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Francisco Beltrão
terça-feira, 01 de julho de 2025

Edição 8.236

01/07/2025

Especialista, que vive há 44 anos nos EUA, sugere abordagem mais rígida para drogas no Brasil

Planta de canabis. Foto: Imagem de Erin Stone por Pixabay.

JdeB – Jefferson Sá, um brasileiro que vive nos Estados Unidos há 44 anos, esteve recentemente em Francisco Beltrão, onde tem familiares, e durante entrevistas para veículos de comunicação, como a Rádio Educadora e o Jornal de Beltrão, compartilhou suas preocupações sobre a problemática das drogas no país norte-americano e ofereceu sugestões sobre o que o Brasil deve fazer após a recente legalização (via decisão do STF) do porte de até 40 gramas de maconha para usuários.

Jefferson Sá é CEO da Sunrise Community Counseling Center, uma organização fundada em 1976, onde trabalha há 32 anos, empresa que presta serviço ao governo estadunidense. Ele também atua como diretor de pesquisas para o governo federal dos EUA desde 2000 e tem vasta experiência internacional em tratamento de dependentes químicos, tráfico humano e intervenções em desastres naturais e guerras. Ao longo de sua carreira, trabalhou em 27 países, incluindo Israel, Palestina, Tailândia, Japão, Canadá, Coreia do Sul e vários países da América Central e do Sul, além de participar de operações de salvamento e reconstrução após furacões e terremotos nos Estados Unidos.

Sá destacou que, em 2023, 8,2 milhões de jovens americanos, entre 12 e 17 anos, estavam em tratamento com medicação devido a problemas de saúde mental, sendo a maioria decorrente do uso de drogas. Em Los Angeles e Long Beach, duas cidades com cerca de 4,3 milhões de habitantes combinados, 1,6 milhão de pessoas usaram drogas no ano de 2023. O condado de Los Angeles possui aproximadamente 500 organizações para tratar dependentes químicos e alcoólatras, mas a capacidade é insuficiente, atendendo apenas 50.000 pacientes por ano.

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Provando drogas mais cedo
Ele relatou que, até 2016, crianças em Los Angeles começavam a experimentar maconha entre 12 e 13 anos, mas atualmente a idade inicial caiu para 9 anos. Ele criticou a legalização da maconha, afirmando que ela abre caminho para a legalização de outras drogas e dificulta o tratamento dos usuários, uma vez que o tratamento para uma droga não impede o uso de outra. “A legalização da maconha nada mais é do que a legalização das drogas em geral”, afirmou. “Torna-se impossível tratar o paciente; você trata uma droga, mas o paciente pode continuar a usar a maconha.”

Para o Brasil, Sá propõe um protocolo rigoroso para o uso e porte de maconha, similar ao controle de armas. Este protocolo incluiria exames psicológicos e físicos, certidões de antecedentes criminais, comprovação de residência e atestados de saúde. “O indivíduo faria exames psicológico e físico. Teria que tirar certidões de que não tem ficha criminal, residência, atestado de saúde, nada deve, etc.” Além disso, qualquer pessoa com licença para usar maconha deveria passar por testes mensais de HIV e seria proibida de fumar perto de menores de 18 anos.

Em caso de reclamações de vizinhos, o usuário seria advertido pela polícia e multado entre R$ 1.000 e R$ 3.000 em caso de reincidência. Sá sugere que todos os funcionários públicos, desde cargos básicos até a presidência, sejam submetidos a testes de drogas sem aviso prévio a cada três meses e monitorados. “Não queremos um advogado defendendo uma causa sob efeito de maconha, um piloto, cirurgião, enfermeira, engenheiro, uma funcionária de um banco, um motorista de ônibus, táxis e muitos outros”, ressaltou.

Empresários regulamentados
Quanto aos traficantes, o especialista propõe que sejam tratados como empresários regulamentados, com licenças renováveis a cada seis meses e proibição de empregar menores de 18 anos. Eles também precisariam de licença de usuário de maconha e passariam por exames de urina e testes de HIV mensais. Além disso, pontos de venda de maconha deveriam estar localizados a uma distância mínima de 1 km de escolas, hospitais, asilos e igrejas. Os entregadores de maconha precisariam ter as licenças adequadas e vínculo trabalhista, incluindo benefícios como férias e 13º salário. Sá acredita que essas medidas poderiam aumentar a expectativa de vida dos traficantes de baixo e médio escalão, que atualmente é de apenas 2,5 anos no Brasil. “Com essas medidas, a média de vida desses indivíduos irá se estender.”

Jefferson Sá também ressaltou a importância de modernizar o protocolo de tratamento de drogas no Brasil, que ele considera ultrapassado, e implementar novas técnicas de prevenção desenvolvidas nos últimos 20 anos. Ele apontou a fragmentação da família, a perda de valores sociais e a aceitação da violência como fatores que agravam a situação. Ele também destacou a influência negativa das tecnologias modernas, como celulares e computadores, que promovem um comportamento de gratificação imediata, prejudicando o desenvolvimento cognitivo dos jovens. “O adolescente hoje tem dificuldade de criar um pensamento quando faz leitura de um livro onde as sentenças sejam mais complexas”, comentou Sá. “Isso se deve à falta de estruturas sociais, fragmentação da família, conflitos de identidade sexual, perda de valores sociais e aceitação da violência como normalidade.”
Sá concluiu suas observações afirmando que é crucial para o Brasil adotar uma abordagem mais rígida e estruturada para lidar com a questão das drogas, a fim de proteger a sociedade e garantir um futuro mais seguro e saudável para as próximas gerações.

“A sociedade tem que ser protegida através de um protocolo para o usuário da droga assim como aqueles que vendem a droga”, finalizou.

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