas, inclusive, são distantes umas das outras. Tivemos o apoio, com frutas, alimentos, bolachinhas, barrinha de cereal, água em abundância, paçoquinha com um carro de apoio, mas isso vai acontecer sempre? Outro ponto é que não tem lixeira e, bar, tinha um no Bairro São Cristóvão, em frente a Igreja, mas estava fechado. O peregrino carrega fruta, água, mas em pouca quantidade, então, agora tem que pensar como manter o caminho. As comunidades vão largar o serviço para atender as pessoas? Santa Paulina é um caminho semelhante que foi surgindo e a comunidade foi se organizando e a estrutura, acontecendo. Tem várias situações onde se observa uma melhoria das moradias, da comunidade, as pessoas passam a se comunicar melhor, o peregrino vai consumir, vai interagir com a comunidade, ele é espiritual, gastronômico, cultural, social, economia, então, ele traz desenvolvimento totalmente”, explicou Anie.

Ela também fez vários elogios. “Tem uma cidade, no Espírito Santo, chamada Ibiraçu, onde o caminho todo, de cinco dias, é circular e quem acolhe são os moradores. Não existe, no caminho, hotel. Então, os moradores foram se adaptando aos peregrinos, foram entendendo e uma das coisas que eu fui refletindo é que aqui precisamos trazer os duovizinhenses para o caminho. As comunidades foram excelentes, nos serviram muito bem, a comida foi afetiva pra mim, a polenta brustolada, o melado, enfim. É fácil? Não, mas quem está envolvido deve estar unido e falar a mesma linguagem. Quando houver divergência, o caminho começa adoecer e aqui aconselho que não permitam que isso aconteça. Alguém tem que chegar e falar pára! chega! As comunidades estão perfeitas, redondinhas, muitos falaram que fazia tempo que não uniam a comunidade e que o caminho motivou a reunião”, destacou Anie.

“Fomos cantando até a casa da dona Iracema”

Ela também se impressionou com uma senhora que estava esperando os peregrinos passar. “A gente estava passando, estávamos brincando em um ponto de ônibus, falei pra fazermos a foto, e a senhora estava nos olhando lá da casa dela. Aí eu lembrei de uma música, a Linda Rosa Juvenil, e fomos cantando até a casa da dona Iracema, de 82 anos, que estava esperando a gente há duas semanas, porque disseram que a gente ia passar. Ela se emocionou quando chegamos cantando, rindo, brincando. Ela não entendia o que era aquilo,  e disse: “Vocês não imaginam o que fizeram pra mim hoje”. Elogiamos o ambiente dela, a casa, um jardim florido, foi muito emocionante. Não adianta caminhar, caminhar, caminhar e não olhar para os lados. Cada cenário, cada foto que tiramos, a gente reflete, mostra alguma coisa”.

A peregrina também sugeriu incluir as escolas. “

O Caminho de Compostela eu fui três vezes e, em todas elas, vi escolas, crianças e jovens, participando, mesmo que seja de alguns trechos. Temos que organizar para as crianças participarem, isso pode ser construído. Fazer uma revista, um livrinho, pras crianças entenderem quem é Santiago. Temos que trazer as comunidades junto, não só como acolhida, mas entendendo o que é um peregrino. Onde estão nossas dores? O caminho, sendo peregrino, ou de turista? Quando vem um caminho de turista é diferente de peregrinar. O peregrino se conecta consigo mesmo, com a natureza e com o criador”, conclui.

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