Filho dos pioneiros Vitório e Vitalina Dalagnol Traiano, Ademar Luiz Traiano é o primeiro beltronense nato a se eleger deputado. Começou sua carreira política no ano de 1982, quando se elegeu vereador por Santo Antônio do Sudoeste com a maior votação de vereador em toda a história do município, 1.041 votos, recorde até hoje não superado. Em 1985, elegeu-se prefeito de Santo Antônio, com 6.015 votos, número também até hoje não superado por nenhum dos prefeitos eleitos em toda a história do município.
Bem votado como vereador e como prefeito, Traiano iniciou sua carreira no legislativo estadual em 1990. Elegeu-se deputado estadual com 11.658 votos, pelo PRN.
Em 1994, concorrendo pelo PTB, fez 17.067 votos e ficou na suplência, mas acabou assumindo por meio mandato. Em 1998 se reelegeu pelo PTB com 29.881 votos. Depois mudou para o PSDB e se reelegeu mais três vezes: em 2002 com 41.312 votos, em 2006 com 34.666 votos e em 2010 com 37.991 votos.
Nesta entrevista ao Jornal de Beltrão, Traiano fala das dificuldades de suas campanhas e dos planos que ele tem para o Sudoeste no governo de Beto Richa, do qual ele é o líder na Assembleia.
JdeB – No sistema político de hoje, como um deputado sobrevive oito anos na oposição, como aconteceu com o senhor de 2003 a 2010?
Traiano – Com muito trabalho e, acima de tudo, com credibilidade, porque nem sempre se ganha o jogo, o importante é ter postura, ter lado, e se há uma coisa que sempre pautou a minha vida pública foi exatamente isso, ter lado, nunca me curvar aos interesses, benesses de governo e, é lógico, tudo o que faço na vida eu faço com os pés no chão e consciente do que pode dar certo e do que pode dar errado, essa sempre foi a minha característica. Sei das dificuldades que vivi ao longo desse tempo, mas ampliei os meus espaços, não fiquei limitado à região porque eu tinha consciência das dificuldades que eu iria passar em função de ter sido oposição ao longo desses oito anos, mas ao tempo em que eu tive dificuldades de atender os municípios, eu ganhei o respeito do Paraná porque o eleitor é sábio, é inteligente, ele sabe discernir aqueles que têm postura, até porque nem todos são do mesmo lado, nem todos são governo, e os que pensam de forma diferente sempre se somam aos deputados que escolhem um lado para advogar. E por essa razão eu acho que, se houve uma coisa que me ajudou a voltar como deputado, foi exatamente isso, a minha clareza nas minhas posições, de ter tido independência na minha vida pública, nunca me render aos interesses e aos benefícios que poderiam momentaneamente resolver a minha situação, mas em termos de futuro não. Eu sempre fui um homem que tive uma posição muito clara em relação àquilo que eu busco. Eu não sei ser pela metade, eu não ando pela metade, eu ou ando por inteiro, ou não ando. E agora estou colhendo os louros desse trabalho, dessa postura clara com relação ao quadro político do Paraná, e vou viver um novo momento, com certeza, ao lado do governador Beto Richa.
JdeB – Mesmo estando na oposição, sem viabilizar obras com seus projetos, como um deputado de oposição conseguiu tantos votos fora de sua região?
