JdeB – “Uma pessoa de fé, uma pessoa que se preparou para esse encontro definitivo com Deus.”
A frase é do padre Émerson Detoni, na celebração de despedida do ex-prefeito beltronense João Batista de Arruda. Segue na íntegra o comentário do padre Detoni, sobre a morte, Jesus e a crença na vida eterna.
“O Evangelho que nós acabamos de ouvir é parte do discurso de despedida de Jesus, feito naquela Quinta-Feira Santa, às vésperas de sua morte. Ele estava ciente que entregaria a sua vida no dia seguinte, mas de certa forma também queria deixar conforto para os seus discípulos. E por isso que a primeira frase do Evangelho era esta: ‘Não se perturbe o vosso coração’.
Mas é verdade que a morte sempre nos perturba. Por mais que a morte seja uma certeza que nos acompanha durante toda a nossa vida, a morte sempre nos perturba e traz alguns pontos de interrogação. O porquê da morte? Por que Deus fez isso? Permite que alguém que a gente ama morra. Às vezes as pessoas chegam até nós e até dizem: foi Deus que quis. Será que Deus quer a morte de um filho seu? A morte não é querida por Deus; a morte faz parte da nossa fragilidade, da nossa natureza humana, tanto que o próprio Jesus, quando assumiu a nossa condição humana, precisou passar pela morte e o pai não impediu a morte de Jesus, assim como não impediu a morte do seu João Arruda, mas o pai não abandonou Jesus na morte, assim como não abandona o João Arruda na morte.
Quando humanamente nós não podemos fazer mais nada, quando a ciência se cala, Deus vem em nosso socorro e nos leva à morte, para viver a eternidade junto dele. Por isso, a primeira leitura que nós ouvíamos dizia que a vida dos justos está nas mãos de Deus. Das mãos de Deus saímos, para as mãos de Deus nós estamos caminhando. O ser humano não caminha para o nada da morte. Sempre que nos colocamos num caminho, nos colocamos com uma meta ou objetivo a ser alcançado, e o nosso objetivo não é a morte; o nosso objetivo é a felicidade plena. O nosso objetivo é a verdade, é a eternidade, o nosso objetivo último é Deus. Das mãos de Deus saímos, para as mãos de Deus um dia nós retornaremos, porque a ressurreição é o centro da nossa fé.
São Paulo diz que se Jesus não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vazia, não teria sentido eu rezar, não teria sentido eu ir à igreja, mas o mesmo São Paulo disse: ‘Eu vi Jesus ressuscitado, e todo aquele que Dele crê também um dia ressuscitará’. E, como eu dizia no início, nós estamos diante de uma pessoa de fé, uma pessoa que se preparou para esse encontro definitivo com Deus. Na quinta-feira, veio o padre Tiago, passou lá, visitando-o e fez a unção dos enfermos, e na sexta ele teve uma melhora e disse: ‘Eu quero confessar os meus pecados para o padre’. E quando eu fui conversar com ele, ele disse: ‘Padre, eu não sei se eu vou sair daqui ou não, mas eu quero estar em paz. Por isso que eu pedi para confessar os meus pecados, para estar em paz’. E a condição é esse sacramento do perdão e da paz, alguém que se preparou para esse encontro com Deus.
A morte sempre é triste, claro que é, mas quando nós nos preparamos para esse encontro com Deus, essa tristeza se envolve de esperança. O nosso choro, como eu dizia no início, não é mais um choro de desespero, é um choro carregado de esperança, porque acreditamos que o seu João Arruda continua a sua vida junto de Deus. Existe uma diferença muito grande entre morrer com Deus ou morrer sem Deus. A morte sem Deus é desesperadora, assim como o sofrimento sem Deus é privado e acendido, e a vida sem Deus muitas vezes também pode ser vazia. Existe uma diferença muito grande entre viver com Deus, sofrer com Deus e morrer com Deus. A morte com Deus é carregada de esperança. O sofrimento é aliviado pela presença de Deus, e a nossa vida carregada desse sentido.
Então nós acreditamos, sim, em terminar o curso da vida terrena deixando todo o legado que o seu João Arruda deixou, como um homem público, mas também um ser, um ambiente familiar, como esposo, como pai, como avô, como pessoa que aqueles mais próximos conviveram e conheceram. Nós acreditamos que terminar essa vida terrena, deixando todo esse legado, ele continuou a sua vida junto de Deus. A morte é triste, mas mais triste do que a morte é chegar na morte sem ter vivido bem a vida. Viver a vida não é fazer de tudo; viver a vida é passar pelo mundo fazendo o bem, deixando um legado nas pessoas que nós amamos, deixando as nossas marcas de bem na sociedade com as pessoas com as quais nós convivemos.
Então nós agradecemos ao seu João Arruda por tudo aquilo que ele foi e por tudo aquilo que ele fez, e pedimos que Deus o acolha no seu reino sagrado e a ele a recompensa pelo bem que fez. Nós queremos continuar rezando de maneira especial pela família, pela esposa, pelos filhos, pelos netos, participam também a presença de Deus nesse momento de dor. Deus não coloca cruzes nas nossas costas, ele nos ajuda a carregar, e às vezes nós não vemos Deus, mas ele está mais perto do que nós imaginamos. Às vezes nos dando força e enxugando inclusive as nossas lágrimas. Nós choramos a morte de quem amamos; o próprio Jesus chorou a morte do amigo Lázaro, mas nunca é um choro de desespero; choramos a dor, o vazio, a saudade. O nosso choro é carregado de esperança, porque acreditamos na vida eterna.”