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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Onésio Miotto: Um empreendedor catarinense que apostou no desenvolvimento de Eneas Marques

O empresário Onésio Aquiles Miotto, 65 anos, catarinense do interior de Concórdia, decidiu se fixar no município de Eneas Marques, em 1969, após ter feito um curso de Defesa Sanitária Animal. A princípio, deveria se fixar em Xanxerê (SC), mas acabou vindo para o Sudoeste.  Onésio comprou uma casa veterinária de Ari Raitz e a mantém em funcionamento até hoje. O comerciante casou com Claudete e teve dois filhos: Danglê (odontóloga, mora em Toledo) e Cidney (médico veterinário em Londrina).
Nestas quatro décadas, Onésio teve participação importante na comunidade local. Presidiu o conselho de pastoral da Paróquia São José, foi tesoureiro da Apae e presidiu a APM da Escola Érico Veríssimo.
Entre 1983 e 1988 foi vice-prefeito na gestão de Antônio Carlos Bonetti, na época filiado ao PMDB. Onésio diz que não quis seguir na política e mantém suas amizades tanto com pessoas que são de situação quanto aquelas que são oposição ao prefeito Valmor Vanderlinde (PP).  Nesta entrevista, Onésio fala de sua vida, da empresa e do desenvolvimento do município.

JdeB – O que levou o senhor a vir a morar e trabalhar aqui em Eneas Marques em 1969?
Onésio – Na época eu havia feito um curso de Defesa Sanitária animal no Colégio Agrícola de Fragoso, em Concórdia (SC), pra trabalhar em Xanxerê, mas como não foi possível, me indicaram que poderia arrumar um trabalho aqui no Paraná, e fui informado pra vir pra Eneas Marques. Cheguei aqui em fevereiro de 69. A minha empresa tá registrada desde julho de 69 como Casa Agropecuária e hoje Agroveterinária Miotto.

JdeB – Nos primeiros anos tinha concorrência?
Onésio – Eneas Marques, quando eu cheguei, tinha uma veterinária do Ari Raitz, que eu comprei, e por muitos anos foi somente a Agroveterinária Miotto. Depois surgiram outras casas agropecuárias, até hoje existem, mas nós estamos nos mantendo na nossa atividade, sempre com humildade, simplicidade, trabalhando com honestidade e estamos aí até hoje.

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JdeB – Na época devia ser muito forte a suinocultura.
Onésio – Quando eu cheguei em Eneas Marques, quem dominava o nosso município com maior êxito dos agricultores era o feijão e o milho. Depois veio a época da suinocultura, por muitos anos, e hoje a suinocultura existe mais na parte da integração. Mas o que domina mais as pequenas propriedades aqui é a produção de leite.

JdeB – Francisco Beltrão era a capital nacional do feijão.
Onésio – É, eu me lembro bem que houve a Fenafe eu fui em Francisco Beltrão e havia as ruas enfeitadas com caixas de sementes de feijão, então me chamou muita atenção na época porque eu tinha participado.

JdeB – Como era em Eneas Marques, que tinha recém se emancipado?
Onésio – Quando eu cheguei em Eneas Marques não existia luz elétrica, era estrada de chão, até inclusive pra vir de Pato Branco, até Francisco Beltrão também era estrada de chão, muito difícil, com o ônibus atolando, caminhões. Logo que eu cheguei em Eneas Marques veio a luz elétrica, e continuou seu desenvolvimento até hoje.

JdeB – Como era naquela época sem energia?
Onésio – Eu acredito que nestes últimos 40  anos mudou muito. Na época, nem televisão nós não tinha, era rádio, calculadora só com manualzinho, pequena. E hoje a tecnologia ajuda muito, tanto que nós, a nossa empresa tá toda interligada com computadores, em programas, inclusive nos agrotóxicos, é tudo direto com os programas, com a empresa, com a Seab (interligada a Curitiba).

JdeB – O senhor acha que seria possível ter alcançado os níveis que tem em Eneas Marques sem a energia elétrica?
Onésio – Não, não! Seria impossível! Eu acho que isso foi um grande desenvolvimento público pro país inteiro, não só em Eneas e no Paraná. E a agricultura sempre dominou o nosso município e o Estado do Paraná. Também eu acho que a agricultura sempre foi a alavanca, a renda que existe no nosso município é através da agricultura, pecuária, pecuária e suinocultura e agora o leite.

JdeB – E os meios de transporte?
Onésio – Quando eu cheguei em Eneas Marques o que eu fazia no interior era a charrete e a cavalo. Depois, com muita dificuldade, comprei um jipe 65; depois foi um fusca, e fui continuando, mas eu andei muito a cavalo, a charrete, a pé, fazia algum atendimento, e hoje, graças a Deus, a gente tá com um esquema que dá pra se defender.

