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Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

”Produzir leite não é uma receita de bolo”, dizem técnicos em reunião com agricultores

Profissionais dizem que a orientação técnica é essencial para uma boa produção.

 

O zootecnista Simão Flores fala aos produtores de leite de Eneas Marques.
Foto: Rubens Anater/JdeB

 

Ontem, 23, a Emater promoveu um encontro com produtores de leite de Eneas Marques, para falar sobre técnicas de produção e o futuro do produto na região. O evento contou com palestras do zootecnista da Emater Simão Flores, pela manhã, e uma tarde no campo. 
Durante a manhã, o evento aconteceu na Câmara de Vereadores de Eneas Marques. Simão falou aos mais de 30 presentes sobre dois temas: o futuro da pecuária leiteira e as ferramentas para medir a eficiência. Além destes, o profissional discutiu mais assuntos, como a necessidade do leite para uma alimentação balanceada, demonstrou o Projeto Leite Emater na região e demonstrou os pontos necessários para um sistema sustentável de produção: a segurança alimentar, o bem-estar animal, a eficiência econômica, o benefício social e o respeito ambiental.
À tarde, a partir das 14 horas, o grupo encaminhou-se para a propriedade de Janir Gomes, na comunidade de Rio Cachimbo, para uma tarde de campo dividida em estações. Pedro Radaeli apresentou propostas de manejo de pastagens, Jorge Acioly falou sobre a qualidade do leite, Simão Flores sobre a nutrição da vaca leiteira e a técnica em agropecuária da Emater Quelimar Saggin apresentou o sistema silvipastoril de pastagem, como “uma forma de melhorar o bem-estar dos animais, com acesso mais fácil à sombra e água e menor estresse”.
O sistema silvipastoril consiste em integrar o espaço do gado e da pastagem com árvores, para um manejo combinado. Quelimar comentou que a utilização do sistema está ascendente na região, conquistando cada vez mais adeptos, mas acrescentou que é preciso que os agricultores busquem assistência técnica da Emater ou do poder público para suas propriedades, para avaliar o melhor caminho a ser tomado. “Produzir leite não é uma receita de bolo. Cada propriedade tem suas dinâmicas que precisam ser consideradas.”
Ela acrescentou que, mesmo com a situação financeira atual e a oscilação recente no valor do leite, é possível fazer dinheiro na produção leiteira – só é preciso buscar a orientação adequada.

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A pecuária de leite em Eneas Marques

 “O leite aqui é muito forte. É a principal atividade do nosso interior, a que mais tem produtores”, afirma o secretário de Agricultura de Eneas Marques, Celso Bernardi. Ele comenta que suinocultura e avicultura também são atividades bastante presentes, mas não suplantam a pecuária leiteira, que produz mais de 30 milhões de litros por ano.
Ainda assim, o secretário diz que a pecuária leiteira do município possui uma grande limitação: “Nosso produtor tem muita resistência em aceitar assistência técnica”. Ele garante que, segundo estudos dos técnicos da Prefeitura, se todos seguissem a assistência adequada, a produção aumentaria ao menos 30%.
“A gente oferece, mas o produtor não implanta, às vezes por custo, às vezes porque não tem vontade de mudar”, comenta, e acrescenta que este não é o único problema. “Às vezes a gente vai lá, convence o agricultor a trabalhar da maneira correta, com manejo de pastagens, e um vendedor de alguma empresa privada, com lábia, vai lá e diz pra ele que tudo que a gente disse não funciona e que é preciso encher o gado com ração e silagem. Aí o agricultor escolhe acreditar nele, que tem interesse de vender seu produto, em vez de acreditar no técnico da Prefeitura que tá indo lá de graça.”
Segundo Celso, esse produtor que esquece o pasto e dá apenas ração e silagem para seu gado acaba não tendo um bom rendimento e reclama do trabalho – produtores que trabalham com pasto, por outro lado, conseguem uma margem de lucro de cerca de 70%. Além disso, ele diz que o produtor que não investe no pasto acaba gerando ônus para a Prefeitura: “Como o gado só come no cocho, ele fica ali, pisoteando no mesmo lugar, e aí o produtor precisa que a Prefeitura leve uma máquina lá para fazer cascalhamento, porque ficou um lamaçal”.
Por isso, Bernardi comenta que o município está avaliando uma forma de atrelar os benefícios da Prefeitura à forma do trabalho, beneficiando os agricultores que trabalharem dentro da orientação adequada.
Para comprovar a eficiência desse tipo de trabalho, ele menciona o produtor José Batistela, da comunidade de Arroio Empossado – o produtor referência do município. Com apenas 15 vacas Jersey, ordenhando de 10 a 12 delas por ano, ele tira uma renda líquida de R$ 5.500. Isso sem silo e fazendo apenas uma ração balanceada em casa. O resto tudo no pasto, em um terreno acidentado, mas trabalhado sempre tecnicamente. Além disso, o produtor ainda seleciona parte das novilhas geradas na propriedade para comercializar, aumentando a renda. “E para tudo isso, ele precisa trabalhar só duas horas pela manhã e duas de tarde.”

 

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