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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Alvina Paranhos: Doutor Paranhos e José Rupp morreram muito cedo

Sede Paranhos, principal distrito de São Jorge D`Oeste, leva este nome em homenagem a seu fundador, o advogado Antônio Conceição Paranhos (8.12.1909 a 25.6.1981). Quem fala sobre ele e um pouco dessa longa história, iniciada há mais de 50 anos, é a viúva, dona Alvina, que alterna sua vida entre um apartamento de Curitiba e uma fazenda, a cinco quilômetros da sede do distrito, numa volta do rio Chopim.
Se alguém perguntar por Albina Stolf, mesmo moradores do lugar poderão não saber de quem se trata. Ela explica a origem de seu nome: “Eu nasci em Timbó (SC), era uma cidade de alemães, e meu pai, que era descendente de italianos, foi me registrar em Rio do Cedro. Só muitos anos depois ele foi ver que registraram Albina, que está no documento, mas todos me conheciam por Alvina, até hoje”.
Em seus documentos também não consta o sobrenome Paranhos, porque ela e Antônio nunca foram casados, nem pelo civil, nem pelo religioso. Mas viveram como marido e mulher, de 1959 até a morte dele, em 1981, de infarto, em Curitiba, onde ele está sepultado. Alvina e Antônio tiveram somente um filho, Antônio Conceição Paranhos Filho, o Toni, que reside em Campo Grande (MS), onde é professor universitário.
A fazenda da volta do Chopim onde dona Alvina recebeu a reportagem do Jornal de Beltrão é grande, mas já foi maior. Teve gado, hoje somente lavouras de soja – de outras pessoas que lhe pagam arrendamento – e reserva de mata. No escritório, ela tem documentos históricos sobre a colonização de São Jorge D`Oeste, incluindo um mapa detalhado de toda a divisão de lotes urbanos e rurais; livros, um quadro com uma foto sua do tempo de solteira, uma foto do filho ainda menino e nenhuma foto do marido. Diz que muita coisa está em Curitiba. Ela doa um livro publicado pelo filho, “Sensoriamento Remoto Ambiental Aplicado”, em parceria com outros dois profissionais da área (o geólogo Giancarlo Lastoria e a engenheira ambiental Thais Gisele Torres), pela UFMS.
Dona Alvina doa também a cópia de uma reportagem sobre Antônio Paranhos, publicada pelo jornal O Globo de Palmas, em 22 de março de 1969, sobre a instalação do Ginásio Agrícola do distrito Dr. Antônio Paranhos. O que ela não concorda, porém, é ser fotografada. “Não, depois que morreu o dr. Paranhos, nunca mais fotografei, nem com os meus netos.”
Os netos são Antônio Conceição Paranhos Neto e Giacomo Neri da Rocha Paranhos, ambos estudam em Curitiba. Tem dedicatória do pai, no livro, a quem Paranhos Filho se refere como “meus pimpolhos”.
Antes da entrevista é bom lembrar que o advogado Antônio Paranhos, natural da Bahia, fez sociedade com José Rupp e, com ele, colonizou toda a área que hoje é o município de São Jorge D`Oeste. Após a morte (prematura, 64 anos) de José Rupp (4.1.1898 a 17.3.1962), a sociedade continuou com o filho José Henrique Rupp.
JdeB – Como era o José Rupp?
Alvina – Uma pessoa amiga, que se dava muito bem com Doutor Paranhos. Dois amigos. Eles sempre se entenderam bem. Aliás, toda a família, sempre se deu bem. O José Rupp, ele tinha seu papel que era uma pessoa dinâmica. Naquela época tinha que ser uma pessoa que tivesse positivo, que puxou muito do Rupp, a gente sempre diz o velho Rupp, foi o Jorge, o Jorge é o avô em pessoa (Jorge Henrique Rupp, engenheiro agrônomo e professor, é filho de José Henrique Rupp, neto do pioneiro José Rupp, reside em São Jorge, é casado com a professora Marizete Debortoli e tem dois filhos, Pedro Henrique Rupp e José Henrique Rupp Neto).

JdeB – Cópia do avô?
Alvina – É, calmo, tranquilo. Uma pessoa muito calma.

