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Francisco Beltrão
quinta-feira, 26 de junho de 2025

Edição 8.233

26/06/2025

Opinião: No mundo da uva e do vinho

Opinião: No mundo da uva e do vinho

Durante esses dias que escrevo, algo me conforta. Mesmo estando a pouco menos de 500 km da minha cidade natal, a sensação de estar perto de meus familiares e amigos está mais presente nestes dias. Como escrevi nos dois primeiros relatos sobre o mundo da uva e do vinho, tanto o Rio Grande do Sul como o oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná devem muito ao desapego de almas desbravadoras e insatisfeitas com a situação que lhes era imposta. A mim coube fazer o percurso contrário de meus avós que deixaram as terras dobradas da serra gaúcha e se estabeleceram mais precisamente em Pato Branco.

Quando participo das tradicionais festas daqui me pergunto não é a churrascada que identifica o povo rio-grandense? Pois bem é, mas por aqui, seja dia ou noite, frio ou calor em uma típica festa de interior o prato principal é a sopa de capeletti (o conhecido agnholini). Regado a muito vinho, a festa acontece da mesma forma que antigamente.  Na mesma pergunta sobre o churrasco me vem à mente. Em quantas festas como esta meus avós participaram? Será que foi em um lugar como esse que se conheceram, ou será que foi durante o período da safra da uva e dos festejos feitos para agradecer a colheita?

A pisa virou artigo para turista
Devemos levar em conta que toda a manifestação cultural, seja ela a mais simples ou rebuscada, todas podem servir de atrativo turístico, basta saber explorar. E saber estimular o turismo é algo que por aqui a cada dia se aperfeiçoa mais. Não há como falar da pisa da uva sem se mencionar o merendim (tradicional lanche italiano). Realizado à sombra das videiras, o mernedim era composto de copa, queijo, salame, pão colonial e, claro, muito vinho. E desta forma trabalho árduo desde a enxertia, a amarração até a colheita, tinha todos os dias o momento do descanso. Depois de colhidas as uvas, temporariamente armazenadas em cestos de vimes trançadas, o esforço de um dia era depositado em tinas de madeira, para o início da pisa dos grãos.

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Homens, jovens e adultos se reuniam para desprender os bagos (grãos) e assim após muito trabalho dos pés descalços e coloridos separar o suco do bagaço e produzir o mostro (suco da uva em início da fermentação). Cantigas animavam as longas noites de trabalho, e ao som de gaitas e violões o vinho se encorpava. Atualmente o trabalho que por anos foi dos varões de bermudas e que marcavam os pés das mais variadas tonalidades de cores é atração turística para homens e mulheres, jovens e adultos que desejam reviver o antigo costume. Assim como grandes vinícolas e grupos de hotéis promovem visitações a seus parreirais, as comunidades promovem nesta época festas que recordam os antigos costumes.  Ao se aproximar o período da retirada de quilos e mais quilos da safra que levou um ano para ficar maturada, tudo se festeja.

A vida é celebrada ao se degustar vinhos, sucos e espumantes, a memória histórica é relembrada com a revitalização do merendim, com direito a caracterização de pessoas com roupas típicas, adornados por suas sportas (sacolas) e seus chapéus à base de treccia (trança) de palha de trigo. Jogos como a tradicional mora que é jogada em dialeto talian (dialeto vêneto rio-grandense), e se resume em acertar o número do conjunto de dedos da mão que os adversários sucessivamente apresentam sobre a mesa, batendo os dedos sobre ela. São motivos de descontração e alegria para turistas oriundos das mais distintas regiões. Neste período, nonos e nonas se recordam com maior vivência dos anos passados e saudosos acolhem a todos como se da familia fossem. Para isso basta gostar de ouvir história.

Marcilei Cristina Rossi, jornalista formada em Pato Branco, hoje atuando na imprensa de Bento Gonçalves (RS). E-mail: marcileirossi@gmail.com

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