Ainda não se sabe qual será a reação entre os consumidores.

JdeB – O preço do litro de leite no Brasil saiu de um dos mais baixos do mundo para um dos mais altos num prazo de seis meses. Esta situação se deve à cotação do dólar, principal moeda utilizada nas transações comerciais entre os países, à queda na produção da matéria-prima, em 2021, e a previsão de continuidade de retração em 2022. A informação é de Ronei Volpi, da Câmara Técnica do Leite, do Ministério da Agricultura e Pecuária. Ontem, no auditório do sistema de cooperativas de crédito Cresol, em Francisco Beltrão, começou uma série de seminários regionais do Conseleite.
O evento foi bem representativo, com as presenças do presidente Sindicato das Indústrias de Laticínios do Paraná (Sindileite-PR) e do Conseleite, Éder Desconsi, dos professores Vânia di Adario Guimarães e José Roberto Canziani, da UFPR, e coordenadores dos trabalhos do Conseleite, diretores de laticínios e associações de produtores, técnicos e diretores da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-PR), Sindicato Rural de Beltrão e da Associação de Secretários Municipiais de Agricultura da Região (Assema), além de Ronei Volpi, vice-presidente do Conseleite-PR e da Câmara Técnica do Leite, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O Conseleite-PR, formado pela UFPR, setores industrial e dos produtores de leite, analisa os preços praticados pelas indústrias do setor e divulga frequentemente os preços de referência do produto no Paraná. Neste começo de ano, o conselho decidiu realizar seminários regionais para apresentar a metodologia adotada para o levantamento mensal do valor de referência para o leite. Além de Francisco Beltrão, foram confirmados eventos em Missal (10/5), Marechal Cândido Rondon (10/5) e Toledo (11/5), no Oeste; e Umuarama (11/5), no Noroeste.
Aumento nos preços
A professora Vânia di Adario Guimarães explicou porque os preços do leite aumentaram nos últimos dois meses aos produtores e consumidores. “Tecnicamente, o que as nossas análises estão demonstrando que o que está dando sustentação à elevação dos preços é uma oferta menor do produto. Nós entramos nesse período que é o de entressafra no Brasil e no Sul, e geralmente, abril e maio são os meses de menor produção, porque as pastagens de verão já foram e as de inverno ainda não chegaram. A pressão de custos foi muito forte para o lado dos produtores e também ajudou a reduzir a oferta.”
Vânia acrescentou que “do lado consumidor, a situação tá muito difícil, a renda dele caiu, então ele não tem poder de compra. Nós não sabemos o quanto essa reação dos derivados do leite [vai afetar o setor]. Por que que o leite sobe? Porque os derivados sobem. Nós não sabemos o quanto o consumidor vai conseguir absorver essa alta nos preços dos lácteos. Mas, olhando tecnicamente, em princípio, em abril e maio, ainda deve ter uma sustentação de preços por uma oferta menor”.
Ronei Volpi relatou que a pecuária leiteira vive uma situação engraçada. “Estamos enfrentando uma dificuldade enorme na nossa atividade, principalmente por causa dos custos. Tem várias causas. Começando pela pandemia, logo em seguida, houve o aumento exagerado dos nossos custos em relação à soja e milho, as frustrações que tivemos, de safra, de um lado com as enchentes, de outro a seca; então, estamos sim, num momento difícil. Com estas situações, muitos companheiros abandonando a atividade. Mas também outros investindo pesado.”
Ronei entende que os aumentos do produto, “principalmente nos últimos dois meses, têm muito a ver com oferta e demanda, ou seja, nós tivemos uma oferta que caiu bastante e o Brasil é um país até engraçado: nós, em outubro e novembro, tivemos quase o menor preço do mundo no leite, em função do dólar alto, em contrapartida, hoje, nesse momento de abril, nós temos o leite mais caro do mundo, porque aumentou o preço interno e o dólar caiu significativamente. Então, hoje os produtores estão ganhando em torno de 50, 55 ou até 60 centavos de dólar. O que não tem no mundo inteiro.
Ainda é incógnita
Éder Desconsi, presidente da Conseleite-PR e diretor do Laticínio HE Coyote, de Coronel Vivida, fez uma análise sobre o setor e as novas cotações para o leite. “Nós tivemos um começo de ano difícil para o produtor e para a indústria. Nós viemos de um ano difícil para o País e tudo isso reflete no consumo, atravessamos uma seca na área de produção e isso impactou nos volumes [produzidos e entregues às indústrias]. A indústria, nos últimos 60 dias já repassou um pouco de preço para o produtor, justamente porque o produtor está passando por um problema de preço do milho e de soja.”
Sobre as perspectivas de preços, Éder disse: “A gente sempre fala que é uma incógnita, quem manda é o consumidor; teve uma alta agora um pouco expressiva, na cadeia, tanto no leite UHT – longa vida – quanto no queijo, que são os dois principais itens que formam o preço no Conseleite e agora temos que esperar pra ver se o consumidor vai aceitar esse preço. Também temos uma discussão forte com o governo, pois nós tivemos uma retirada de taxas na importação do queijo, um produto que, no Conseleite do Paraná, representa 45% da formação do preço e isso está nos impactando um pouco. Por isso fica difícil de analisar como vai ser o futuro”. O preço ao consumidor, sobretudo o litro do leite longa vida, já chegou ao consumidor: Está acima de R$ 4.
Situação atípica
Sidiclei Risso, secretário de Agricultura de Marmeleiro e presidente da Associação de Produtores de Leite (Aproleite), que coordenou a reunião, também analisou o comportamento dos preços e mercado. “Eu sou novo na cadeia, estou há dez anos, mas os relatos são de coisas nunca vistas, o custo de produção, de incertezas de mercado, de volatilidade, até pouco tempo o preço era recorde negativo e hoje é recorde positivo mundial, chegando a 55 centavos de dólar, mas isso não necessariamente reflete em lucratividade porque o custo de produção também disparou. Então, é importante esse tipo de conferência, para que todo mundo consiga entender e levar para a sua propriedade o que pode ser feito, até onde eu vou com o pé no chão, até onde eu sou mais agressivo com o empreendimento e tentar achar uma luz que está muito nebuloso para todo mundo essa questão do mercado de 2022.”