JdeB – O Doutor Paranhos viajava muito, advogando?
Alvina – Sim, ele advogava, quando fizeram o negócio junto porque tinha que ter recurso, o Paranhos saía pra advogar e mandava o dinheiro, vinha, lógico, ele vinha seguido, mas demorava até seis meses sem ver. E ele mudou com a família pra cá. A dona Emerita (Bueno de Oliveira Rupp, 26.4.1903 a 15.5.1986, esposa do José Rupp), uma pessoa também fora de série, companheira. Acompanhava ele, foi bem educada, companheira.

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JdeB – E como  é que o Doutor Paranhos, que era baiano, acabou parando aqui em São Jorge do Oeste?
Alvina  – Quando ele veio da Bahia pro Rio, e do Rio ele veio pra resolver essas questões aqui em Palmas e Clevelândia. O governador trouxe, era o Lupion naquela época. Foi ali que ele tinha esse dinheiro pra receber do Estado. De terra, naquela época era muita briga em Palmas, Clevelândia. Aí o Estado não tinha dinheiro pra pagar.

JdeB – Pagar os honorários dos advogados.
Alvina – Foi aonde que entrou essas áreas de terras. Como forma de pagamento. O José Rupp também era dessa indenização que ele teve dessa estrada de ferro.

JdeB – E daí fizeram a sociedade?
Alvina – E aí fizeram a que tá aqui, o senhor vê aí, fizeram uma sociedade os dois juntos. Daí o Rupp faleceu, e aí como eu falei né, morre o líder, acaba a história. E mesma coisa com o Paranhos, acabou a sede.

JdeB – Se o Paranhos tivesse vivido mais alguns anos…
Alvina – Os dois, os dois. Se os dois tivessem demorado mais pra partir, eles teriam feito sucesso aqui, um núcleo muito grande. Dos dois eles tinham projetos, puro, mas infelizmente trouxe a história antes do que…

JdeB – Como que foi a morte do doutor Paranhos?
Alvina – Foi em casa, de infarto, mas em Curitiba. Tava conversando, assistindo televisão, foi assim.  Até ele tava com a viagem marcada pra vir pra cá, porque ele ia pra Curitiba, ficava um mês, dois, depois ele vinha.

JdeB – E da morte do José Rupp, o que a senhora lembra?
Alvina – Eu lembro da morte do seu José Rupp, mas ele era doente, não tinha nem condições. Em pouco tempo tinha aberto aí, não tinha nem estrada direito, que nós vinha aqui pelo, não era Quedas, era Campo Novo. É nós vínhamos por ali, não tinha ainda estrada pra São João, Chopinzinho, Dois Vizinhos, nós passava a balsa aqui na fazenda que era o Pagnoncelli hoje.

JdeB – Como vocês se conheceram? A senhora e o Doutor Paranhos?
Alvina – Se conhecemos em Curitiba. E o Paranhos era advogado duma… que hoje são meus compadres mas falecidos também, eu me dava muito com as moças, com meu compadre, e o Paranhos era advogado dele, conheci ele num churrasco na casa do meu compadre.

JdeB –  E namoraram muito tempo?
Alvina – Não. O seu Paranhos era solteiro e eu também. Nós nunca fomos casados. Até hoje eu sempre falo pro meu filho, não é o papel que faz o casal, se não fosse a partida dele, nós ainda estaríamos juntos. Em 58 eu vim com ele, porque nós vínhamos de avião. Daí eu ficava umas horas aqui e depois eu ia embora. Conheci isso aqui tudo através de avião, depois foi que engravidei do meu filho (em 1966). 

JdeB – A senhora morou aqui mas sempre teve casa em Curitiba?
Alvina – Sempre, sempre um apartamento em Curitiba. Logo em seguida nós compramos um apartamento, e mudamos pra esse apartamento, o nenê era pequeno. Depois o Paranhos era da opinião assim, o filho tinha que estudar, e estudar lá. Então era mais difícil. No tempo da construção da usina, sexta-feira à noite eu vinha de ônibus e trazia ele. Ele chegava da aula e nós embarcávamos às 9 horas, e passava o sábado e domingo aqui com o pai. Quando nós viajávamos de volta de ônibus, e ele ia pra aula, segunda-feira cedo, e nas férias não, nas férias ele passava aqui, mas toda semana eu trazia. Ele foi pro colégio militar, aí já era mais difícil pra mim.

