Pinheirinho, o pioneiro da Cidade Norte
Por Cristiane Sabadin
Nos meados da década de 80, Francisco Beltrão ?repartiu-se? em Cidade Norte e o restante dos beltronenses. A divisão é geográfica, já que para chegar no bairro Pinheirinho é preciso percorrer uma distância de, pelo menos, dois quilômetros, passando pela avenida Antônio Barbieri, até o trevo que dá acesso à avenida Atílio Fontana.
Ainda em 1980, a Cidade Norte era apenas uma vila rural que dava acesso ao município de Dois Vizinhos, e foi ?gerada? pela Chapecó-Sadia, como contam o advogado Sadi de Marco e o ex-prefeito João Arruda (confira entrevista na íntegra no quadro ao lado).
História de crescimento e sucesso
Há dois anos à frente da Associação de Moradores do Pinheirinho e há 14 anos morador do bairro, Anildo Krug, 40, fala sobre o desenvolvimento do lugar que é o berço da Cidade Norte.
Para Anildo, se foi o tempo em que o Pinheirinho não tinha ruas organizadas e beleza. Hoje, a realidade é outra. ?Melhorou a estética do bairro. Tudo está mais bonito. As pessoas se preocupam com a fachada de seu comércio, ou seja, com a impressão que irão passar para as outras pessoas. Estão investindo aqui?, avalia o presidente.
Dois filhos criados no Pinheirinho
O casal Olides e Iraci Celuppi, 57 e 52 anos, respectivamente, é exemplo de quem construiu uma vida feliz no Pinheirinho. Para dona Iraci, que reside há 28 anos no bairro, o lugar só lhe trouxe alegrias. ?Quando cheguei aqui, era tudo mato. Não tinha nada. Hoje o bairro é grande, moderno, bonito. Tudo é bom pra mim aqui. Afinal, criei meus dois filhos aqui?, ressalta.
Olides chegou no Pinheirinho com oito anos ? há mais de quatro décadas no bairro que deu origem à Cidade Norte.
Com a história de vida longa no Pinheirinho, dona Iraci está satisfeita com quase tudo. Para ela, ainda falta uma agência bancária, uma lotérica e uma unidade dos Correios: ?Temos que ir para o centro quando precisamos desses serviços. Mas no mais, só tenho elogios. O bairro melhorou bastante desde o primeiro dia em que viemos morar aqui?.
Iraci Celuppi é filha do primeiro barbeiro do Pinheirinho, seu Joaquim Ferreira de Morais, falecido há nove anos.
Um bairro que cresceu
Há anos, especulou-se sobre a criação de um município na Cidade Norte. Hoje, a realidade é outra. Muitos moradores reconhecem o desenvolvimento do lugar e avaliam como um ?marco? a instalação da Chapecó no Pinheirinho (hoje empresa Sadia, no bairro que leva o nome do grupo).
Para o presidente da associação, além de toda a estrutura física do Pinheirinho, como o maior colégio estadual do Sudoeste ? o Tancredo Neves ?, o maior Caic da região (o Atílio Fontana), o maior número de conjuntos habitacionais, a associação São Cristóvão, o Instituto de Criminalística, o 24 Horas, o ginásio de esportes Sarará e comércio forte, o bairro melhorou em segurança.
?Com a vinda do Projeto Povo, da Polícia Militar, sentimos que a criminalidade diminuiu. Em outros tempos era complicado a violência aqui. Claro, ainda existem problemas, como em qualquer outro bairro, mas dá pra dizer que melhorou 80%. Hoje dá pra caminhar na rua com a família, tranqüilamente?, afirma Anildo.
Outro aspecto ainda deficiente é o transporte coletivo. Com poucas linhas que dão suporte ao bairro, a superlotação é uma adversidade diária dos moradores que precisam ir para outros locais para trabalhar: ?Às vezes numa lotação com capacidade para 40 pessoas, tem 80?.
Infância na vila rural
Bonfilho Marchiori, 86 anos, é praticamente uma ?instituição? no bairro Pinheirinho. Com sua esposa Gercemina Marchiori, falecida há cinco anos ? quando completou 83 anos ?, tiveram dez filhos.
A história de luta da família começou no Pinheirinho. Hoje, o advogado João Marchiori, um dos filhos do casal, lembra com carinho da vida simples daquele tempo. ?Nós residíamos na ponte de madeira do Rio Santa Rosa, que dava acesso a Dois Vizinhos e Verê. Na época eu tinha oito anos, e meu pai adquiriu essa propriedade ? até hoje o senhor Bonfilho mora no mesmo local. Tinha uma escola pequena, bem na bifurcação da rua. Lembro que uma turma ficava de costas para a outra. Era lição para duas turmas ao mesmo tempo. Meu professor era Evaristo Castanha?, recorda.
Naquele tempo, com 35 anos, o professor Evaristo Castanha, hoje com 72, lembra com carinho dos alunos e da escola de madeira Vasco da Gama: ?Era como lecionar no interior. Depois, a escola passou a se chamar Casemiro de Abreu?.
Onde hoje está o conjunto habitacional Sadia, havia uma grande concentração de casas, todas de madeira, que formavam a famosa ?zona do Santa Rosa?. João lembra dos casarões antigos, com ponto de táxi, mulheres que lavavam e costuravam para as prostitutas: ?Meu pai e minha mãe eram rigorosos e tradicionais na parte religiosa, então nós víamos aquilo, mas a mãe… (risos). Devia ter no forte do movimento da casa umas 100 mulheres. Começou a haver muita pressão da parte religiosa, aconteceu um declínio. Mas vimos muitas coisas por lá, como a história de homens que gastavam muito dinheiro, em apenas uma noite. Era muita briga, confusão?.
Em termos de progresso, a chegada da Chapecó no bairro é indiscutível, mas trouxe os primeiros problemas para o meio ambiente. ?Nós tomávamos banho no rio, depois da instalação da empresa não deu mais?, comenta.
Naquela época, a família Marchiori tinha poucos vizinhos, entre eles, Pedro Deon (falecido), Adão Carvalho, famílias Zanini, Ferrari, Borghezan e Celuppi. ?Começou vir tanta gente de uma hora pra outra no bairro, mas faltou estrutura. Tanto é que até hoje falta rede de esgoto, não tinha iluminação, água. A ocupação foi feita de maneira desordenada. Entre o que tinha no Pinheiro e o que passou a ter, se viu em três anos mil famílias chegarem lá?, recorda o advogado. Muita gente veio para o bairro oriundo do enfraquecimento da agricultura. A maioria dos primeiros moradores do Pinheirinho eram agricultores. ?Vinham com o sonho de trabalhar na Chapecó, mas não tinha como absorver todo esse pessoal?, diz.
O pai de João continua morando no Pinheirinho. Por isso, todos os dias, o advogado volta para o bairro de sua infância: ?Vou almoçar lá. Faço todo dia o mesmo trajeto de quando criança?.