Cai a taxa de analfabetismo
A taxa de alfabetização melhorou na última década na região Sudoeste. O índice de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos caiu de 13% no ano 2000 para 8,9% em 2010, segundo revelou o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os 42 municípios da região reduziram o número de pessoas que não sabem ler nem escrever de 51.599 para 35.072.
O país ainda tem 9,6% da população com 15 ou mais anos analfabeta. Apesar da queda de quatro pontos percentuais -no Censo de 2000, o índice era de 13,6%- quase 14 milhões de brasileiros (13.940.729) ainda não sabem ler nem escrever. Dos 35.861 analfabetos da região Sudoeste, 21.161 estão em domicílios da área urbana e 13.911 na área rural.
Ex-analfabeto
O catador de papel Altair de Oliveira começou o ano 2000 fazendo parte do primeiro grupo, mas chegou em 2010 como uma pessoa alfabetizada. Ele ainda encontra dificuldade para ler algumas palavras, mas já sabe ler e escrever um bilhete simples, o que no Brasil o eleva à condição de letrado.
Altair nasceu e cresceu na comunidade de São Domingos no interior de Marmeleiro. A escola mais próxima ficava distante 8 km. Como na época não existia transporte escolar, ele e mais dois irmãos não estudaram quando eram jovens. O catador só sentou em um banco escolar com 32 anos, cansado de sofrer preconceito e de carregar uma carteira de identidade que o identificava como analfabeto.
Quando veio para Francisco Beltrão a maioria das oportunidades de trabalho exigia pelo menos a formação no ensino fundamental. “Hoje eu tenho um trabalho que considero digno, mas acredito que estaria melhor se tivesse estudado”, pondera. Altair participou do programa Paraná Alfabetizado, no qual aprendeu o alfabeto completo, e agora freqüenta as aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) no bairro Pe. Ulrico.
O autônomo admite que sentia vergonha de dizer que era analfabeto e encontrava dificuldades nas funções mais simples do dia-a-dia. Nos finais de semana, Altair e os dois filhos – 8 e 10 anos – têm um programa diferente. Ele se torna aluno dos próprios filhos que estão matriculados no ensino regular. “Eu achei um quadro negro no lixo e trouxe para casa. O meu piá mais velho escreve e eu e o mais novo vamos lendo”, confessa. Seu projeto é terminar o ensino médio, fazer a carteira de habilitação e conseguir um emprego melhor.
Qualidade
A doutora em Educação e professora de Alfabetização do curso de Pedagogia da Unioeste, Benedita de Almeida, lamenta que os programas de alfabetização dos governos atualmente se preocupem em ensinar apenas a parte técnica e motora. Para a educadora, este processo é mais amplo e deve produzir elementos de desenvolvimento psicológico. Nove meses é um prazo muito curto para aprender a ler. “É como se nós mecanicamente começássemos a aprender o alfabeto árabe e chinês. Não se pode apenas decorar os sinais, é preciso entendê-los como signos para que eles façam sentido.” Na opinião dela, o período mínimo de alfabetização de uma pessoa adulta deve ser de dois anos, porque se pode considerar apenas o sistema alfabético, mas também o ortográfico. “O que se percebe com o resultado destes programas governamentais é que as pessoas podem até saber decifrar, mas dificilmente irão elaborar um discurso escrito com um mínimo de complexidade.”
Conforme disse, o processo de alfabetização não peca apenas quando se aborda a questão do aprendizado de adultos. Ela lembra que nas escolas há muitos problemas de interpretação.
Benedita lembra que na década de 1950 o conceito de alfabetização do Brasil considerava cidadãos alfabetizados aqueles que sabiam escrever o próprio nome, havia interesses políticos na época uma vez que analfabetos não podiam votar; por volta de 1970 passou a se considerar alfabetizado quem conseguisse escrever um bilhete simples e após os anos 1990, com o processo de democratização da escola, alfabetizado é aquele que passou pela escola, independentemente de ter um aprendizado real. “O sistema de ensino não dá conta de preparar bem os professores, o livro didático torna-se o grande orientador, e muitos alunos que têm dificuldade e precisam do professor, acabam não aprendendo.”
EJA
Elci Menin, coordenadora de Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Francisco Beltrão, explica que a procura é maior pela alfabetização por idosos. O município tem atualmente 10 turmas de 120 alunos acima de 15 anos. O sistema é dividido em duas etapas. Na primeira, os alunos fazem a 1ª e 2ª série e na fase seguinte 3ª e 4ª série.
“Não usamos o método tradicional, como eles são adultos precisamos trabalhar bastante coisas da atualidade, principalmente leitura de jornais, que são assuntos com os quais eles estão familiarizados através de rádio ou TV, e facilita a assimilação. Só desta forma conseguimos fazer com que eles frequentem a sala de aula regularmente.”
Ela salienta que são muitos os relatos de pessoas que conseguiram mudar de vida a partir da alfabetização. “É conquista da independência. Coisas simples como assinar um olerite, fazer operações matemáticas básicas fazem a diferença no cotidiano desta