JdeB – E a senhora lembra da primeira vez que veio pra cá, sobrevoando todo aquele mato?
Alvina – A gente era novo, tudo era uma aventura! A gente era nova. Sabe que eu gosto daqui. Por isso que ainda to aqui nesse canto. Se não, os problemas todos… Ai como é bom voltar lá. Aí tem que ir pra Curitiba porque tem os netos, né.

JdeB – Naquele tempo, a senhora fala, que tinha tanto bandido por aí, como que o Paranhos de virava?
Alvina – Mas não tinha bandido aqui. Não, era tudo gente passiva, o povo respeitava muito tanto o seu Rupp como o Paranhos, era um homem firme que comandava, e o povo respeitava, não era medo, era respeito, ele sabia se impor, como patrão.

JdeB – Andavam armados também os dois?
Alvina – Não, por eles levavam o revólver no porta-malas, o Rupp também, mas não de chegar, com o revólver na cintura,  não, não precisava, e nunca deram um tiro. Se tiveram que dar é por um bicho, mas senão, não.

JdeB – Ele gostava de caçar?
Alvina – Não. Nem de pescar.

JdeB – Da família do Dr. Paranhos veio mais alguém ou ficaram todos na Bahia?
Alvina – Não ficaram todos lá.

JdeB – Tem parentes lá ainda então?
Alvina – Tenho, tenho, da família do Paranhos tinha outro irmão também que ele era advogado, mas ele ficou na Bahia, Paranhos veio sozinho pro Rio. Escritório quando começaram a carreira de advogado e de lá que o Lupion governador trouxe do Rio. Mas o escritório dele ficou anos ainda no Rio, ele advogava, ele ia pro Rio, Brasília.

JdeB – A senhora também teve muita atividade, recebiam muita gente importante aqui, políticos, desde governador?
Alvina – Aqui veio, veio muito político, naquela época, a partir do Busato. O Ney Braga se hospedou, foi hóspede do Paranhos. O pessoal do Incra. Eu recebia, eu gostava. Era churrasco, a gente fazia festa, tudo era festa para nós.

JdeB – Foi um tempo bom.
Alvina – Foi, o Paranhos era uma pessoa muito alegre e ele não gostava de se isolar, ele gostava de movimento. Todo mundo respeitava ele assim, os empregados dele, nunca chegou chamar atenção assim. Se tava errado ele chegava e chamava “olha, não é assim..”.

JdeB – Ele chegou a ter muitos empregados?
Alvina – Teve, nossa! isso tudo aqui era mato! Essa estrada que o senhor vê, nós vínhamos numa outra estrada, que a gente abria a picada a foice, e a gente saía, tinha que levar foice, machado junto, serrote, tinha um jipe daqueles antigos, quantas vezes nós dormimos no jipe, porque a gente atolava, e nem o jipe não saía, passava aqui pelas Águas do Verê pra ir a Pato Branco. Meu Deus, pra ir a Pato Branco era quatro cinco horas, hoje é 90 km. Chovia, pronto, ninguém mais andava.

JdeB – Como que é passar uma noite no mato?
Alvina – É boa, dormia sentado, de manhã a gente podia enxergar o que a gente ia fazer, desatolava ou…

JdeB -E o projeto de município, a senhora acredita que pode virar município Sede Paranhos?
Alvina – Eu acreditaria, mas depende muito de muita gente. Se entrasse um deputado, que quisesse mesmo, nós podíamos criar novamente. Abriu aquele espaço, de quantos municípios que é pra ser criado. Mas infelizmente o nosso, quando foi criado o nosso município, o Nereu de Moura cancelou. E vou lhe dar o diário oficial pro senhor ver que eu não to mentindo, e o senhor leva.

JdeB  – O senhor acha que o Doutor Paranhos gostaria que tivesse criado.
Alvina – Lógico, porque se ele estivesse vivo ele teria. Naquele ano mesmo ele já estava com uns projetos, só que ele não era de falar, quando viaja tava. O município de São Jorge foi ele que criou, lógico, por causa da política, as leis que ele conhecia.

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