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Francisco Beltrão
terça-feira, 17 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

A ‘pistola’ usada para vacinar assustava a população

A ‘pistola’ usada para vacinar assustava a população

Arnaldo Busato vacinando a sobrinha Luciana Martins de Oliveira, no final da década de 1960, em uma campanha de prevenção contra a varíola.

Talvez até entenda o motivo pelo qual o destino me reservou a ser o primeiro a relatar aqui. Todos meus amigos e familiares sabem da forte ligação que tive com meu pai. Jamais me esquecerei daquele fatídico dia 1º de março de 1980, no Hospital Nossa Senhora das Graças. Meu pai estava tendo mais uma hemorragia. A última. Presentes, eu e seu enfermeiro e fiel escudeiro, o Laurindo. Segurou na minha mão e apertou. O Laurindo foi correndo chamar o médico, salvo engano, o dr. Calixto. O médico chegou, saí da sala, fui para casa. Mais tarde, a cruel notícia. Depois de 11 anos de luta contra a doença, meu pai tinha falecido.

Pois bem. Mas não vou ficar aqui me lamuriando. Como tudo na vida, existem os bons momentos também. Vou relatar um fato engraçado e pitoresco, ao mesmo tempo. Eu tinha, na época, 9, 10 anos de idade; era por volta de 1969, 70, 71, por aí. Adorava viajar com ele, em suas andanças pelo interior do Estado. Era tempo de campanha de vacinação, na época inúmeras doenças e moléstias assolavam a população paranaense e brasileira. Um verdadeiro batalhão de gente era arregimentado! Meu pai e sua laboriosa equipe percorriam vários municípios paranaenses em poucos dias, vacinando e imunizando milhares de pessoas, isso quando o tempo permitia. Sim, quando o tempo permitia, pois quando chovia, era um verdadeiro caos. O Paraná, na época, possuía em sua grande maioria estradas de chão, puro barro vermelho. Não precisa nem comentar, mas para se locomover de carro, no barro molhado e escorregadio, só com carros com pneus acorrentados, quem lembra isso? Mesmo assim, atolava-se facilmente, e não poucas vezes que tínhamos de dormir no carro. Era tempo de heróis!

Bom, em uma destas viagens ( não me recordo qual a imunização, se era varíola, meningite, enfim), aconteceu de meu pai ter mais uma de suas brilhantes presenças de espírito. Primeiro, tenho de falar da “pistola”! Não lembro se era para vacinação da varíola. Sim, a seringa de vacinação naquela época era uma verdadeira pistola! O povo olhava o tamanho “daquilo” e saía literalmente correndo! Foi então que, numa dessas ocasiões, meu pai, verificando o receio das pessoas, começou a discursar: “Não tenham medo! É para o bem de vocês! E para provar que não dói, vou vacinar meu próprio filho, na frente de todos!” E, eu, com aquela cara de paisagem, “mais uma vez” era vacinado (claro que ele só encostava a pistola no meu braço, eu, nessas alturas, já tinha sido imunizado). E dava certo! A criançada, o povo, ia se achegando, e perdiam o medo da “pistola”. Lembro que ele repetiu o “modus operandi” em vários municípios naquela ocasião.

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São vários os “causos”, mas esse, particularmente, me envolveu. A presença de espírito dele era marcante, ainda mais numa época difícil e de poucos recursos. Mas a maior virtude do meu pai era, sem dúvida nenhuma, a humildade. Mesmo alcançando certa projeção no cenário político na época, jamais alterou seu jeito simples de ser, talvez isso explicasse seu carisma. Saudade eterna!

 

*Paulo é um dos quatro filhos do ex-deputado Arnaldo Busato, que teve importante atuação no Sudoeste e faleceu em 1º de março de 1980.

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