Traiano – Exatamente porque eu construí uma imagem política no Paraná, pela minha postura, pela minha clareza e por ter escolhido um lado, no quadro político paranaense, e, portanto, aqueles que se somavam ao projeto Novo Paraná, do nosso governador Beto Richa e do PSDB, tinham uma clareza que em estando no governo do Beto Richa, o deputado Traiano seria um dos nomes fortes dentro do novo governo. E, já de pronto, aqueles que fazem política vislumbram a possibilidade de estar nas prefeituras daqui a dois anos, eles escolhem o lado, e muitos escolheram o meu nome fora de região Sudoeste do Paraná, ex-prefeitos, mesmo postulantes ao cargo de prefeito daqui a dois anos, e se somaram ao nosso nome, e através do PSDB eu pude construir esse trabalho fora do Sudoeste do Paraná, e que garantiu a minha eleição, na própria capital, o trabalho de base, nos bairros. Lamentavelmente existe uma cultura no quadro político, e isso eu tenho, fico triste até em afirmar que os prefeitos apenas vislumbram o momento da liberação dos recursos, muitas vezes esquecem tudo aquilo que um parlamentar fez no passado enquanto governo, e acabam distanciando-se do deputado e isso, é lógico, cria dificuldades para o deputado de oposição. Mas eu não quero viver de passado, eu quero enxergar pra frente, vislumbrar um novo momento, e ganhamos a eleição, o importante é isso, e quero ser muito útil para o Sudoeste e para os municípios do Paraná que me deram sustentabilidade política.
JdeB – De todas as eleições que o senhor já fez pra deputado, qual foi a mais difícil?
Traiano – Olha, eu acho que essas duas últimas, em função de eu ter me mantido na oposição, você fica no ostracismo durante muito tempo. Eu falei, e reafirmo, lamentavelmente poucos são aqueles que valorizam deputados de oposição, e você acaba ficando praticamente no anonimato, portanto encolhe a possibilidade de você ter uma presença mais marcante nas regiões onde você atua. A eleição passada, na minha avaliação, foi a pior de todas as seis eleições que eu disputei de deputado estadual, até porque eu tive uma posição muito clara com relação ao PSDB do Estado, eu rompi com o postulante ao cargo de vice-governador, que era o deputado Hermas Brandão, presidente da Assembleia, nós nos colocamos contrariamente, eu e o deputado Valdir Rossoni, e como tal eu recebi uma marcação muito forte do próprio governo na época, onde eu tinha um companheiro político e o governo acabava entrando no município e levando meu companheiro através de benesses, através da influência do prefeito, e eu fiz a pior eleição de todas, e principalmente no Sudoeste do Paraná. A eleição de 2006 foi a pior para mim, com certeza, mas não me arrependo por nada. E agora nesse governo com certeza nós teremos essa posição privilegiada pela postura em relação a todo esse período que eu vivi na oposição.
JdeB – O Beto Richa tem dito que, mesmo tendo perdido a eleição no Sudoeste, não vai discriminar, ao contrário, disse que o Sudoeste vai ter um período bom no governo dele. O que nós podemos esperar deste governo?
Traiano – O governo Beto Richa é um governo totalmente diferente daqueles que estiveram nos últimos 20 anos no Paraná, é um jovem empreendedor, de visão aberta, não guarda mágoas, não tem ranço, é um homem de espírito desarmado, agregador, e tenho a convicção de que tem um grande projeto político pela frente porque o tenho como uma das referências da política nacional. O Beto hoje é o supra-sumo das melhores lideranças políticas no PSDB do Brasil, por isso eu tenho certeza de que ele fará um excepcional governo, e não importa o resultado eleitoral do Sudoeste, o que vale na verdade é estar no poder e poder a partir de agora escrever um novo momento, e uma nova história para o Paraná e para o Sudoeste. Se eu fosse guardar mágoas e ressentimentos, da mesma forma eu não estaria prestigiando a região, pelo contrário, nós precisamos mostrar, a partir de agora, que nós seremos melhor do que o governo anterior para podermos convencer a região a estar conosco a partir da próxima eleição de deputado e governador. Eu penso assim, e tenho certeza que o Beto pensa da mesma forma, nós vamos contemplar os interesses do Sudoeste, vamos trabalhar intensamente para melhorar a nossa condição política na região. Nós temos que reverter essa situação inversa que tivemos na eleição atual, isso só depende da nossa ação política, e acima de tudo de saber respeitar a vontade da gente do Sudoeste do Paraná.
JdeB – Sabe-se que o Estado tem muito compromisso, arrecada bastante, mas gasta bastante também. O Beto Richa tem uma forma nova pra fazer sobrar dinheiro para investimento, como ele vai fazer isso?
