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Francisco Beltrão
domingo, 15 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Paulino Capelin Fachin: 35 anos na presidência de uma cooperativa de sucesso, a Coasul

Nos documentos consta que Paulino Capelin Fachin é natural de Mangueirinha, porque naquele tempo, 15 de abril de 1950, São João era apenas uma vila do interior de Mangueirinha. Seu pai, Pedro Facchin Filho, era de Lagoa Vermelha (RS). Depois que casou com Armelinda Capelin, em Maximiliano de Almeida (RS), vários da família migraram do Rio Grande do Sul. Uns se estabeleceram em Derrubada Alta, próximo à atual cidade de São José do Cedro (SC), e Pedro se estabeleceu em São João das Guavirovas, o atual município de São João.
Paulino casou com Marlene Lúcia Rech, com quem tem três filhos. Evandro Carlos, o mais velho, morreu em acidente de carro, aos 21 anos. Débora Joana, farmacêutica-bioquímica, trabalha no controle de qualidade do frigorífico da Cooperativa Agropecuária Sudoeste Ltda (Coasul). E Paulo Roberto, engenheiro agrônomo, é o gerente do Departamento Técnico da Coasul. Netos são dois, Júlia e Evandro, filhos da Débora.
Paulino é cooperado há 42 anos. Em 1975, passou a atuar como conselheiro fiscal da Coasul e em 1976 elegeu-se presidente, cargo para o qual foi reconduzido nas eleições de 1979, 1982, 1986, 1989, 1992, 1995, 1998, 2001, 2004, 2007 e 2011. Já completou 35 anos e vai a 38 em 2014, quando termina esta gestão. É um recorde da região e, talvez, nacional. Na assembleia deste mês de março, que pela décima vez reconduziu-o ao cargo, ele foi homenageado. E na semana seguinte concedeu esta entrevista para o Jornal de Beltrão.
  

JdeB – O senhor nasceu onde mora até hoje. Qual é a sua primeira lembrança aqui de São João?
Paulino – A gente tem muitas lembranças que marcaram a vida. São João era distrito de Mangueirinha. A lembrança que eu tenho do meu pai foi que ele lutou pra desmembrar Chopinzinho de Mangueirinha. Porque era muito distante, não havia comunicação, transporte. Meu pai foi o primeiro vereador. Lá onde meu pai morava, a dez quilômetros aqui da cidade, até Chopim, dava 30 quilômetros, e eu com 6 anos de idade já ia na garupa do meu pai que ia na reunião da Câmara de Vereadores em Chopinzinho. Coisas assim que marcaram.

JdeB – O senhor que queria ir?
Paulino – É. Eu ia porque eu era muito curioso. Eu que insistia pra ir, porque era uma viagem muito gostosa, que ia com tempo, nada de apuro. E era o que tinha de transporte na época.

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JdeB – Como foi a vinda do seu pai, do Rio Grande pra cá, ele que é pioneiro de São João?
Paulino – O meu pai foi servir o Exército já casado, porque ele tinha um documento com uma diferença de idade de dois anos. Na vida real ele tinha 20 anos, no documento, tinha 18. Na época era Lagoa Vermelha que ia fazer registro de nascimento, meu avô esperou nascer pra fazer uma viagem só (risos) e isso dificultou pra ele que foi servir casado. Ficou 18 meses no Exército e quando a guerra acabou, liberaram os casados, então meu pai retornou pra Maximiliano de Almeida, onde ele morava, e aí, como os caras contrataram uma carroça, chamavam de terno de mula, que trazia mudança pro Paraná. Vieram as duas mudanças, de Maximiliano de Almeida até Chopim. E de Chopim vindo pra São João não havia estrada e iam de carroça, e se instalou aí no interior do município, já com quatro filhos pequenos, depois teve mais nove filhos, são 13 irmãos na família. Muito difícil na época. O município era Mangueirinha. Eu sou o sétimo filho. Meu pai tinha um certo grau de estudo, ele lutou pra desmembrar Chopinzinho de Mangueirinha, inclusive foi o primeiro vereador, presidente da Câmara. Da mesma forma ele lutou pra que São João desmembrasse de Chopim. E Chopim se tornou um município grande, pegava hoje Saudade, Sulina, São João, São Jorge. Com o desmembramento, São João ficou com São Jorge, Sulina, também o município ficou grande. E meu pai também foi vereador aqui, presidente da Câmara, depois se despediu da vida política, realizou o sonho que ele tinha.

JdeB – Mas ele tinha um grande fã, o filho?
Paulino – Com certeza. A gente era família grande, muito unida, sempre se deu muito bem e sempre lutou na atividade da agricultura, criação de suínos, era o que se fazia.

