Depois de perder uma perna em acidente, a técnica de enfermagem conta como está sua reabilitação e o desejo de voltar ao trabalho.

Por Niomar Pereira – Após 18 dias internada, Neusa Brancaleone, de 61 anos, recebeu alta hospitalar no dia 13 de março e agora segue em recuperação em casa. Ela foi vítima de um grave acidente na noite de terça-feira, 25 de fevereiro, por volta das 21h15, entre a ponte e o radar da Avenida Natalino Faust, próximo à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Francisco Beltrão. Em decorrência da colisão, Neusa teve a perna esquerda amputada acima do joelho.
Na tarde de quinta-feira, 20, ela e o marido, Miguel, receberam a reportagem do Jornal de Beltrão e, apesar da gravidade do ocorrido, demonstraram força e determinação para se adaptar à nova rotina.
Neusa anda de motocicleta há cerca de 20 anos e nunca se envolveu em acidentes. Inicialmente, utilizava a moto como meio de transporte para o trabalho, devido à sua economia. Após adquirir um carro, a motocicleta passou a ser usada apenas para saídas rápidas.
“Eu trabalhava na policlínica, como não tinha transporte, e precisava de algo mais econômico. Além disso, estava estudando e trabalhando. Antes mesmo de me tornar técnica de enfermagem, eu já trabalhava na policlínica, lá na copa. Quando decidi voltar a estudar, a moto se tornou a opção mais viável para mim.”
Acidente causado por motorista alcoolizado
De acordo com a Polícia Militar, o motorista do veículo que a atingiu estava alcoolizado. O teste do bafômetro confirmou a ingestão de álcool, apontando 1,44 mg/L no sangue, um índice muito acima do permitido por lei. Ele foi preso em flagrante e indiciado por lesão corporal gravíssima no trânsito e embriaguez ao volante.
O dia do acidente

Neusa conta que o dia 25 de fevereiro começou como uma rotina normal de trabalho até receber a notícia do falecimento de uma amiga. “Eu levantei, meu horário era das 7h às 19h. Trabalhei normalmente e fui para casa depois do expediente”, relata.
Após preparar um chimarrão e jantar, decidiu ir ao velório na Cidade Norte. “Falei: vou lá me despedir da colega, porque de manhã pode ser mais difícil, já que cuido dos netos.” Como iria sozinha, optou por ir de moto. “De noite o trânsito costuma ser tranquilo. Peguei minha Biz, que não é uma moto rápida, e fui.”
No trajeto, ao passar pela UPA e atravessar a ponte, percebeu que um veículo fazia uma ultrapassagem perigosa. “Vi os carros [era uma fila com três veículos] vindo normalmente e, de repente, um VW Gol saiu para ultrapassar. Quando vi a luz, pensei: meu Deus, ele vai mesmo ultrapassar? Só consegui gritar. Tentei desviar, mas minha moto é lenta e não tive tempo. Fui para a margem e caí.”
O resgate e a descoberta da amputação
No momento do impacto, Neusa não sentiu dor intensa na perna. “Senti o sangue escorrendo, algo quente, mas a dor maior foi no braço, onde tive um corte.” O pé dela foi arrancado no momento da colisão.
Os primeiros a prestar socorro foram populares que estavam no local. “Um rapaz me conteve para eu não me mexer. Ele percebeu a gravidade. Enquanto isso, ouvi pessoas gritando para não deixarem o motorista fugir, mas alguém respondeu que ele estava tão bêbado que mal conseguia ficar em pé”, relembra.
O choque maior veio quando o médico do Samu chegou. “Ele disse que meu pé havia sido amputado. Entrei em desespero, pedi para salvá-lo, mas eu nem sabia que já tinha sido arrancado no impacto.”
Quando a equipe médica retirou seu capacete para colocar o colar cervical, Neusa fez um último pedido: ser levada para o Hospital Regional, onde trabalhava e se sentiria mais confortável. “Na ambulância, quando me colocaram na maca, passaram as dores e eu só sentia o pé quente e repetia para eles salvarem meu pé.” No hospital, depois da avaliação médica, a equipe constatou que era necessário amputar a perna acima do joelho. Neusa recebeu sedação na terça-feira e só foi acordada na sexta-feira. “Parecia que tinha dormindo um pouquinho só. Daí acordei consciente e tudo, mas naquilo eu já lembrei que eu estava lá por conta do acidente. Passei a mão, já não via a perna. ”
Neusa é técnica de enfermagem e já atuou na UTI do Hospital Regional, onde acompanhou muitas vítimas de acidentes. Alguns tiveram a oportunidade de se recuperar e retornar às suas famílias, enquanto outros não. Essas experiências a motivam a retornar ao trabalho, pois apesar do triste acidente, agradece por estar viva. Por isso não pretende ficar em casa sem fazer nada. “Ainda não me aposentei, faltam alguns anos. Estou fazendo fisioterapia, vou colocar uma prótese e pretendo voltar ao trabalho. Sei que precisarei mudar de setor, mas quero voltar a atuar.” Ela trabalhou por 12 anos na UTI adulto e agora estava alocada na Central de Materiais do hospital.
Indignação
Apesar de sua resiliência, Neusa está profundamente indignada. “Ele (motorista alcoolizado) me tirou de cima da moto e me colocou numa cadeira de rodas. Sempre fui ativa no trabalho, em tudo. E agora me vejo aqui, dependendo de tudo e de todos. Sei que a readaptação será uma luta. Não será algo imediato, mas vou lutar com todas as forças para voltar ao trabalho. Ainda tenho tempo de carreira. Não vou parar por aqui.” Ela pede que as pessoas dirijam com mais calma no trânsito e prestem atenção nos outros motoristas. “Já perdemos colegas no trânsito por estarem com pressa. A pressa leva a muitas infrações. Não vale a pena sair apressado, achando que vai economizar alguns minutos. Eu, por exemplo, sei que consigo chegar ao hospital em oito minutos, mas posso me deparar com caminhões na subida (do contorno), o que pode fazer com que eu demore até dez minutos. Então, se programem para sair com calma e não em cima da hora.”
Neusa trabalha no Hospital Regional desde sua fundação, um ano como PSS e 14 anos como concursada. E tem ainda mais 12 anos de trabalho na Policlínica de um período anterior. Ela é casada com Miguel, como mencionado no início, mãe da Aniqueli e da Francieli, avó da Heloísa, 24 anos, da Angela, de oito anos, e do Miguel, com sete anos.