Hoje o município planta e produz menos de um terço do que há 40 anos.

Por Leandro Czerniaski – Nos anos 60, a região de Francisco Beltrão se destacava nacionalmente pela produção de feijão. As famílias de posseiros iam tendo a garantia de propriedade das terras e viam no grão uma oportunidade de produzir alimento para subsistência e para vender o excedente. Tudo muito rudimentar. “O feijão era uma das culturas que faziam parte da expansão de produção, sob o princípio de que o clima e o solo eram propícios para a cultura, além da mão de obra farta das famílias de colonos com número de filhos expressivos (entre sete a dez filhos). Foram introduzidas diferentes variedades de feijão, como o chumbinho, taquara, cavalo e carioca.” Quem afirma é o engenheiro agrônomo Marcos Rovani, que pesquisou a influência do feijão na estrutura econômica e social do Sudoeste.
A mecanização do solo, abertura de novas áreas e o incentivo governamental para expandir a produção permitiu um incremento no cultivo. Da região, saía boa parte do feijão consumido no Brasil. E do cereal, veio a oportunidade para tornar Francisco Beltrão mais conhecida. O Rotary Club foi quem montou o projeto da primeira Fenafe (Festa Nacional do Feijão), encampado pela Prefeitura, que adquiriu parte da área do atual parque de exposições e destinou 20 mil cruzeiros para realizar o evento. Boa parte da preparação contou com o trabalho de voluntários.
“Me perdoem todos que fizeram algo por Francisco Beltrão, mas eu considero a Fenafe o marco que distinguiu Francisco Beltrão de colônia para uma cidade que queria crescer”, disse dr. Mário Vargas, então presidente do Rotary Clube, num evento da instituição há alguns anos. A Fenafe mostrava que o Sudoeste poderia ser conhecido pela sua economia e não somente como uma região de conflitos de terra.
Área e produção encolheram
A Fenafe permitiu popularizar tecnologias e técnicas de cultivo e o feijão ia ganhando produtividade e espaço, junto com a soja e o trigo. A cultura ajudou a impulsionar a região, gerar renda e desenvolver o cooperativismo, mas aos poucos deixou de ter a relevância das décadas anteriores.
O Deral/Seab (Depertamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento) tem dados da produção de feijão a partir de fins dos anos 1970. Em 1978, por exemplo, a safra principal de feijão ocupou uma área de 5,8 mil hectares e que chegou a oito mil em 1986. Atualmente, a primeira safra teve apenas 100 hectares cultivados no município. O plantio da chamada safrinha é que passou a ser o principal: pulou de cerca de 300 hectares nos anos 80 para dois mil em 2018. Porém, a área plantada nas duas safras reduziu cerca de 70% e a produção que já passou de oito mil toneladas hoje é de pouco mais de duas mil.
Família Vandresen cultiva o grão há 70 anos

As primeiras lavouras de feijão eram cultivadas fazendo covas com enxada. Depois, a máquina conhecida como matraca (plantadeira manual) passou a ser utilizada. A colheita era à mão e as vagens (com o pé inteiro do feijoeiro) dessecadas colocadas sobre um pano para serem malhadas no mangual. Isso antes da trilhadeira e da ceifa.
O produtor Wilmar Vandresen, de Nova Concórdia, é desta época. Sua família cultiva feijão há cerca de 70 anos na mesma propriedade e acompanhou a evolução da produção. “A tencologia melhorou muito, tanto pela substiuição da mão de obra por máquinas quanto pela qualidade das sementes. Antes a gente passava o Natal e primeiro de ano colhendo, se o tempo estivesse bom, e quando deu as enchentes de 83 o [Rio] Marrecas represou o levou embora todo o feijão colhido que estava secando. Trabalhar com feijão é assim: tem épocas boas, que dão dinheiro, e outras que não se tira nem pra despesa”, comenta o agricultor.
Wilmar lembra que, quando começou a trabalhar na lavoura, o feijão era plantado de forma consorciada. Quando as plantas estavam “lourando”, fazia-se uma carreira de milho ou arroz entre as fileiras. A família já chegou a cultivar 50 hectares e nesta safra 2021/2022 dedicou apenas 14 ha para a cultura.
Apesar de considerar a planta essencial para a alimentação – e esse é um dos motivos pelo qual continua cultivando o feijão –, Wilmar diz que o cereal vem perdendo espaço porque outros grãos se tornam mais rentáveis e menos sensíveis ao tempo. “Hoje o safrinha dominou e mesmo assim não se produz tão bem, considerando o valor que vai colher em uma área, quanto o milho ou a soja, ainda mais nestes últimos anos com os preços nas alturas.”

Safrinha virou a principal
Na região, houve uma inversão na produção de feijão. A safra “das águas”, plantada entre agosto e setembro, hoje é somente para subsistência, enquanto a maior parte dos produtores de grandes áreas opta pelo plantio no que seria a safrinha, em janeiro ou fevereiro. É o que detalha o técnico agrícola do Deral, Antoninho Fontanella: “Os produtores perceberam, principalmente nos últimos dez anos, que o período da segunda safra é menos arriscado, apesar de ainda ter algumas adversidades climáticas. Beltrão já chegou a ter uma produtividade de 1.800 kg/ha, mas também teve anos de colher 200, 300 quilos nesta época”. O excesso ou falta de chuva e ocorrência de granizo são os principais fatores do tempo que prejudicam a safra de feijão. O ciclo rápido da cultura (cerca de 90 dias entre o plantio e a colheita) joga a favor e torna o feijão uma alternativa entre cultivos principais, como o milho e o trigo/aveia.