JdeB – E o que o senhor lembra de quando começou a trabalhar?
Paulino – Nós íamos na escola com sete anos, a escola dava dois quilômetros e meio, e se ia a pé, de manhã. Na época todo mundo ia pra roça, por divertimento ajudava em alguma coisa. Se ia na escola, retornava e à tarde ia junto com a família, que tinha um outro sítio, longe, cinco quilômetros, ajudar a carpir, puxar água, fazer alguma coisa. Iniciamos a vida na agricultura.

JdeB – O senhor ajudou a derrubar mata também?
Paulino – Ah, sim, com certeza. Naquela época a gente empreitava também com a peonada, pra derrubar e roçar, mas a gente fazia também. O maior trabalho que a gente fazia era o chamado cultivado, onde se lavrava, se plantava milho, feijão, mandiocal pra porcada, e o básico era o milho pra porcada, porque o que se vendia mais era suínos. O pai até levava suínos daqui tocado até no interior de Laranjeiras (do Sul), onde tem a BR 277 que liga pra Cascavel, e levava esses porcos pra Ponta Grossa.

JdeB – Uma das culturas que a cooperativa mais recebe hoje é a soja. O que o senhor lembra das primeiras vezes que viu soja em sua vida?
Paulino – A gente plantava soja no meio do milho. Quando o milho estava bonecando, se dobrava o milho e se plantava soja. E acabava colhendo essa soja pra depois colher o milho. E a soja tinha que ser torrada pra tratar o suíno, porque se tratasse in natura, causava o chamado macaquinho no porco, descadeirava o porco, enfraquecia os ossos, ficavam as toxinas, e ninguém sabia o que era. No começo se cortava a soja e se tratava como pasto pra porco. Depois se tentou aproveitar o grão, mas cozido, junto com o milho, mandioca e abóbora, causava esse problema de toxina.

JdeB – Na família tinha  muita gente que trabalhava, quanto conseguia produzir?
Paulino – Nós produzíamos muito milho, nós plantávamos 50, 60 alqueires por ano, que era cultivado em roça de mato e capoeira. O milho era empaiolado e tratado a espiga pro suíno. Engordava-se o porco no mangueirão, inicialmente era porco solto, depois tinha um mangueirão grande com um criatório, e mangueiras menores onde a gente engordava o porco tratado com milho espiga e mandioca. Era esse o processo. Quando estava gordo, naquele tempo se castrava as porcas, elas paravam de ter o cio e se engordava os machos e fêmeas. Meu pai era um grande criador de suíno, um dos maiores aqui da região. Quase todos criavam suínos porque o grão praticamente não se vendia, depois o feijão que se vendia, mas trigo era pro consumo, mais tarde se vendia alguma coisa, mas o grosso mesmo era milho, mandioca, abóbora, com essas coisas era tratado porco.

JdeB – Assim como tem roubo de carro hoje, no seu tempo de garoto tinha roubo de cavalo?
Paulino – Bom, a gente que é católico, eu leio a Bíblia e aprendi o catecismo, a gente sabe que isso é bíblico, o ser humano tem esse defeito, e sempre existiu no mundo e no Brasil e em toda parte existe isso.  Aqui nós tivemos gente que roubava arriamento que chamavam, sela, os pelegos, etc. E essa pessoa foi presa e o inspetor fez ele andar de quatro pés encilhado. Foi num distrito, aqui. Então ninguém se arriscava a cometer um furto porque essa pessoa era discriminada por toda a sociedade.

JdeB – E como foi o Paulino como aluno?
Paulino – Eu, na verdade, aprendi a ler, escrever e fazer conta em casa. Porque o pai tinha um costume de jantar no período em que os padres pediam que era pra rezar o terço o mês inteiro, se rezava o terço todos juntos, e aí quem ia na escola, meus irmãos e minhas irmãs mais velhas, tinha uma hora marcada pra estudar, fazer as tarefas que o professor dava. Os outros meus irmãos ficavam brincando, e eu ficava atento naquelas leituras, naquelas contas, e com isso eu aprendi em casa. Quando eu fui pra aula, com 7 anos, era diferente dos outros alunos, porque eu entrei no primeiro ano, tinha cartilha. Os outros alunos estavam aprendendo número 1, 2, 3, a letra A, B e C e eu já sabia, já sabia todos os números, as quatro operações, as contas, e já sabia ler e escrever, então eu fui um aluno diferenciado, porque a gente aprendeu em casa e o pai que coordenava. Na época tinha um quarto ano, quinto ano primário, o pai tinha um grau de estudo equivalente ao professor, ou até mais, o professor às vezes tinha o quarto ano só. O pai completava aquilo que o professor fazia na escola, dava os temas pra fazer em casa, o pai era o segundo professor, isso facilitou pra gente aprender.

