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Francisco Beltrão
sábado, 14 de junho de 2025

Edição 8.226

14/06/2025

Estados Unidos: Agricultor sabe onde está aplicado cada centavo na sua propriedade

 

“Em qualquer propriedade que você ia, via silos de concreto ou de metal, dois ou três silos até no meio da lavoura, e eles ganham a mais pra armazenar na propriedade e não ter tanta fila, não ter tanta demanda nas cooperativas e nas compradoras de grãos.”

 

 

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Jorge trouxe várias informações dos EUA.

 

Os agricultores norte-americanos adotam muitas tecnologias, gerenciam bem suas propriedades e têm muitas informações de histórico de produção, sem a preocupação de se mostrar para as pessoas ou vizinhos. Em resumo, estão muito à frente em vários aspectos num comparativo com os agricultores brasileiros. Estas são algumas das constatações que Jorge Delazari expôs ao JdeB, em entrevista sobre sua viagem aos Estados Unidos, no mês de setembro. 
Médico veterinário, agricultor e presidente do Sindicato Rural de Marmeleiro, Jorge integrou uma comitiva de agricultores e dirigentes de sindicatos do interior do Paraná que estiveram em setembro visitando propriedades rurais, cooperativas e empresas dos Estados Unidos e do Canadá. 
A missão técnica foi promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep).

JdeB – Como é a sua análise sobre essa viagem de conhecimento, de troca de informações, nos Estados Unidos e no Canadá?
Jorge – Os produtores americanos estão muito à frente em alguns quesitos em relação a nós, brasileiros, e eu diria empatados em outros. Eles estão muito à frente, principalmente, em questão de gestão da propriedade. Eles sabem exatamente onde é empregado cada centavo de dólar na lavoura, e sabem gerenciar isso. Outra coisa, existem produtores lá que estão com 70% da safra de 2015 comercializada, com preços bons, e alguns que fala em até 30% da safra de 2016, nesses preços, enquanto os outros que não atentam tanto pra isso vão pegar esses preços novos, que são um desastre em relação ao que era há um ano ou dois atrás. E eles também têm dificuldades geralmente diferentes das nossas, pouca coisa se assemelha, mas não é tudo um mar de rosas, só que eles sabem lidar após as dificuldades, eles se programam, têm um histórico de produção, um histórico de local da propriedade, em termos pluviométricos, em termos de neve, do começo do século passado, têm um histórico produtivo, desde que começaram essas tecnologias como os transgênicos, há vinte, e vinte e cinco anos atrás. Têm tudo apontado o quanto que produziu, o que aconteceu pra eles conseguirem cada vez melhorar, e quando acontece um ano atípico, eles sabem qual a melhor ferramenta pra melhorar a produtividade, da área e da produção, daquele ano. Outra coisa que eles sofrem é a janela de plantio, que é muito curta, principalmente por causa do frio, porque quando começa a esquentar, eles têm no máximo três semanas pra plantar tudo e no final do ciclo têm duas a três semanas pra colher tudo, senão vem a neve e atrapalha. Então, eles fazem tudo conforme o programa, tudo bem planejado, pra aproveitar essa janela, não têm uma chance igual nós temos aqui, de ter mais tempo pra cultivar, pra colher e ter duas safras. Porque lá é uma safra por ano, então ela tem que ser bem feita e ponto final.

A adversidade e a concorrência com o mercado externo, e também na busca de conhecimentos, fizeram com que eles alcançassem o status de grande produtor?
Exato, as terras deles que a gente visitou são fantásticas, estão entre as melhores do mundo e, logicamente, isso é um fator determinante pra eles serem bons produtores, porque essas terras antigamente eram alagadas, o mérito deles é de ter drenado e cultivado. Eles souberam trabalhar, começar os cruzamentos de milho pra uma maior produtividade; eles souberam fazer melhoria no soja, transgenia, tudo visando isso. E outra coisa que os favorece é a questão de logística, tem trilho de trem pra todo lado, o trilho leva até um centro grande perto ou até as balsas do Rio Mississipi, que escoa tudo por balsas, coisa que a gente tem potencial aqui e não é explorado. Lá também no centro-oeste não tem o problema de relevo como temos aqui para a construção de ferrovia. Lá, qualquer vila tem uma ferrovia pra escoar a safra, pra trazer combustível, trazer fertilizantes, então facilita muito pra eles isso e barateia o custo de produção. 

O custo da nossa produção, por ser o Brasil um país basicamente rodoviário, é bem maior que o deles?
Exato. Eles alegavam que, principalmente em função dos arrendamentos lá estarem muito caros, as commodites deles não seriam competitivas, mas por terem uma estrutura muito organizada, eles conseguem diminuir alguns custos, principalmente em transporte e em embarque dos navios – que se está programado, eles conseguem cumprir, diferente daqui que depende de muitos fatores, congestionamento nos portos, de tempo bom, porque não tem nem as esteiras cobertas aqui. Eles conseguem nos ganhar nisso, o nosso custo de terra aqui é mais baixo, a nossa mão de obra é muito mais barata do que a deles, então temos alguns fatores que nos tornam competitivos, mas quando saiu da fazenda e dependeria do Estado fornecer a parte dele, aí a gente perde completamente essa nossa vantagem.

Nos Estados Unidos, o pessoal também tem investimentos de propriedade para armazenar o seu grão, diferente do Brasil, que ainda está engatinhando nisso.
Exato. Em qualquer propriedade que você ia, via silos de concreto ou de metal, dois ou três silos até no meio da lavoura, e eles ganham a mais pra armazenar na propriedade e não ter tanta fila, não ter tanta demanda nas cooperativas e nas compradoras de grãos. Muitos deles trabalham com isso, até armazenando pra outros, ou armazenam pra uma época que seria entressafra e venda com preços melhores. 

