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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Ervateiras buscam retomar crescimento da produção, após redução na pandemia

Durante a pandemia, consumo de chimarrão e tereré foi questionado por autoridades da saúde, que alertavam para risco do uso compartilhado de bombas. Foto: Juliam Nazaré

O ato de tomar chimarrão vem sendo passado de geração em geração na família de Márcio Oleszczyszyn, de 24 anos. Tradição comum para milhares de paranaenses. Entretanto, o estudante de Medicina Veterinária – adepto também ao tereré – diminuiu drásticamente o consumo da bebida durante a pandemia.


“Nos encontrávamos na época com um vírus sendo disseminado de forma tão rápida, que o costume de sentar em grupos para tomar um bom mate ou até mesmo sozinho foi se tornando cada vez mais inviável, sempre se embasando nas recomendações dos órgãos de saúde competentes”, relata o morador de Realeza.


A diminuição da demanda de erva-mate entre 2020 e 2021 foi sentida pelas ervateiras. O empresário Eduardo Corrêa, da Erva-Mate Mangueirinha, precisou frear a produção. “Foi um período difícil. Agora estamos retomando, mas com dificuldade pra encontrar matéria-prima, porque as matas nativas estão sendo derrubadas pra plantar lavouras de soja”, lamenta.

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Os irmãos Pedro e Eduardo Corrêa comandam a Erva-Mate Mangueirinha, com produção para chimarrão e tereré, no Município de mesmo nome – sudoeste paranaense. Foto: Juliam Nazaré

Queda de 40% no consumo em 2021


Embora a reportagem não tenha encontrado dados da produção paranaense no período, um levantamento do Sindicato da Indústria do Mate do Rio Grande do Sul (Sindimate-RS) – Estado onde o chimarrão está intensamente enraizado à tradição local – mostra que, durante o primeiro semestre de 2021, o consumo de erva caiu 40%.


Além da orientação das autoridades para que as pessoas não compartilhassem as bebidas – o que para alguns adeptos faz o chimarrão ou o tereré perder o sentido –, outros fatores influenciaram na queda. Entre eles, a crise financeira, que diminuiu o poder de compra da população e fez com que esta focasse em itens de necessidade básica, conforme apontou a reportagem do jornal Zero Hora. “As incertezas da pandemia frearam o consumo dentro da minha própria casa e de conhecidos também – pessoas que não tinham o hábito, mas que rotineiramente consumiam, deixaram o costume”, conta Márcio.

Cleverson Reolon, empresário de Marmeleiro, à frente da Erva-Mate Reolon. Foto: Niomar Pereira/JdeB


Para Cleverson Reolon, à frente da Erva-Mate Reolon, de Marmeleiro, os reflexos notados desde a pandemia aos poucos vão se dissipando e a procura pelos produtos tem permitido uma nova guinada na produção. “Chegamos a vender muito mais do que hoje, mas na pandemia reduziu muito. O ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) pedia pro pessoal não compartilhar o chimarrão e o tereré e muita gente diminuiu o consumo. Teve quem parou.”

Diversificar pode ser solução


Um dos caminhos para impulsionar o crescimento – que também diversifica a indústria ervateira – é investir em outros produtos derivados do mate. Cleverson Reolon se prepara para apostar em energéticos à base da planta.


Investir em outros derivados é um dos caminhos apontados pelo especialista em comércio exterior e novos negócios para o mate brasileiro Heroldo Secco Júnior, de Cascavel. Segundo ele, as mudanças no costume de beber as infusões eram previstas desde 2010.
“A opção do consumo individual, não só pela higiene, mas também pela praticidade, foi apontada como tendência. Por volta de 2015, os preços dispararam. As pessoas diminuem o tamanho da cuia. Isso afeta o mercado.”

Especialista em comércio exterior e novos negócios para o mate brasileiro, Heroldo Secco Júnior aponta caminhos para indústrias paranaenses: “Devem ter chimarrão tradicional, com cuia comprida, mas pensar num padrão menor”


No catálogo das ervateiras, além de manter os produtos tradicionais, conforme Heroldo, será fundamental explorar outros formatos. “Devem ter chimarrão tradicional, com cuia comprida, mas pensar num padrão menor. O consumidor tem uma série de restrições, em razão do custo de vida no Brasil, então ele vai encontrando formas de satisfazer uma tradição. Ter um ‘pura-folha’ é necessário para a linha de produção…também a opção de pacotes de 250 gramas, por exemplo.”


Heroldo sugere o investimento em “blends” prontos de tereré com canudo de plástico biodegradável – o que vai de encontro a quem não quer fazer uso compartilhado da bebida, além de ser ecologicamente correto. A inovação, conforme o especialista, começou a ser explorada nos últimos anos, mas vem sendo capitaneada por outras empresas, que não as indústrias ervateiras.

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