JdeB – E que tipo de serviços o senhor prestava no interior?
Onésio – Não, isso era uma assistenciazinha, ou pela prática que eu tinha pegado, pelo conhecimento que eu tinha adquirido, fui transmitindo para os pequenos agricultores e ainda hoje a gente faz, não o atendimento, mas orientações. E sempre fomos nos atualizando. Na época a gente vendia muitas coisas que hoje até nem existem mais, por causa do mercado, do desenvolvimento dos produtos, que cada vez são mais aperfeiçoados, e a gente tem acompanhado o mercado.

JdeB – Até onde o senhor ia de charrete ou a cavalo, ou a pé pra atender os produtores?
Onésio – Ah, nas comunidades aqui perto, Rio Vitória, Bela União, Rio Bocó. As comunidades mais próximas eu ia buscar a cavalo ou charrete porque não tinha, depois que eu consegui um jipe, aí eu comecei a fazer a vacinação pra febre aftosa, eu fazia muita vacinação no interior. Desde as primeiras campanhas de vacinação da aftosa nós estamos comercializando vacinas.

JdeB – E as estradas…
Onésio – Era tudo estrada de interior assim, não existia nem um cascalho, nem um quilômetro de estrada cascalhada. Inclusive, quando nós assumimos como vice-prefeito (1983 a 1988) não existia nem um quilômetro de estrada cascalhada em Eneas Marques. Naquele tempo até agora foi se desenvolvendo um trabalho para a melhoria das comunidades. Só que na época também as estradas não eram tão boas, os agricultores não usavam tratores e caminhões, hoje o transporte é bem mais usado, se dirige mais. Na época o agricultor saía a pé, a cavalo, de charrete, hoje cada um tem o seu carro. A própria entrega de ração e a agricultura exige muito mais estradas boas, mas na época existia rio que nós passava por dentro d’água.

JdeB – Como o senhor avalia hoje o município em relação ao que foi no passado em termos de agricultura e pecuária?
Onésio – Acho que se desenvolveu muito, e hoje nós temos um rebanho muito bom, principalmente na área de bovinos de leite. Hoje tem animais de qualidade, de boa genética, que concorrem com outros de qualquer município ou região. A suinocultura também desenvolveu muito, só que hoje a gente está na mão das integrações. Mas eu acho que Eneas Marques está num nível superior, senão igual a outros municípios. E a bacia leiteira aqui em Eneas Marques ela é muito bem estruturada.

JdeB – As casas agropecuárias têm uma importância grande porque  fornecem os insumos.
Onésio – Sim. Pra nós melhorou muito depois que chegou a Parmalat em Eneas Marques, acho que com a Parmalat nós tivemos um arranque na época (1996), que se iniciou o laticínio, e dali pra frente as casas agropecuárias começaram a acompanhar. Eu me lembro bem que a nossa casa era pequena, e ainda é pequena, mas melhorou muito, acompanhamos muito o desenvolvimento que, graças a Deus, melhorou bastante pra nós também. A gente vende muito ração, medicamentos, sementes, é o nosso forte do ramo.

JdeB – O senhor também foi presidente do conselho pastoral da igreja.
Onésio – Nós fomos várias vezes festeiros, presidente do conselho acho que fui umas três ou quatro, vezes aqui da matriz. O nosso pavilhão não tinha nem água encanada, e a gente procurava trazer água de um poço que existia no morro do Vanderlinde, e nós fazia todo esse trabalho. E era um pouco mais complicado pra fazer, hoje é bem mais fácil, mas exige muito dos associados, das pessoas que trabalham aqui até hoje.

JdeB – O pessoal era divertido? Colaborava?
Onésio – Era divertido, era bem… até uma festa mais, sei lá, era festa de churrasco, bolos, saladas, jogos, essas coisas… Tinha a tradição dos alemães que vieram de Santa Catarina, que faziam aqueles bolos e cucas. Era uma festa bem divertida e bem mais caseira que as festas de hoje.

JdeB – O senhor nunca pensou em continuar na política?
Osédio – Não. Eu acho que na época, quando eu fui vice-prefeito, eu até queria, mas depois, como passou aquela fase, hoje eu acho que tem que pensar em pessoas mais novas, pessoas com mais disposição, e eu não é que tô fora da política, sempre participo, mas o meu interesse agora é cuidar bastante do nosso negócio, manter as amizades com todo mundo. E outra: quem tem comércio, com política é difícil de manter, eu sei porque eu passei por isso. Nesses anos em que eu fui vice-prefeito eu não perdi dinheiro, mas eu deixei de ganhar, porque eu me dedicava mais para a política e deixava o meu negócio. Então, por isso que foi uma das metas que nós decidimos, foi ficar só com a nossa empresa.

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