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Francisco Beltrão
segunda-feira, 23 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

Para o bem humorado David Coimbra, a civilização é uma invenção da mulher

Para o bem humorado David Coimbra, a civilização é uma invenção da mulher

Badger Vicari

Um livro sobre mulheres bonitas e influentes, avisa o jornalista gaúcho David Coimbra sobre seu mais recente lançamento, ?Jogo de damas?. E o que eu escrevi no título é o que ele aborda, num texto bem humorado e de leitura que nos prende do início ao fim. Quem criou a civilização, há 12 mil anos, foi a mulher e seu instinto materno e familiar. ?A mulher inventou a agricultura e, inventando a agricultura, inventou a civilização. Aos poucos ela convenceu o homem, o Sapiens, a se fixar no solo. Mostrou que era muito mais vantajoso e muito menos perigoso plantar, colher e comer do que sair pela floresta, dando lançaços em javalis. Foi a mulher, também, a primeira a domesticar um animal para que ele vivesse junto à aldeia primitiva e, depois, servisse de alimento. O primeiro animal domesticado pela mulher não se sabe qual foi. Talvez a cabra, o cachorro ou a galinha. O último, isso é certo, foi o homem?.
O livro começa assim, especulando sobre o início dos tempos civilizatórios, nos convencendo que a natureza do homem é selvagem, que o homem não se adapta à civilização, que o teatro, a literatura, a música, as esculturas, a política, as guerras, o aquecimento global e o controle remoto ? invenções masculinas ? nada mais são que a rebeldia do homem selvagem contra a civilização, uma invenção feminina, reforça David Coimbra de tempos em tempos durante as 170  páginas de ?Jogo de damas?.
Antes da civilização: ?o mundo, masculino em sua totalidade, girava devagar e prazeroso, sem horários e responsabilidades. Nós homens passávamos a vida a atirar flechas em bisontes, a espetar peixes com dardos aguçados e a colher os frutos sumarentos das árvores (…), dormindo quando bem entendêssemos, comendo quando nos desse fome e, lógico, reproduzindo-nos sem culpa, trocando de parceiras com a camaradagem típica do gênero masculino, fazendo sexo a qualquer hora, ninguém era de ninguém. Ninguém era de ninguém!?
Com a civilização: ?não nos adaptamos a essa invenção feminina (…). Diversão. Eis nosso objetivo, no Planeta Terra. As mulheres pensam em responsabilidades. Filhos. A continuidade da espécie. Nós queremos nos divertir. É pedir muito? É demais? Decerto que não. Mas elas não compreendem. Elas nos chamam de imaturos, mandam-nos para analistas. Terapia! Puá! Mais um truque feminino, mais uma tentativa de domar o que existe de puro em nós homens, o que reside no fundo do nosso espírito, a saudade do tempo em que tudo era belo e simples debaixo do sol?.

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David nos apresenta mulheres históricas ? e todas belíssimas, segundo ele ?, a começar por Ródope. Eu nunca tinha ouvido falar de Ródope e seu pezinho número 32, mas foi ela, ele garante, que inspirou Charles Perrault a escrever a história da Cinderela e seu sapatinho de cristal, 25 séculos depois da existência de Ródope, que enlouqueceu um faraó numa noite de amor. Uma noite, diga-se, de 60 horas! Sim, quando amanheceu o faraó imediatamente baixou um decreto avisando que ainda era noite…
Em seguida vem Aspásia de Mileto, ?o mais belo corpo da Grécia?. Ela, ex-cortesã, foi a grande paixão do todo-poderoso Péricles. Da Grécia também nos chega Frinéia.
Vamos lá: ?Conta o historiador Plínio, o Velho, que, um dia, a cidade de Cós encomendou uma estátua de Afrodite, a deusa do amor e da beleza, ao famoso escultor Praxíteles. Famoso e esperto. Praxíteles era um dos amantes de Frinéia. Sabia, portanto, que não havia mulher mais formosa em todas as ilhas gregas e adjacências. Pediu que Frinéia posasse para ele, e ela topou, que felicidade. Praxíteles fez duas Afrodites, uma nua, outra vestida. Os habitantes de Cós acharam uma imoralidade a Afrodite nua e preferiram a vestida. Já os de Cnidos ficaram com a nua. Gol de Cnidos?.
David Coimbra é o editor de esportes de Zero Hora e se notabilizou por crônicas que têm o futebol como pano de fundo.

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As conhecidas Cleópatra e Lou Salomé eu já sabia da existência. Cleo foi a paixão fulminante e duradoura dos dois homens mais poderosos do seu tempo, Júlio César e Marco Antônio. ?Marco Antônio e Cleópatra se suicidaram juntos, comovendo Shakespeare, que, séculos depois, imortalizaria o romance entre o arrebatado general romano e a astuta rainha do Egito?.
Lou Salomé, além de bonita e gostosa, era inteligente. Seus amantes atestam isso: os filósofos Paul Rée e Friederich Nietzsche, o psicanalista Sigmund Freud e o poeta Rainer Maria Rilke, para citar os bem conhecidos.
Por falar em Nietzsche, o livro reserva umas páginas para falar de filosofia. Mas não se assuste, é de forma divertida, informando que grandes estudiosos tiveram decepções amorosas, por isso se dedicaram à reflexão e a constituir fortalezas do pensamento.
Espinosa: para ele, Deus não estava fora do homem, interferindo no destino. Deus estava dentro do homem e em toda natureza. Tudo é tudo, a razão de existir é simplesmente existir.
Kant: superior à razão e à religião estaria a moral. Ou seja: o ser humano está preparado para viver em sociedade porque intui que precisa obedecer regras morais.
Schopenhauer: o fundamento de tudo é a vontade (ou o desejo, como preferiu Freud, se inspirando em Schop.)

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Voltando às mulheres. A famosa filha de papa, Lucrécia Bórgia, não poderia faltar. ?Era a mulher mais linda da Itália. Magra, alta, elegante e loura, devia ser algo como as nossas meninas de Cruz Alta e Horizontina?, escreve David.
Catarina de Médicis e a rainha Margot também estão no livro. A francesa Marie Duplessis igualmente. Amante de Alexandre Dumas Filho, Marie foi a inspiração para o clássico ?A Dama das Camélias?. Há também Teodora (?de prostituta a imperatriz?) e Messalina (?a maior devassa da civilização?)…
Um parágrafo, nas últimas páginas, é virtuoso naquilo que o divertido livro nos quer dizer: ?Ródope arrebatou o coração de um faraó com uma única noite de amor; Frinéia seduziu uma corte de 200 homens apenas mostrando as curvas harmônicas do seu corpo nu (…); por Lucrécia Bórgia, um papa e um príncipe transformaram-se nos maiores assassinos da Itália; a rainha Margot e sua mãe, Catarina de Médicis, mandaram em metade da Europa; a Dama das Camélias enlevou a França; Lola Montez derrubou um rei; e Mata Hari foi a espiã nua que abalou Paris?.

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Neste início de 2008, em vez de assistir BBB, passe nas livrarias ? Dalba, Renascer ou Fonte Nova ? e encomende o livro do David Coimbra. E depois leia, claro.

Badger Vicari, é jornalista do Jornal de Beltrão

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