Na primeira etapa serão atendidas 13 comunidades com menores índices de desenvolvimento humano. Mas o programa deve ser ampliado em novas etapas.

No primeiro evento público de maior porte autorizado por decreto municipal do prefeito Cleber Fontana (PSDB), ontem, após a queda do número de casos, internamentos e mortes pela Covid, em Francisco Beltrão, foi lançado o Programa de Desenvolvimento Rural (Proder).
Inédito, o programa pretende, na primeira etapa, com prazo de dois anos de execução, atender 330 pequenas propriedades rurais de 13 comunidades com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) menor que outras do município. Durante a solenidade realizada no Espaço da Arte, o prefeito Cleber ressaltou que o município de Francisco Beltrão vai complentar 70 anos de criação em 2021. Desde seu início, a preocupação das gestões tem sido a manutenção das estradas rurais. Para o prefeito, o poder público precisa ir além do serviço de conservação e melhoria das estradas.
Cleber lembrou, também, que houve queda no valor agregado de impostos nos últimos dois anos devido à suspensão dos abates de perus, pela BRF. “Isso nos afetou muito”, reconheceu. A proposta do Proder é estimular o empreendedorismo e os investimentos em atividades agropecuárias (grãos, leite, aves, peixes e suínos). O programa foi discutido ao longo do primeiro semestre pela administração municipal e sua implantação começa na próxima semana. O investimento público será de R$ 1 milhão, durante dois anos. Para a execução dos serviços de assistência técnica e orientação às famílias interessadas foram contratadas duas empresas: Alberton Escavações e Terraplanagem e Juan Gabriel Edler Pacheco. Mas o prefeito ressaltou que toda a estrutura do município vai auxiliar na execução do Proder.
Números preocupantes
Antes do lançamento do programa foi feita uma pesquisa com as 330 propriedades. Os resultados são preocupantes. A renda das famílias está abaixo do que as autoridades da administração municipal imaginavam.Cerca de 45% das propriedades pesquisadas não têm aposento, 22% tem uma aposentadoria e 31% duas aposentadorias. “Muitas têm como principal renda o aposento”, ressaltou o prefeito.
Em relação à sucessão familiar, 40% não têm perspectiva e 59,6% têm. Em 25% delas não há atividade socioeconômica, 29% têm agricultura e pecuária leiteira, 11% pecuária leiteira e 7% agricultura e pecuária, além de outras atividades com menor número de famílias. Em termos de arrecadação: 27% não possuem Bloco do Produtor Rural e 72% possuem. Este dado pode influenciar em termos de aposentadoria dos proprietários dos imóveis, na arrecadacação de impostos e no retorno para o município, que hoje é o segundo maior em produção agropecuária do Sudoeste com cerca de R$ 947 milhões no ano-safra 2020.
O estudo apontou que 49 famílias pensam em investir em atividade leiteira e 25 em agricultura – estas duas atividades de maior número de respostas. Em 70 unidades produtivas a renda mensal total é de R$ 5.565, em 60 R$ 1.388. “Dá pra melhorar”, frisou o prefeito. A pesquisa apontou que parte destes agricultores familiares tem interesse em investir em suas propriedades.Pelo programa, as famílias serão incentivadas a definir projetos que possam alavancar a renda e a produção. Elas terão orientação, por exemplo, de como encaminhar a licença ambiental dos projetos no IAT, assessoria na elaboração de projetos de financiamento e assistência técnica.
Pedido de apoio
O prefeito agradeceu a equipe que coordenou a pesquisa – Antonio Cesar Soares, Alexandre Pécoits, Claudimar de Carli, Vaneza Carneiro e cinco estudantes da Unisep. Aproveitou a presença de representantes das instituições de ensino – Unisep, UTFPR e Colégio Agrícola – e de crédito – Cresol, Sicoob, Sicredi e Banco do Brasil – para enfatizar a importância do apoio técnico e financeiro às famílias. “É uma aposta que estamos fazendo. Pode dar errado, mas se nós não começarmos, não vamos saber”, sublinhou.
Líderes de comunidades rurais elogiam iniciativa
Os presidentes das associações de produtores rurais do Rio 14 e Rio Gaiola, respectivamente Osnir Kirchheein e Sadi Machado, elogiaram a iniciativa da administração municipal de Francisco Beltrão, em lançar o Programa de Desenvolvimento Rural (Proder). E o secretário municipal de Agricutura, Claudimar de Carli, destacou que se trata de um programa de inclusão social para o interior.
Claudimar parabenizou o prefeito Cleber Fontana “por realizar este grande sonho dele, que é um projeto inovador, de inclusão social, onde aquelas propriedades menos privilegiadas terão a oportunidade de se transformarem”.
O secretário acrescentou que “agora, com essa equipe técnica das empresas terceirizadas, a partir do diagnóstico realizado, nós vamos perguntar: você quer subir no barco, vamos embora. Se você quer produzir fruticultura, vamos começar, vamos fazer uma análise de solo bem feita, usar uma muda adequada, dar apoio na comercialização que muitas vezes emperra porque o produtor, muitas vezes não tem o feeling comercial. Ações coletivas serão tomadas pra que a gente consiga transformar esse sonho numa realidade, que é transformar as propriedades mais produtivas”.
Osnir Kichheein, do Rio 14, destacou que a iniciativa do poder público “é importante porque vem apoiar as pequenas propriedades, para as pessoas que, às vezes, estão meio que acomodadas. E com esse programa é importante que ele volte a se interessar a produzir e incentivar os próprios filhos a permanecer na propriedade, que tenha uma sequência da família lá. E é um projeto que traz viabilidade, vai ajudar bastante”.
Na comunidade do Rio 14, conforme Osnir, havia muitas granjas de aviários para produção de aves e de pecuária leiteira. Na pecuária leiteira muitos desistiram e hoje a maioria se dedica à produção de grãos e aves. Sadi Machado, do Rio Gaiola, também está esperançoso. “Espero que as coisas dêem certo porque a agricultura tá penando. Precisa do incentivo pra ver se segura um pouco o pessoal lá.” Ele acrescentou dizendo que muitos têm interesse na produção de leite “só que tá complicado: não tem preço e o custo da produção tá muito caro. Eu tinha leite, tinha porco, lavoura e piscicultura, eu tô com os porcos e a lavoura, terminei com as vacas e os peixes e não sei se não vou ter que parar com os porcos também”.
Ato de lançamento foi bem representativo
O encontro de lançamento do Proder, que foi aprovado pela Câmara de Vereadores em fevereiro e sancionado em abril – Lei 4.800/2021 -, pelo prefeito Cleber Fontana, reuniu representantes das instituições de crédito – cooperativas e bancos -, de assistência técnica (Seab, IDR, secretarias de Agricultura e Meio Ambiente), ensino técnico e superior, e entidades – Sindicato Rural, Sociedade Rural e Sindicato dos Trabalhadores – e associações de produtores do interior, de feirantes e piscicultores, agroindústrias e secretários municipais e vereadores.