Instituição nascida em Verê busca melhorar a qualidade de vida de quem produz orgânicos na região e também dos consumidores, com opções de alimentos saudáveis.

Em 2001, 16 anos atrás, produtores rurais de Verê já tinham interesse em comercializar produtos orgânicos. Eles cultivavam frutas, legumes e verduras sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos, com um cuidado especial para a qualidade, oferecendo para a população local uma opção saudável e saborosa.
Na época os produtores orgânicos eram poucos em Verê, um “punhado” que formava o “grupo de sacolas” – agricultores que reuniam-se para montar sacolas de produtos diversos e comercializar na cidade. Com o tempo, o pequeno grupo cresceu, virou uma associação, instalou uma loja e, agora, com orientação do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa), de Verê, transformou-se na Cooperativa dos Produtores Orgânicos e Agroecológicos do Sudoeste do Paraná (Coopervereda).
Estruturação do setor
Segundo Jhony Luchmann, coordenador do Capa, a Coopervereda nasceu em maio de 2015, “constituída para legalizar o processo de comercialização, já que como associação eles não podiam ter lucro. Na cooperativa, eles podem comercializar e ter uma margem de sobras”.
Como veio de uma história estabelecida, a cooperativa já iniciou com 40 sócios, uma estrutura básica de agroindustrialização, a loja em Verê, para comercialização de produtos, e atendimento a projetos governamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – além disso, os produtores já contam com selo de produção totalmente orgânica, certificado pela Rede Ecovida.
A partir de tudo isso, o projeto foi crescendo. “Ele começou aqui em Verê, mas com o objetivo de integrar os produtores, dar uma força para todos que cultivam produtos orgânicos aqui no Sudoeste”, comenta Jhony, destacando que agora a cooperativa já conta com cooperados de Verê, São Jorge D’Oeste, Itapejara D’Oeste, Cruzeiro do Iguaçu, Ampere e Coronel Vivida. Também agricultores de Francisco Beltrão, Capanema e outros municípios já estão procurando se filiar à instituição.
Hoje a cooperativa está presente também em uma feira de produtos orgânicos e agroecológicos na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Pato Branco, que ocorre semanalmente às quintas-feiras das 9:30 as 18 horas. Além da feira, seus produtos – certificadamente orgânicos – podem ser adquiridos na loja da Coopervereda, no Centro de Verê, pela página da cooperativa no Facebook e pelo telefone (46) 3535-1779. “Estamos buscando ainda mais alternativas de mercados para comercialização”, relata Jhony, e acrescenta que outras faculdades, além da UTFPR, também se interessaram em conhecer a iniciativa.

A falta de cultura para consumir orgânicos
Para a presidente da Coopervereda, Roseli Meirelles da Silva, que é agricultora na Linha Verezinho, e também para o vice-presidente, Salvador Agostinho Zanetti, agricultor da Linha Brasília, o que falta hoje é uma conscientização do consumidor da quantidade de agrotóxicos que consome no seu dia-a-dia com produtos convencionais.
“O produto orgânico é bom para quem está consumindo, é um alimento mais saudável, porque o alimento que eu comercializo e vai para a cooperativa, vai para os colégios, para a feira, é o mesmo que eu consumo e que eu dou para as minhas filhas”, afirma Roseli. Ela acrescenta: “Normalmente o que a gente vê nas lavouras convencionais é que, numa roça de feijão, por exemplo, o agricultor planta tudo de uma forma, com o agrotóxico, menos no pedacinho que ele planta separado que é para ele consumir, que daí não vai veneno”.
Um desafio com os produtos orgânicos é estabelecer um processo de comercialização justo. “A cooperativa não compete com os preços de mercado, ela tem sua própria lógica de preços, e esses preços algumas vezes podem estar na mesma faixa, acima ou até mesmo abaixo dos preços praticados pelos mercados. Porém, o mais importante é que o consumidor precisa considerar que são alimentos saudáveis, precisamos repensar nossa alimentação e diminuir o consumo de alimentos carregados de agrotóxicos”,pondera Jhony.
O Programa de Análise deResíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Anvisa, identificou em alimentos produzidos entre 2013 e 2015 que 1,11% das amostras monitoradas possuem um risco agudo à saúde, enquanto 19,7% possuem irregularidades que a deixam insatisfatórias, com resíduos não autorizados ou acima do limite permitido.
Roseli ainda avalia: “O grande proprietário, que tem um terreno maior, dificilmente produz alimento diversificado. Geralmente é soja e milho. Então já pensou chegar num ponto de só ter isso e o ser humano ter que comer ração?”- Por outro lado, ela considera que se o consumidor passar a consumir mais produtos orgânicos, forma-se toda uma cadeia de produção no setor, que alimenta muita gente.
“Gera uma demanda que abre espaço para mais famílias participarem da cooperativa e aumentarem sua renda. Aí a renda desses produtores orgânicos geralmente fica no município e as lojas, o comércio, todo mundo usufrui disso”, comenta ela. Salvador completa: “Imagina só a quantidade de produtores que ficaria na roça, produzindo alimento de qualidade, se tivesse essa conscientização”.
Cooperativa é a força do agricultor agroecológico
Jhony Luchmann avalia que hoje não está difícil de produzir alimentos orgânicos – existem orientações e métodos que podem ser utilizados. “O difícil é produzir um volume e escala para acessar os canais de comercialização, então a cooperativa está aí para isso, para ser a força do agricultor agroecológico, porque com o coletivo se produz com mais facilidade volume e escala de produção, possibilitando a comercialização. ” Hoje a Coopervereda é a única cooperativa de produtores orgânicos no Sudoeste do Paraná. Isso é uma referência – para o coordenador do Capa, a cooperativa é pioneira e começa a fortalecer esse segmento, proporcionando um comércio de alimentos mais saudáveis e solidários.