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Francisco Beltrão
segunda-feira, 23 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

Em seminário do Capa de Verê, especialistas alertam para o alto grau de contaminação do solo e dos alimentos

“Se a planta é completa em nutrientes, o ser humano é saudável física e mentalmente”, diz pesquisadora Carin Primavesi.

Em seminário do Capa de Verê, especialistas alertam para o alto grau de contaminação do solo e dos alimentos.

E falam da importância da micro vida no solo. 

Foto: Assessoria

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O Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa) trouxe um time de especialistas de grande qualidade em meio ambiente, saúde e alimentação para comemorar os 40 anos da entidade e debater alternativas para o modelo de produção de alimentos atual. O seminário Comida Boa na Mesa começou quarta-feira, e encerra-se amanhã.

De acordo com Jhony Alex Luchmann, coordenador do Capa/Núcleo Verê, a organização está completando quatro décadas de resistência, de sonhos e de lutas na caminhada em prol da agroecologia. “Realizar o seminário aqui contribui para o fortalecimento da agroecologia em nosso território, trazendo um contraponto ao modelo químico destruidor de agricultura, que tanto tem avançado”, disse.
Ontem pela manhã, Claudia Petry, Ph.D em Paisagismo e Agroecologia, professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), proferiu palestra com o tema Agroecologia e Comida Boa na Mesa. Ela apresentou dados preocupantes sobre o nível de contaminação dos alimentos.

Claudia comentou que “se o sal demais faz mal, se o açúcar demais faz mal, é lógico que o agrotóxico faz mal. Se mata uma vida, vai matar várias. Partindo do princípio do sal e do açúcar, todo produto químico de síntese vai ter interferência no organismo.”

Ela também falou sobre a grande onda de pessoas com alergias a soja, trigo e leite. “Tira isso aí você melhora. Não tem algo de errado?” Em seguida ela mostrou imagens de um estudo sobre a vida selvagem em um ambiente onde foi usado glifosato, com fotos de animais deformados.

“Eu, como agrônoma, aprendi em 1988 que herbicida era pra matar planta invasora, não pra botar na comida. Hoje o trigo está com quase 50 vezes mais de glifosato. Trigo é planta invasora ou é o pão sagrado de Cristo? Que absurdo é esse! Quem é que disse que herbicida tinha que passar em comida?”
De acordo com Claudia, mesmo abaixo da dose de veneno permitida estão surgindo problemas nas pesquisas, como tumores em ratos.
Há estudos com o mesmo herbicida que mostram danos no fígado e hipotireoidismo.

Claudia Petry em palestra para os técnicos na manhã de ontem no Thermas Água do Verê.

Foto: Niomar Pereira/JdeB

 

 

A importância da micro vida no solo

JdeB – À tarde, Carin Primavesi Silveira, pesquisadora de Neurociências e Agroecologia, falou sobre “Agroecologia, Saúde Pública e Planetária”. Ela fez uma explanação sobre a necessidade de deixar a planta crescer saudável.
Em sua análise, a vida superior depende da microvida no solo. “O solo vivo fornece todos os nutrientes pra planta. E o ser humano bem nutrido não apresenta doenças físicas e mentais.”
Carin explica que um solo deficiente não deixa as plantas formarem açucares complexos e proteínas, deixando-as vulneráveis às pragas. “As práticas incorretas de manejo de solo impedem que ele forneça os nutrientes corretos para as plantas.”
A pesquisadora alertou que o uso excessivo de veneno provoca a desertificação do solo. “Só a ecologia dará alimento para o futuro. Para fazer um centímetro de solo em clima tropical é necessário 500 anos, em clima temperado é preciso 1.000 anos.”
Carin observa que o ser humano precisa de 90 elementos químicos todos os dias para se manter saudável. As plantas com deficiências minerais não conseguem suprir essa demanda. “Estraga a microbiota do intestino. E não é só o veneno, é qualquer droga da farmácia. O sistema imunológico começa a trabalhar com deficiência. Não defende mais o organismo das doenças. Surgem inflamações crônicas de baixo grau, que não percebemos. Demora anos, mas quando entra na célula aparecem doenças graves como o câncer”, comentou.
A saída, segundo ela, é só uma. Comer comida orgânica, sem qualquer tipo de veneno. Carin também alerta para o alto consumo de açucares. “Esse consumo excessivo vai tamporar o sangue, forçar o sangue tirar cálcio de outros tecidos. Depleta [esgota] o cromo [mineral], desmineraliza outras partes do corpo. Baixa o PH do sangue e suga vitaminas B1 e B2. Você vai fazer um exame de sangue e seu PH está normal, mas é que ele está suprindo retirando de outras partes do corpo.”

 

 

40 anos de luta pela agroecologia

O Capa surgiu em 1978, em Santa Rosa (RS), com o nome de Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor. É uma organização da sociedade civil, vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, com atuação nos três estados do Sul do Brasil. Jhony afirma que a entidade surgiu num momento de mobilização da Igreja Luterana que estava inconformada com o grande êxodo rural.

O Capa nasceu no momento em que e agricultores familiares eram “expulsos” do campo, pelo modelo de desenvolvimento chamado “Revolução Verde” – um pacote de modernização baseada na produção agrícola em grande escala, no uso intensivo de agrotóxicos e na mecanização, rompendo com a lógica da agricultura familiar.
“Os pastores e as pessoas da igreja ficaram inquietas diante daquela realidade. Então nasceu o Capa como missão às famílias do campo. Apesar disso, passados 40 anos, vivemos um novo momento de mobilização. E esse seminário vem justamente pra isso, pra discutir a alta concentração de agrotóxicos nos alimentos e uma forma de mudar, para que o consumidor possa comer bem e o produtor produzir e viver em harmonia com a natureza”, Jhony Alex Luchmann, coordenador do Capa em Verê.

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