
Por Almir Girardi – Segunda-feira, 2 de maio – Nós levantamos às 7h30, chovia muito forte. Liguei o rádio na Educadora AM, de Beltrão, para ouvir os programas do Luiz Carlos Maciel e do Almir Zanete. Após o café, fui tratar os porcos, as galinhas caipiras e os terneiros. Entrei em casa, pois a chuva era muito forte. A Leonides limpou a casa e fez o almoço. Às 12h, almoçamos. O tempo continuava chovendo. Após o almoço, tiramos um cochilo. Levantamos, eu preparei o chimarrão. Às três da tarde, o tempo deu uma estiadinha. Então, fomos tirar jabuticaba. Os pés estão bem carregados. Tiramos alguns quilos de jabuticabas e logo começou a chover forte novamente. Entramos em casa e fizemos um lanche. Tomamos café e comemos bolinho, os populares ‘cueca virada’. Depois, tratei os animais, tomamos banho e jantamos. Temos duas televisões. Cada um tem a sua. Eu só gosto de assistir futebol. Hoje, nem liguei a minha TV. O tempo tava muito feio e o sinal da internet era muito ruim. A Leonides assistiu as novelas e o Jornal Nacional. Às 10 da noite, fomos dormir. O tempo ainda continuava chovendo. Eu sou natural aqui de Rio Tuna, Beltrão. Nasci dia 4 de maio de 1957 e sempre trabalhei na roça. Fiquei órfão dos meus pais, o seu Dorvalino Artuzo e Maria Eli Oligini, com 2 anos. Em 1976, fui servir o Exército em Brasília. Fiquei lá durante um ano.Tive uma experiência muito boa, me arrependi por ter saído. A Leonides também nasceu no Tuna, no dia 6 de junho de 1965. Morávamos a mil metros de distância, um do outro. Participávamos na mesma igreja, da Capela Santa Luzia de Rio Tuna. Lembro que foi em 1982, num domingo, à tarde. Eu e meus amigos fomos a pé num matinê na comunidade da Vista Alegre, Eneas Marques. Daqui de casa, dá quatro quilômetros de distância.
A Leonides também foi nesse matinê com suas amigas. Quem estava animando o matinê era o Grupo Musical Super do Embalo. Eles eram da comunidade de Pinhalzinho, Eneas Marques. Logo que cheguei na festa, convidei a Leonides para dançar um xote e não paramos mais de dançar. Ficamos juntos a tarde toda. Voltamos para casa a pé e de mãos dadas, junto com nossos amigos. Fui, com a Leonides, até perto da sua casa mas não cheguei. Ela morava com a sua mãe, Terezinha Picoloto, e mais sete irmãos. O seu pai, Alesio Picoloto, era falecido. No domingo seguinte, fui até a casa da Leonides e pedi para sua mãe, dona Terezinha, se poderia namorar. A dona Terezinha aceitou. O nosso namoro era somente nos sábados, à noite, até as 10h, e nos domingos, à tarde. Fazia três anos que estávamos namorando. Então, vendi 35 sacos de feijão preto e comprei todas as tábuas pra fazer uma casa de 7×9, na Marcenaria União. Peguei só tábuas de angico e cabriuva. Deixei a casa pronta. As coisas, na época, eram bem difíceis. Os produtos da roça valiam pouco e para fazer um casamento, gastava bastante. Era sábado, dia 19 de dezembro de 1985, cheguei para namorar na casa estava só a Leonides e alguns de seus irmãos. Dona Terezinha tinha ido pousar na outra filha, a Juraci, que morava na comunidade do Rio do Mato, com seu esposo. Aproveitei a oportunidade já que estávamos sozinhos e convidei a Leonides para fugir comigo naquela noite. Ela topou. Fomos morar na casa que construí. A Leonildes só levou algumas mudas de roupa e nada mais. No domingo, cedo, um dos irmãos da Leonides foi avisar dona Terezinha que Leonides tinha fugido comigo. No domingo, ainda antes do almoço, já fomos avisados que a dona Terezinha queria falar com nós dois e que ela estava muito braba. Na época, as coisas eram bem rígidas. Eu não fiquei com medo mas a Leonides sim. Então, na quarta-feira, à tarde, chamei o meu primo, Vagner Artuzo, que veio com o trator e carretinha e fomos até a casa da dona Terezinha falar com ela. Chegamos lá e percebemos que ela não estava muito contente. Só falou que nós não precisávamos ter feito aquilo. Mas, enfim, ficou tudo certo.
Daí, carregamos o enxoval e a máquina de costura da Leonides, no trator, e voltamos para a nossa casa. Um mês depois, casamos no Civil, no Cartório do Rui Aguiar, na Vista Alegre, em Eneas Marques. Na mesma semana, no fim da tarde de sábado, nos casamos no religioso, na Paróquia Cristo Rei, do Bairro da Cango, em Beltrão. A celebração foi feita pelo padre Afonso de Nijs. E para comemorar, fomos jantar na Marabá, só eu, a Leonides e as quatro testemunhas. No começo, a nossa vida foi muito sofrida. Trabalhamos muito, no pesado, com junta de boi, carroça, enxada, foice e machado. Em 1989, nasceu a nossa filha, a Susana. Em 1996, começamos trabalhar com gado de leite. As nossas vacas não eram das melhores, mas foram elas que nos fizeram permanecer no sítio. Senão, tínhamos vendido tudo e ido morar na cidade. Hoje, estamos tranquilos e muito felizes, ainda moramos no mesmo sítio e na mesma casa da época. Conseguimos nossas aposentadorias, arrendamos as nossas terras e me dou muito bem com dona Terezinha. Hoje ela mora no Bairro Pinheirinho, em Beltrão, e está com 85 anos.