JdeB – E o senhor estudou até que série?
Paulino – Eu estudei até o quinto ano primário, depois eu casei e aí que iniciei o ginásio. E quando a gente se casou, já iniciou a mecanização da lavoura, já diferente, iniciamos eu e a minha esposa o ginásio, mas eu não consegui concluir por causa da atividade na agricultura. Na verdade, o estudo na sala de aula a gente não concluiu completamente, a gente não teve o ginásio em sala de aula, a gente tentou fazer o segundo grau, mas nada assim, porque a gente teve uma formação de ginásio, de 2º grau completo, tudo quebrado por causa do tempo. A gente ia na aula não com o objetivo de ter o certificado na mão, mas sim pra aprender, isso eu estudei a vida inteira.

JdeB – O senhor se considera um bom leitor?
Paulino – Eu gosto muito de ler. Inclusive, na minha vida, depois que eu entrei na cooperativa, fiz mais de uma centena de cursos específicos, como administrar uma empresa voltada ao cooperativismo. Já no início, quando eu iniciei a vida aqui no cooperativismo, senti a falta do estudo, e aí já fiz cursos de 30 dias junto com funcionários de outras cooperativas do Estado, em Curitiba, e lá tinha uma professora chamada Maria Henriqueta, de São Paulo, que naquela época nem se falava em computador, mas ela já tinha um computador na cabeça, entendia tudo de contabilidade, como administrar uma empresa e como planejar. E essa senhora era já de idade e eu tinha vinte e poucos anos, ela já tinha 60 anos, era considerada, hoje se tivesse viva seria ministra da Fazenda, porque era inteligente mesmo. E ela se encantou pela Coasul, deu muito apoio, fiz muitos cursos com ela, como planejar uma cooperativa no curto, médio e longo prazo, analisando os passos que eram dados, e aprendi muito com essa pessoa e com uma centena de outros cursos que a gente fez.

JdeB – No seu tempo, estudar era mais difícil?
Paulino – Na época não se dava muita atenção ao estudo, até porque era difícil ter professores que tivessem mais que o primário completo, o quinto ano, no interior não se encontrava. O que que os agricultores faziam, o filho tem que aprender muito bem ler e escrever, e principalmente fazer conta, ser esperto, fazer conta de juro, conta de metros quadrados e terra, fazer tudo direitinho. Eu sei hoje fazer uns cálculos de metros quadrados de terreno, até de cabeça, o que às vezes um aluno de 2° grau tem que procurar, se bater pra fazer esse tipo de cálculo, cubar madeira, isso tudo a gente não precisava nem pegar o lápis pra fazer, e era estudo que se dava na época, mais do que isso não era possível, com exceção dos que iam estudar em seminário.

JdeB – E a que o senhor atribui a conduta firme da Coasul?
Paulino – Eu diria um patrimônio que a Coasul tem, que às vezes não é observado por muitos, é o patrimônio maior que o patrimônio físico, que é o bom relacionamento que sempre teve entre a diretoria e seu quadro social, a comunicação, o diálogo e a franqueza que houve da diretoria com o quadro social. Não se dava passo nenhum sem envolver o cooperado, pra que ele tivesse conhecimento no que se ia investir, de qual seria seu risco, e se viesse dificuldade enfrentar junto. O nosso quadro social sempre foi fiel à cooperativa, assim como todas as diretorias que nos acompanharam, aqui nós tivemos nossos ex-presidentes Izaltino Rossi, Rafael Brusamarelo e José Antônio Scholtz, que foram pessoas que construíram o alicerce da cooperativa em cima desta fidelidade, desta honestidade e transparência junto ao quadro social. E outro fator que também contribui muito para o crescimento é o nosso time de funcionários. Nós pensamos na época como esta empresa podia prestar o melhor serviço ao quadro social, com o menor custo: é treinando esse pessoal. Nós estamos desde o início dando curso ao nosso funcionário. Sempre. Tem que dar cursos, evoluindo em conhecimento, estudar, fazer cursos pra produzir mais com o menor custo. Esse foi o grande passo, o que talvez destacou perante as outras cooperativas que fracassaram. Um bom relacionamento e a fidelidade do quadro social, e treinamento e também a colaboração dos nossos funcionários que se dedicaram durante toda a sua vida. Nós temos funcionários aqui que entraram até antes que eu na cooperativa e se aposentaram, e tem uns que estão até hoje trabalhando conosco e sempre se preparando. Eu considero o seguinte: administrar uma empresa hoje, quem é o presidente e tal, é que nem um técnico de futebol, ou um técnico de qualquer esporte. Como se faz pra ganhar com um time de futebol, ou de vôlei, é o preparo físico e exercício de seus atletas. E eu, com base nisso, aprendi muito com os cursos que fiz, era dar cursos de conhecimento e especialização ao nosso quadro social, ao nosso quadro de funcionários, não deixei eles pararem nunca de fazer curso, repetir curso pra que eles pudessem nos ajudar cada vez mais a administrar essa empresa, o que não é fácil. Na época não havia faculdade, quando muito um segundo grau aqui no Sudoeste. Mas nós buscamos, além da pessoa ter o segundo grau, cursos específicos pra administrar uma cooperativa. Tudo isso contribuiu para o crescimento e continua até hoje.

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