E a questão do subsídio, porque se batia muito na tecla que a agricultura do Brasil era subsidiada, como é que vocês avaliaram isso?
Eles têm subsídio, mas não abriram muito o jogo. O que deu pra entender é que, principalmente na garantia de preço mínimo, lá realmente funciona. Eles até não souberam explicar de forma muito exata o cálculo, porque o cálculo do governo americano é muito complicado, todo ano eles fazem um cálculo pra qual será o custo mínimo da produção e fazem uma retrospectiva de cinco anos da média de produtividade daquela propriedade e se, por acaso, der seca, granizo, ou qualquer intempérie que prejudique o produtor, o governo vai garantir 85% da produtividade, ao preço mínimo. Não acontece igual aqui, de em um ano você colher bem e conseguir capitalizar e no outro ano você quebrar, não conseguir nem pagar os custos de produção, eles trabalham mais tranquilos que nós aqui.

Você falou que eles acompanham tudo, eu gostaria que você traçasse um paralelo entre Brasil e Estados Unidos, porque aqui o produtor não coloca tudo na ponta do lápis ou no computador, e isso acaba tendo reflexos na produtividade e no ganho do produtor.
Aqui tem melhorado bastante, os produtores mais competitivos têm se destacado, e lá também até existem esses arrendamentos, porque tem alguns produtores que não foram competitivos e tiveram que sair do mercado, acabam arrendando terra pra quem produz melhor, e esses vão se dedicar a outra produtividade. Mas também eles sabem que tantos mil dólares e tantos centavos custou por hectare pra ele produzir tantos mil quilos de soja ou o milho, eles levam muito controlado, não têm essa inflação nossa que está voltando. Eles sabem quanto a lavoura vai custar do começo ao fim. Eles têm pouca praga, aqui não tem nem como prever uma ou duas aplicações a mais de cada produto químico, coisas que lá eles não precisam, então eles sabem que vão gastar com esse, aquele ou aquele outro produto,  não vão ter que entrar de surpresa pra combater tal praga. Essa é uma vantagem deles. No geral, entre safra e tudo, eles conseguem ter uma gestão mais eficiente, porque eles têm esse histórico de produtividade e da propriedade, tudo anotado há muitos anos, e eles seguem sempre controlando muito o gasto. Deu pra ver  a questão de infraestrutura, não tem nada de querer fazer o negócio bonito, lá tem que ser funcional, eles não gastam desnecessariamente num galpão pro maquinário, em mangueira pro gado, em cerca, eles fazem um negócio que funcione, se não precisa fazer de cimento, eles fazem de madeira e eles economizam nisso, coisas que aqui o povo parece que quer fazer pra mostrar pro vizinho que fez uma estrutura melhor.

E a questão ambientalista no Brasil: existe essa divergência entre os ambientalistas e os agricultores em relação à conservação de solo, da mata ciliar. Que impressões vocês tiraram da visita?
A região que nós visitamos não era uma região que tivesse mata anteriormente, era uma região, que eles falam, de pradarias, de capim alto, mas o que acontece lá é o seguinte: eles têm muitos canais de drenagem de solo, porque era pantanoso, ou canal pra escoar neve e eles conservam esses canais, a vegetação desses canais e recebem do governo pra conservar. Diferente daqui, que você tem que conservar, tem que replantar, tem que cuidar, averbar 20% da propriedade e deixar sem uso, perdendo esses 20%. Lá não, eles recebem pra manter isso, que é extremamente justo para o produtor, porque ele tem que deixar de produzir naquele local. Então está mais do que certo ter uma recompensa por isso.

Nos Estados Unidos, o milho é um grande foco. Eles plantam soja em grandes quantidades também, mas o milho eles usam muito para a produção animal?
Tem bastante consumo animal, pra gado, suíno, aves, mas tem bastante consumo humano e também tem bastante consumo pela indústria do etanol, cerca de 40% do milho deles é produzido para a indústria do etanol.

Em 20 anos o Brasil aumentou muito a produtividade de milho.
É, a produtividade aqui aumentou bastante em algumas regiões, como Guarapuava. Mas este ano, como eles estavam falando lá, tudo correu extremamente bem, o clima foi perfeito e a produtividade vai ser algo absurdo, fala-se em 363 milhões de toneladas. Uma das fazendas que nós visitamos, que as lavouras não tinham ainda começado a ser colhidas, o produtor estava estimando em torno de 280 sacas de milho por hectare. É algo que aqui é praticamente impensável. O soja este ano também estava muito bom, vimos mais de uma lavoura com expectativa de produção entre 90 e 100 sacas por hectare. A média do milho dá pra dizer que onde nós visitamos ia ficar em torno de 180, 200 sacas por hectare, coisa que aqui algum ou outro produtor que desponta e consegue tirar isso, em algum talhão, não é em média geral. O milho deles é extremamente produtivo, tem praticas diferentes de cultivo e tem muito resultado. O milho deles é fantástico mesmo.

E a soja é de um foco menor, eles destinam bastante para exportação?
É, exportação, pra consumo animal, um pouco de consumo humano, óleos e tal, eles são o maior produtor do mundo, há um ano ou dois atrás, o Brasil encostou, mas foi devido a uma quebra gigantesca lá, por causa de seca. Mas este ano eles vão produzir bem, do ano passado pra este eles vão produzir um Paraná a mais de soja, só pelo fato de ter corrido tudo bem (previsão para o Paraná é de 17.160 milhões de toneladas).

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