Traiano – Não tenha dúvida de que ele vai fazer um governo vigoroso, como ele sempre afirma, vai fazer um enxugamento da máquina, reestruturar, fazer uma reengenharia do governo, trará já de imediato para o Paraná um instituto que recompôs as contas públicas de Minas, e lá foi um sucesso absoluto, a administração do Aécio, e aqui no Estado não será diferente, nós haveremos de fazer um enxugamento da máquina, readequar tudo que está acontecendo, há muito dinheiro indo pelo ralo, o desperdício do dinheiro público é enorme, e isso tudo com certeza será revisto. Se nós formos olhar aqui no Sudoeste como exemplo, poderíamos dizer até que o governo gasta de uma forma desordenada, nós temos aqui um custo altíssimo de aluguel de salas, diversos núcleos estão instalados em Francisco Beltrão com um custo altíssimo para o governo, nós temos que repensar isso, construirmos quem sabe uma estrutura administrativa que possa agregar tudo isso, que elimine gastos, desperdícios do dinheiro público, e que, ao tempo que se gaste esse valor em quatro anos de mandato, você possa investir num imóvel, e o imóvel é do governo, e deixa de gerar despesa. E não tenha dúvida, vamos fazer crescer a receita, o Beto vai fazer uma política fiscal forte, no sentido de novos investimentos para o Paraná, vai valorizar os empreendedores do Estado, propiciar oportunidades para que possamos gerar emprego através de novos investimentos e aumentar a renda per capita da população paranaense e, acima de tudo, fazer aumentar a receita do Estado.
JdeB – Suas propostas para os próximos quatro anos como deputado de situação: o deputado Traiano vai se dedicar mais à parte legislativa ou administrativa dos municípios?
Traiano – As duas coisas em conjunto, eu acho que, como deputado de uma região rica como é o Sudoeste do Paraná, com potenciais de toda ordem na área agrícola, na área de turismo, na área industrial. Eu sempre tenho afirmado que nós temos que valorizar muito nossos empresários locais, se há uma região que nunca teve incentivos fiscais do governo é o Sudoeste. Nós temos grandes empresas hoje que geram emprego e têm a sua marca nacionalmente conhecida nascidas no Sudoeste, fruto da capacidade de organização e empreendedorismo dos nossos empresários que começaram pequenos e se tornaram grandes. E eu quero, além de atender aos municípios, voltar as minhas atenções no sentido de fortalecer o nosso empresariado do Sudoeste. Buscando políticas públicas que possam criar oportunidades para o empresariado e é lógico que aliado a isso nós teremos as questões regionais que serão defendidas pelos prefeitos que têm propostas, como é o aeroporto regional, o curso de Medicina. Eu dizia na campanha aqui em Francisco Beltrão que eu iria lutar para podermos, quem sabe nos próximos quatro anos, criar uma universidade pública com sede aqui no Sudoeste. Esta é a minha grande proposta, eu já trabalhei intensamente para estadualizar a Facibel. Porque até então não tinha ensino público gratuito aqui no Sudoeste e ao tempo que nós temos aí cinco ou seis cursos da Unioeste, se nós trouxermos uma universidade para a região, nós teremos 20 ou 30 cursos. E isso é riqueza, porque nós traremos aqui gente de todas as regiões do país e consequentemente isso também traz divisas para a região. Esse é um sonho que eu quero construir, além de abraçar, é claro, as causas regionais, as propostas que as associações dos prefeitos elencaram como prioridade e aí nós teremos as particularidades de cada município.
JdeB – Pelo que o senhor fala, o curso de Medicina já estaria consolidado e o senhor está pensando mais ainda. Quer dizer, seria apenas o começo?
