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Francisco Beltrão
terça-feira, 17 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

Seminário São José, berço de muitos padres da região, será desmanchado ainda este mês

Seminário São José, berço de muitos padres da região, será desmanchado ainda este mês

A congregação ?Missionário do Sagrado Coração? ? os Padres Belgas ? chegou em Francisco Beltrão em 1957. Desde então, os religiosos começaram a lecionar para jovens, que mais tarde, possivelmente, se tornariam padres.
Foi então que o Seminário São José iniciou suas atividades, no bairro Santo Rosa, de 1964 a 1966. De acordo com padre Harry ?Ari? Van Briel, um dos diretores do seminário, a construção do prédio histórico começou no bairro Vila Nova, em setembro de 65 e encerrou em abril de 66, quando então, iniciaram as aulas do seminário menor ? ensino do 2° grau.
Conforme conta padre Ari, durante os 36 anos em que o seminário funcionou, vários seminaristas passaram pelo local. ?Os dois primeiros anos, quando ainda era um instituto em Santa Rosa, passaram por lá 50 alunos. Depois, em seu primeiro ano de aulas no seminário, já no Vila Nova, bateu recorde de 72 seminaristas. Nos anos subseqüentes, passaram pelas salas do seminário 60, 50, 30 estudantes. Na década de 90, os últimos anos de funcionamento do seminário, o número já havia baixado muito, com 15 a 12 alunos, terminando com apenas seis seminaristas, em 2002, seu último ano?, observa padre Harry.

História do seminário
Conforme suas anotações e lembranças, padre Harry nomeou os padres que moraram nas dependências do Seminário São José e foram diretores da instituição, entre eles: Padre Vitor (por dois anos no instituto Santa Rosa e um ano no seminário), Willy, Harry ?Ari? Van Briel, Lamberto Poelmans, Agenor Girardi (também, um dos primeiros seminaristas), Dirceu, João Garbossa, Aloir Salla (último diretor do seminário), René Van Looy, Valério, irmão Alberto e padre Ulrico, que hoje dá nome a um dos bairros da cidade.
Segundo Harry, foram muitos os seminaristas que passaram pelo local e se tornaram padres: ?O padre Agenor, o Getúlio, Vitorino José Hang, Ademir Mantovani, Antônio Teixeira, Airton Grespan, Aloir Salla, Antônio Bartolomeu da Cruz (um dos padres mais antigos formados no seminário), Dirceu Lopes, Genésio Pereira da Silva, Jalmir José Rigo, João Garbossa, José Vieira de Souza, Mario Roessler, Maurício Serafim da Costa e Loacir Goulart de Figueiredo (atual Superior Provincial). Todos eles começaram como seminaristas e formaram-se padres dentro do seminário São José.?
Além dos padres, passaram pelo seminário muitos colaboradores, entre eles, os professores José Santolim e Abílio.
Mudança de filosofia
Além de servir de escola normal para os estudos do 2° grau, o seminário também possibilitou aos que por lá passaram várias outras atividades. Segundo padre Ari, o seminário sempre teve participação direta com a comunidade beltronense. ?No local havia uma oficina de encadernação de livros, trabalhos artesanais e teatrais. Além disso, posso garantir que o seminário abrigou entre os anos 60 e 70, torneios de futebol bem famosos, com a participação de mais de 30 times?, recorda o padre, afirmando que os estudos, em meados da década de 60 eram feitos no próprio prédio. Desta data em diante, os seminaristas freqüentavam as salas de aula na cidade.
É até interessante lembrar, que naquela época, a filosofia da igreja era diferente. Como diz o padre Ari, ?a filosofia da educação é outra agora?. Isso quer dizer, que antigamente os meninos entravam no seminário com 11, 12 anos, e ficavam no local até se formarem padres. ?Hoje, os jovens estudam normalmente nas escolas públicas da cidade e, quando decidem seguir a vida religiosa, já com 18 anos, são acompanhados pelos sacerdotes. Esse contato com os religiosos é para averiguar se realmente o jovem tem vocação para ser padre?, avalia o padre.
Quando perguntado se ele concorda com a mudança de filosofia, ele garante que ?isto não significa que a instituição do sacerdócio diminuiu, mas sim, que a filosofia é outra?. Padre Ari ressalva também que esta mudança é positiva, pois, dessa forma, o adolescente permanece mais tempo com sua família, além de freqüentar o ensino normalmente, para então, ser recebido como padre, se assim o desejar.

Do início ao fim
Somando janelas e portas do Seminário São José, com paredes de 60 metros de comprimento, entre 10 e 12 de largura e dois andares, são cerca de 100 aberturas. O prédio foi feito com madeira de pinheiro, resultante de uma doação do governador Moisés Lupion (1962) de aproximadamente 3.000 pinheiros aos padres. Padre Ari diz que a maior parte dessa madeira foi usada na construção do local, a outra parte foi vendida para comprar materiais elétricos e hidráulicos. ?Eu mesmo viajei até São Paulo, dirigindo um caminhão para vender essas madeiras?, lembra padre Ari, mostrando com orgulho e alguns risos as fotos de sua longa viagem.
Além da falta de seminaristas, devido às mudanças de filosofia da igreja, outra razão para desmanchar o antigo seminário é a preocupação com a segurança. ?A estrutura da construção é bastante antiga, são muitas portas e janelas de pura madeira de araucária. No caso de um incêndio, seria praticamente impossível conter as chamas. Isso, sem falar na parte elétrica, que já está bastante deficiente. Para evitar futuros problemas, decidimos demolir a estrutura. Neste mês, os trabalhos já iniciam?, anuncia.
Por enquanto, não será feito nada no imóvel, apenas será mantida a parte construída na década de 90, já de alvenaria, para reuniões e encontros de seminaristas e padres da congregação.
Princípios mantidos
Não é somente a história do Seminário São José que ficará marcada na memória e lembranças da comunidade. Para padre Ari, é relevante dizer que, de maneira geral, todas as pessoas que estudaram no seminário conservaram os ensinamentos recebidos neste período para o resto da vida: ?Hoje, encontro ex-seminaristas que eram muito jovens quando passaram por lá, que mantêm suas vidas dignas e comprometidas com os princípios e fundamentos repassados. Histórias de vida que começaram no seminário e trilharam caminhos honrados?, comenta.

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