Dentista que teve menos de 4 mil votos assume vaga de Enéas Carneiro
(AE) – O corpo do deputado federal Enéas Carneiro (PR-SP) foi trasladado para da capela 9 do Memorial do Carmo no bairro do Caju, zona portuária do Rio de Janeiro, para o crematório às 13h30 de ontem (07). A cerimônia religiosa e a cremação foram reservadas à família. De acordo com assessores do PR, a família cumprirá o desejo do deputado de ter suas cinzas espalhadas pela Baía de Guanabara. Enéas morreu dia 6, às 14 horas, no Rio, no apartamento de sua família, vítima de leucemia
A dentista Luciana de Almeida Costa assumirá a vaga do deputado Enéas na Câmara. A suplente do PR (fusão do Prona com o PL) obteve 3.980 votos nas eleições do ano passado e era assessora de Enéas. Luciana tem 33 anos e é formada em Odontologia. Natural de Barretos, concorreu à vaga de deputada federal pelo Prona, partido fundado por Enéas em 1989 e que em 2006 se uniu ao PL.
Passaram pelo velório parlamentares como os deputados federais, Jair Bolsonaro (PP-RJ); Jorge Bittar (PT-RJ); Valdemar Costa Neto (PR-SP) e o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP). Pouco menos de 100 pessoas acompanharam a saída do corpo.
Perfil
Acreano, Enéas vivia no Rio há cerca de 40 anos. Médico cardiologista, ele dava aulas no Rio e em São Paulo, cidade onde também mantinha residência. Apesar de o deputado ter sido eleito pelo Estado de São Paulo, ele passava mais tempo no Rio onde moram duas de suas três filhas. Debilitado pelo tratamento contra leucemia ele decidiu deixar o hospital Samaritano no bairro de Botafogo, zona sul do Rio – onde fez exames há quatro dias -, e permanecer em casa, no bairro das Laranjeiras, também na zona sul.
Em 2002, o médico cardiologista Enéas Carneiro (PR-SP) foi o deputado federal mais votado da história do País, com 1,5 milhão de votos.
O deputado iniciou sua carreira política em 1989. Segundo ele, por insistência da esposa que afirmava estar cansada de ouvir o marido reclamar dos políticos e da situação do País. Neste mesmo ano, criou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona) e ficou conhecido pelo bordão ?Meu nome é Enéas?.
Médico cardiologista, Enéas era filho de um barbeiro e uma dona de casa e nasceu em Rio Branco, no Acre. Aos nove anos perdeu o pai e começou a trabalhar para ajudar a família. Aos 20 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola de Saúde do Exército e, em 1959, graduou-se como terceiro-sargento auxiliar de anestesia.
Deixou o Exército em 1965 e, no mesmo ano, formou-se na Faculdade Fluminense de Medicina, com especialização em cardiologia.
Com apenas 17 segundos na TV criou o bordão que lhe renderia 360 mil votos na eleição presidencial em 1989. Em 1994, com pouco mais de um minuto na TV, Enéas ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, com 4,67 milhões de votos, perdendo apenas para os então candidatos no primeiro turno Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 1998, com 70 segundos na TV, Enéas conseguiu expor algumas de suas idéias nacionalistas, como a defesa da fabricação ?pacífica? da bomba atômica para que o Brasil fosse ?mais respeitado?. Contudo, não conseguiu manter o bom desempenho da eleição anterior e terminou o pleito em quarto lugar, com 1,4 milhão de votos.
Logo após sua votação recorde para deputado federal em 2002, que garantiu vaga no Congresso para outros cinco deputados de seu partido, Enéas foi acusado pela Justiça Eleitoral de São Paulo de promover a venda de legenda a candidatos. Nas eleições de 2006, já debilitado, foi reeleito deputado, cargo que exercia até o agravamento da doença.