Traiano – Não tenha dúvida que já esta avançando essa possibilidade de termos o curso de Medicina, até porque temos aqui praticamente uma infraestrutura montada que é o hospital regional e, no passado, eu fiz alguns pronunciamentos não condenando a construção do hospital, acho que é uma ideia brilhante. A minha preocupação sempre no passado era no sentido de não termos aqui a possibilidade de um elefante branco, porque não adianta ter apenas o hospital, temos que estruturar o hospital, colocar profissionais, médicos, dar as condições necessárias para que ele possa funcionar e ser operacionalizado e eu acho que agora o novo governo tem essa responsabilidade de investir fortemente na saúde e o Beto tem dito isso constantemente, nós já estamos cuidando disso na equipe de transição, para aplicarmos os 12% na saúde, porque os governos anteriores atingiam os 12% que é responsabilidade constitucional, mas da seguinte forma: os valores que a Sanepar investe em saneamento se contabiliza como recurso da saúde. Nós queremos eliminar isso, nós queremos 12% especificamente para a saúde. E é lógico que, com essa infraestrutura do hospital, isso propicia a possibilidade de termos o curso de Medicina e alguns outros avanços muito grandes. Nós temos que fazer no Sudoeste um grande canteiro universitário. Nós temos em uma das universidades particulares aqui já na região, institutos federais, mas em termos de universidade pública estadual nós não temos nenhuma a não ser a extensão da Unioeste, enquanto outras regiões têm. Nós precisamos trabalhar, eu não quero afirmar aqui que eu vou fazer, mas quero dizer que eu vou me empenhar com as forças políticas da região, com todos aqueles que querem construir esse projeto, trabalhar intensamente para fazermos com que isso se torne uma realidade na região.
JdeB – Na campanha deste ano, o que surpreendeu foram as informações desencontradas na pesquisa estadual, embora a Radar, que é de Francisco Beltrão, tenha acertado o resultado final. O que está acontecendo com as empresas nacionais que aqui no Paraná trabalharam desastrosamente?
Traiano – Uma vergonha o que está acontecendo com os institutos de pesquisa nacionais. Na verdade, eles servem como mercadoria de troca com os governos, estaduais e federal. Nós temos que repensar no Congresso Nacional, estabelecer regras rígidas com relação às pesquisas que são anunciadas nacionalmente, porque elas induzem os eleitores a tomar uma decisão que na verdade não reflete o sentimento do momento tanto em nível estadual como nacional. Nós conhecemos as pesquisas que estavam para ser publicadas no Paraná e se a equipe jurídica do nosso candidato Beto Richa na época não tomasse as providências, nós quem sabe poderíamos ter um resultado adverso no Estado. Porque elas têm influência no processo eleitoral. E, diga-se de passagem, condenou-se até o Beto Richa como responsável, pelo contrário, quem tomou a decisão foi o TRE do Paraná que impugnou as pesquisas em decisão unânime de sete a zero por decisão de todos os desembargadores. Porque os critérios que foram adotados eram indutores para o erro do resultado eleitoral. Graças a Deus, no Paraná nós conseguimos fazer com que as pesquisas não fossem anunciadas. Como nós tínhamos também a eleição do nosso governador Beto Richa totalmente diferente das pesquisas que estavam para ser anunciadas, nós precisamos rever isso e nós temos que render uma homenagem ao nosso instituto Radar que foi o único permitido a ser publicado como pesquisa no Paraná a três dias das eleições estaduais e que apontava a vitória do Beto Richa com quase 4% da eleição aqui do Estado e que durou apenas meio dia porque aí também os opositores acabaram fazendo com que saíssem já de imediato dos veículos de comunicação através de impugnação. Mas foi o único instituto que afirmou pelo menos durante os quatro dias que antecediam a eleição o resultado da eleição eleitoral no Paraná. Então tem que ser revisto, eu acho isso uma vergonha, os institutos nacionais vendem as pesquisas. Eu já fiz pronunciamento na Assembleia condenando esse tipo de comportamento e eles induzem o eleitor ao erro. Por isso nós temos que rever isso e essa é uma decisão do Congresso Nacional.
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O deputado beltronense Ademar Luiz Traiano. |